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Fachada da B3, em São Paulo
Fachada da B3, em São Paulo| Foto: Bigstock

Nas últimas semanas, diante de uma forte escalada dos preços das ações (em especial de tecnologia no exterior e de varejo online no Brasil e mundo afora), um dos principais questionamentos dos investidores tem sido se estamos vivendo um momento de bolha na bolsa, ou, mais especificamente, nos preços dos ativos. Por aqui, se considerarmos que o Ibovespa (principal índice da bolsa brasileira, composto por 72 empresas) recua 12% no ano, definitivamente a resposta seria não. Mas, e se levarmos em consideração a alta do índice em 64% desde o fundo do mercado - ao final do mês de março - e o momento atual da economia nacional?

Este até poderia ser um bom questionamento, mas vale lembrar que ações de apenas um setor, como o varejo online (representado por Magazine Luiza, B2W, Via Varejo e Lojas Americanas), além de outros poucos papéis, como Weg e B3, subiram consideravelmente desde então. Os que acompanham o mercado no dia a dia também puderam verificar de lá para cá a alta dos preços das ações de empresas ligadas a commodities, em especial aquelas ligadas ao minério de ferro.

Dessa forma, partindo do princípio de que poucas ações subiram (mesmo depois de atingirmos o “fundo do poço”), aliado aos indicadores do Ibovespa, que não apresentam nenhuma anormalidade em relação aos últimos anos, torna claro que não podemos afirmar existir bolha na bolsa brasileira. Outro questionamento que surgiu foi a referência de novos entrantes na bolsa, que poderiam estar formando um movimento adverso, posto que vimos um crescimento de mais de 100% de pequenos investidores nos últimos 12 meses. Oras, se o fluxo do investidor estrangeiro tem um histórico de fluxo negociado diariamente e o varejo de cerca de 20%, como estes, puramente, poderiam formar uma bolha?

Nessa visão, também não consigo enxergar maiores problemas e, sim, uma mudança de cultura de uma população que busca novas alternativas aos juros baixos e com um mercado onde a linguagem e os sistemas se tornam cada vez mais acessíveis.

Nos EUA, o índice Nasdaq, composto por 2.761 empresas (sendo 50% dedicadas exclusivamente ao ramo de tecnologia e 20% ao de serviços financeiros) também trouxe questionamentos. Em 2020, o índice avança 24%, mas desde o final de março sobe 68%, puxado, em grande parte, por uma mudança de mentalidade dos investidores, que vislumbram que o cenário pós pandemia trará benefícios e escalabilidade para a maioria das empresas do segmento. Ou seja, por mais que tenhamos um descolamento dos fundamentos da economia atual, as expectativas aqui estão acima dessa preocupação.

Entretanto, é importante colocar que nas últimas vezes em que se antecipou a existência de bolhas, isso aconteceu porque vislumbramos algo em excesso. Neste ano, convivemos com aumento elevado de liquidez diante do volume de dinheiro injetado nas economias para sustentar o momento atual e o pós pandemia. Sendo assim, estaríamos, então, em um período de formação de bolha? Se constatarmos que apenas poucos ativos representam tal alta no mercado americano (e também no Brasil), não veria como algo generalizado e, sim, com possibilidade de focos de localização, como no caso das ações da Tesla, montadora de veículos elétricos e fabricante de baterias que no ano chegou a subir quase 500%, mas que desde o final de agosto, recuou 34%. Com isso, seu valor de mercado atual atinge US$340 bilhões, maior do que todas as grandes montadoras do mundo somadas.

Enfim, o que vemos atualmente parece ser muito mais um setor se tornando disruptivo, com crescimento e lucros recordes, bem como um fortíssimo candidato a se descolar dos fundamentos dos demais segmentos em função de suas perspectivas do que uma formação de bolha. No entanto, só com o tempo saberemos se estas companhias se manterão no topo, como atualmente, ou se foi apenas um movimento e suas expectativas.

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