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O Muro dos Covardes
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Eu sou oposição a Bolsonaro. Considero o presidente da República uma ameaça manifesta ao estado democrático de direto e à vida de milhões de brasileiros. Precisa cair. Meu ponto está dado, é claro para todos e pagarei o preço por expressá-lo.

Assim como eu, inúmeras outras lideranças vocalizam sua tomada de posição a favor e contra o governo Bolsonaro. Os grileiros, por exemplo. Estão em polvorosa aguardando a boiada do ministro Ricardo Salles. Como eles, Roberto Jefferson deixa clara sua militância cristã e patriótica em nome do presidente da República. Arthur Lira — incorruptível — também mostrou que tem lado: o dos cargos obtidos junto ao governo federal.

Eu gosto de quem toma posição. Quero olhar nos olhos do meu adversário na hora de enfrentá-lo. A ele não devoto desprezo, mas combate. E sei que lutarão até o fim. Até o último cargo. O bolsonarista é tão apegado às mamatas e benesses quanto o petista mais empedernido. As práticas são as mesmas, o apego é o mesmo. Diferem as cores, o discurso (ainda?), mas a natureza — golpista, demagógica, vagabunda — é só uma. Sei que teremos trabalho.

A aspereza da tarefa, porém, é esperada. Está — tal qual jargão de mercado financeiro — contratada. As reais intempéries, entretanto, não virão de Jair e dos seus. A construção de oposição apresenta nuances, movimentos de avanço e retrocesso. E se dá, como ondas que se sucedem, de acordo com uma lógica muito particular: a lógica da maré política, que ultimamente não está pra peixe.

Oportunistas fazem cálculo. Tribunos irascíveis na época do PT tornaram-se cordeiros em tempos de Bolsonaro. A verve de outrora tornou-se suave como seda, que pretende-se nobre mas também é pano. Procuram — prudentes — enxergar “os dois lados da moeda”; são cautelosos na hora de apontar os erros, mas entusiasmados na hora de celebrar os ... acertos. Dia desses vi deputado do Novo comemorando a “privatização” (que jamais virá) do Banco do Brasil por Paulo Guedes. É tão ridículo, infantil e adesista — tábua de salvação narrativa para eleitorado urbano —que ainda me assusto que se considerem novidade. É a adesão por medo, nova modalidade de covardia. Arthur Lira, ao menos, leva os anéis.

O muro sempre foi o refúgio dos covardes. Eis, porém, que os leões de 2015 — que denunciavam a oposição sonolenta do tucanato — lá se encontram empoleirados, tendo de um lado o governo, onde sempre gostariam de estar, e de outro a oposição, que julgam ser, por contraste, a razão da própria existência. Nasceram para negar o PT, denunciar banditismos e aparelhamentos; morreram negando tais práticas no horizonte que se impõe de verde e amarelo.

A postura impressiona, pois todos pretendem-se líderes. Os líderes da nova política. Mas que sorte de liderança é essa, que foge do combate e procura abrigo no liderado? Pois os covardes do muro — e não me importam suas cores — justificam que “seu eleitor ainda não está pronto”. Contratam analistas de redes sociais, medem pulso no twitter, viram alquimistas de opinião alheia. Mas deixe a esquerda cometer mais um crime ou incoerência! Seu rugido voltará — transmitido com maestria em lives no twitter e instagram. “Vocês destruíram o Brasi!”, eles dirão. Seu verbo é sempre conjugado no passado.

O muro, nesse sentido, é democrático. Existe o herói eficientista, que acha "essa briga toda uma perda de tempo”, enquanto foca — guerreiro solitário — “no que realmente importa para o povo”. Seus projetos nunca passam — mas e daí? Show must go on! Temos também o Guedista de meme — o liberal que topa uma ditadura caso o ministro privatize um trilhão ilusório. Há o sabujo “do momento certo”, que se considera matreiro por “não correr riscos”. Há o empresário egoísta. O jornalista bom de like. O pastor vendilhão.

As desculpas racionais para sua covardia se reduzem no ritmo em que o eleitorado de Bolsonaro — terreno que se pretendem arrendatários —se fragmenta, divide e desaparece. A última pesquisa da XP investimentos demonstrou que 25% daqueles que nele votaram no segundo turno, quase 15 milhões de eleitores, já consideram seu governo ruim ou péssimo. Tal parcela se concentra nos eleitores mais urbanizados e escolarizados — justamente aqueles que o murista procura refúgio. O medo, porém, os paraliza; as curtidas no twitter — humanas ou robóticas — também. Negam ser vertigem a paúra que lhes acomete ao olhar os lados da muralha. Fingem ser conforto.

Que não se enganem. O filho louco do presidente já vira suas armas contra os muristas que não lhe devotam submissão. A vassalagem, no bolsonarismo, tem pouco de nobre. Cedo ou tarde — vencedor ou derrotado — cobrarão o preço daqueles que habitam de forma ilegítima suas plagas eleitorais. E o muro restará caído, soterrando os covardes que julgaram ver mais longe quando, do alto, apenas expunham a própria fraqueza.

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