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Afinal, política e mercado se relacionam?
| Foto: Bigstock

Com o movimento Lula Livre, cresceu de forma relevante o questionamento de investidores (ou potenciais investidores) sobre a relação entre política e mercado. Outros casos recentes, como da Venezuela – este mais longo -, Bolívia, Chile e Argentina também subiram o tom para falar desta correlação em termos das perspectivas econômicas e políticas além do impacto no câmbio. Antes de ir adiante, gostaria de deixar claro que este artigo não traz opiniões políticas pessoais, mas se baseia em dados históricos.

Para entendermos exatamente se existe uma relação, é importante apresentarmos alguns índices, como o histórico de rentabilidade do Ibovespa por tempo de presidente em exercício no Brasil. Outro ponto a ser ressaltado é o retorno do CDI e de ações livres no período. Neste caso buscarei por números de empresas nacionalmente conhecidas e com histórico longo na bolsa de valores. Mais um destaque é que nos últimos anos passamos por grandes transformações, não apenas nacionais, mas também internacionais, mostrando a dinâmica do mercado e como ele foi se ajustando com o tempo.

No Brasil, por exemplo, o volume diário negociado na bolsa, segundo dados da consultoria Economatica, era de R$ 225 milhões em janeiro de 2003. A média desse mesmo volume diário acima de R$ 1 bilhão negociado chegou a ser registrado apenas no início de 2004. Atualmente, esse valor tem sido de R$ 16 bilhões, o que mostra um grande desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro no período.

Durante o chamado governo Lula 1, de janeiro de 2003 a dezembro de 2006, o Ibovespa (composto em média por cerca de 60 a 70 empresas no período) apresentou retorno de 295% na sua carteira teórica. Já no segundo mandato, a performance foi de 56%. Mais tarde, no primeiro período de Dilma Rousseff na presidência, o Ibovespa recuou 28% e no segundo período (contando até 31 de agosto de 2016 – apesar de o processo de impeachment ter começado no início daquele ano) o retorno da carteira foi de 16%.

Com Michel Temer o resultado voltou a ser positivo e nos meses em que ele esteve oficialmente à frente do país, o Ibovespa subiu 52%, até o final de dezembro de 2018. Por fim, no governo Jair Bolsonaro, que se iniciou em 1° de janeiro deste ano até o fechamento de 14 de novembro (data do último pregão realizado até este artigo ser escrito), a performance foi de 21%.

Dessa forma, constata-se que, independentemente do presidente, o mercado no longo prazo se move de acordo com as expectativas e resultados de decisões, seja no campo político ou corporativo. Neste sentido, foi ao longo do governo de Dilma Rousseff que assistimos a maior depreciação no mercado nacional de ações. A crise econômica que trouxe grandes reflexos ao país fez com que diversas empresas de setores variados apresentassem resultados ruins que, por consequência, impactaram seus ativos listados em Bolsa.

Panorama isolado X longo prazo

No curto prazo, ou chamaria até de curtíssimo prazo, diante de tantos fatos e mudanças que temos assistido no dia a dia - em especial nos casos recentes e atuais da América Latina -, fica claro que há impactos na cotação dos ativos. No entanto, no longo prazo essa perspectiva segue outro caminho. No período de janeiro de 2003 a novembro de 2019, o Ibovespa andou 846%, enquanto o CDI (referenciado pela taxa Selic) subiu 585%.

Passando para o lado corporativo, empresas que são conhecidas por histórico de gestão eficiente apresentam resultados ainda superiores, novamente mostrando o porquê do mercado de renda variável fazer a diferença nas finanças pessoais, decorrente da realização de boas aplicações financeiras realizadas. As ações da Ambev, por exemplo, neste prazo desde o “Lula 1” até hoje, apresentou retorno de 1.845%.  Já os bancos Itaú e Bradesco foram ainda melhores, com performance de 2.396% e 2.840%, respectivamente.

Poderia citar outros “n” casos, como Petrobras (+814%) ou Usiminas (775%), mas fica claro no resultado que, apesar de estarem no setor de commodities e de a primeira ser estatal, tiveram resultados inferiores aos anteriormente citados não apenas por esses aspectos, mas também por conta dos resultados apresentados ao longo do tempo.

Por fim, acho importante deixar claro que o mercado de ações não é feito apenas de bons ou excelentes resultados como os mostrados acima, mas se as escolhas forem realizadas de forma correta os números podem ser expressivos. No curto prazo teremos ainda muitos ruídos, que inclusive podem se dar diariamente, e que também serão importantes pela possibilidade da abertura de janelas de oportunidades, se bem aproveitados. Os resultados serão colhidos com foco no longo prazo e na disciplina, pontos essenciais na vida de bons investidores.

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