• Carregando...
Juros baixos são a nossa nova realidade
Juros baixos são a nossa nova realidade| Foto: Bigstock

Na semana que passou, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic, taxa básica de juros, para 3,0% ao ano e o anúncio do corte de 0,75 ponto percentual foi uma surpresa para alguns economistas e membros de instituições financeiras. O que me causou estranheza nesse espanto por parte do mercado foi o fato de que um corte dessa magnitude chegou a ser precificado antes da saída do agora ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Por outro lado, chega, sim, a ser uma surpresa o fato de o comitê ter deixado a porta aberta para um novo corte - levando a Selic aos 2,25% - na próxima reunião, que ocorre dentro de 40 dias.

E o que exatamente isso significa? Que estamos em novo momento, em novo patamar, em águas nunca antes navegadas. Fica evidente que a preocupação está no crescimento econômico e na retomada deste pós pandemia em um momento de inflação abaixo de 2% conforme o IPCA. Se isso trará inflação futura ou se o câmbio se desvaloriza também por essa razão são outras questões a serem discutidas em outro artigo. Olhando para o mundo dos investimentos, fica cada vez mais claro que o brasileiro precisará tomar mais riscos se quiser obter retornos maiores em aplicações financeiras ou até ir para a economia real.

É notória a maturidade que temos visto no investidor pessoa física em bolsa e no crescimento apresentado pela B3: 400 mil novos entrantes iniciaram no mundo da renda variável nos últimos dois meses, sendo grande parte deste público de investidores com patrimônio abaixo de R$10 mil, segundo declaração do próprio presidente da B3 em live realizada pela Clear Corretora na semana passada.

Como comparação importante sobre as aplicações, é valido lembrar que a poupança irá trazer rendimento de 2,1% na taxa atual e de 1,58% se, de fato, a Selic for reduzida para próximo de 2%. Isto porque o retorno da poupança é de 70% da taxa Selic. Entretanto, para aqueles que visam apenas ter uma reserva de emergência, é importante a manutenção do recurso com essa finalidade independentemente da taxa. Ademais, acho necessário ressaltar que a renda fixa não morreu como gostam de afirmar alguns. Investimentos mais conservadores devem ser utilizados para reserva de emergência, diversificação de carteira e na busca por oportunidades que costumam aparecer nas plataformas digitais ou em instituições financeiras.

Aqueles que já leem minha coluna semanalmente ou me acompanham nas redes sociais há algum tempo sabem que não sou o mais entusiasta de ativos prefixados. Por outro lado, vejo que há boas oportunidades que podem surgir a qualquer momento com o aparecimento de novos fatos vindos da economia ou do mundo político. Revendo minha própria carteira, gosto de salientar que adquiri um CDB de banco médio com taxa fixa (ativo prefixado) com retorno de 11,75% ao ano no momento pré-eleitoral para presidente da República em 2018. O vencimento desta aplicação naquela época era de 2,5 anos. E nestes últimos dias, visualizei oportunidades cujos prazos seriam de 2 a 3 anos que traziam retorno de 8 % a 9% ao pequeno investidor. Se levar em consideração uma Selic de 3% ou abaixo desse patamar, o custo de oportunidade no período me parece bem vantajoso. Obviamente que esta não é a única que vislumbro, mas é preciso estar atento, pois nosso mercado é dinâmico.

A meu ver, dificilmente veremos a taxa de juros do Brasil em patamares de dois dígitos como em governos recentes por causa do momento ruim da economia, da inflação baixa, falta de confiança do consumidor e do empresariado, demanda reprimida, entre outros. Sendo assim, é necessário nos acostumarmos com o fato de que juros baixos são a nossa nova realidade. Dessa forma, o que faremos para conseguir retornos atrativos a partir daqui? Seja em prefixados, conforme explicitei acima, ou com a alocação de parte da carteira no mercado de ações, “caminhar” para economia real, fundos multimercados ou que aplicam em ativos no exterior. O importante é realizar aquele investimento que seja interessante de acordo com seu perfil e seus objetivos. Não podemos mais fechar os olhos para qualquer oportunidade e este é o nosso novo mundo.

Roberto Indech é estrategista-chefe da Clear Corretora.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]