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Bolsa de valores
Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa| Foto: Rafael Matsunaga/Rafael Matsunaga/Fotos Públicas

Lá se vão algumas semanas desde que o carnaval passou. Aqui no Brasil, toda a crise enfrentada pelos mercados se iniciou naquela data e desde então assistimos a movimentos históricos, como quedas profundas da bolsa e recorde de acionamentos do circuit breaker, interrompendo alguns pregões para tentar acalmar os ânimos dos investidores. Neste momento, apesar de toda a turbulência ainda esperada, nos parece que um período de calmaria chegou. Até quando? Difícil precisar, mas o comportamento aparentemente seria este no curtíssimo prazo, após tanta volatilidade e irracionalidade sobre os fundamentos. No entanto, notícias e fatos sobre o novo coronavírus vindos dos principais países podem mudar essa perspectiva a qualquer momento.

Na China, a princípio, a disseminação do vírus estaria mais contida. Entretanto, o aumento de novos casos surgidos nas últimas horas parece nos trazer a realidade vivida no período de surgimento da epidemia e da descoberta de seu poder de contaminação. Sendo assim, algumas projeções colocam a possibilidade de redução do PIB chinês pela metade em 2020. Nos EUA, o número de pedidos de seguro-desemprego reportados na semana anterior, tido como o maior da série histórica, também mostra um pouco da dimensão de como será a crise a ser enfrentada no lado da economia nos próximos meses.

No Brasil, poucos indicadores econômicos foram reportados desde o início do isolamento determinado pelas esferas federal, estaduais e municipais. No Boletim Focus, do Banco Central, desta segunda-feira (30), a projeção para o país seria uma queda de 0,5% para o PIB de 2020. No entanto, tenho notado divergências enormes entre economistas sobre crescimento da economia para os próximos meses. Podemos afirmar que isso é algo absolutamente natural dado o momento que atravessamos. Neste 30 de março de 2020, não há qualquer autoridade, seja da saúde ou da economia, no mundo que consiga precisar até quando ficaremos no chamado lockdown horizontal. Em live transmitida de forma aberta pelo Youtube pela XP Investimentos no último sábado (28), o ministro da Economia Paulo Guedes mencionou que sabe quando as empresas começarão a “abrir o pico”, mas não tocou no lado da saúde por não haver justamente essa precisão.

No lado da bolsa de valores também vemos o mesmo movimento sobre instituições financeiras mudando as projeções para o Ibovespa ao final de 2020. Antes do início da crise, grande parte do mercado acreditava num período mais animador em que o principal índice local poderia chegar entre 120 mil e 130 mil pontos. Nesta semana, após revisões de target, estamos vendo os números ficarem entre cerca de 85 mil a 95 mil pontos em dezembro.

Apenas esses dois pontos – PIB e Ibovespa – mostram a dificuldade de relatar as perspectivas diante de tal situação. Obviamente o momento exige cautela adicional até que a crise se normalize, mesmo que parcialmente. Mas, acredita-se, por razões óbvias, que os indicadores da economia e de grande parte das empresas possivelmente deverão continuar se deteriorando nas próximas semanas. Ademais, os pacotes de ajuda anunciados ao redor do mundo já parecem ter ficado para trás. Dessa forma, fica evidente que estamos em situação bem distinta daquela crise global de 2008, onde os governos e bancos centrais inundaram os mercados de liquidez para conter a crise. Desta vez, por ser uma crise de saúde, não há dinheiro neste momento que mude a situação.

Aqui no Brasil, no cenário dos investimentos, ainda prevejo incertezas diante do quadro acima, mas a relação risco-retorno do mercado de ações para o médio e longo prazos me parece interessante em função das quedas recentes. Portanto, a volatilidade deverá seguir no curto prazo diante do forte impacto que algumas empresas deverão ter nestes próximos meses. Mesmo nos ativos de renda fixa, algumas oportunidades têm aparecido, como nos chamados prefixados, em que títulos públicos e CDBs de bancos médios e pequenos apresentam taxas de retorno próximas de duas vezes (200%) o CDI para um período de dois a três anos.

Enfim, nunca é demais pedir novamente cautela, mas ressalto que apesar de estarmos sem referência, boas oportunidades estão surgindo. À medida que os mercados voltem ao normal, dificilmente veremos outras assim em um curto espaço de tempo. Pelo menos esta é minha visão diante do que já passamos nos últimos anos e analisando o presente.

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