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Estatais
O risco político deve ser contabilizado pelos investidores que optam por estatais.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Neste domingo (24) à noite muitos investidores foram surpreendidos com o pedido de saída do CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior. Um dos maiores nomes do setor elétrico, que entrou para melhorar a eficiência e dar uma visão mais profissional à empresa e dirigia a companhia há quase 5 anos. Após tanto tempo, acreditava-se que seria o momento da privatização ou capitalização da companhia - o que não ocorrera até aqui e, segundo discurso de postulantes às presidências da Câmara e do Senado, também não deverá acontecer no próximo biênio. Com a decisão anunciada e a perspectiva do mercado de que não haja, de fato, privatização neste governo, as ADRs (recibos de ações brasileiras negociadas no exterior) chegaram a recuar mais de 16% na bolsa dos EUA nesta segunda (25).

Este é mais um caso emblemático da volatilidade adicional que envolve as ações de empresas estatais negociadas no mercado de renda variável nacional. Ainda neste mês de janeiro, com as especulações da saída do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, recém-chegado do setor privado, as ações do banco recuaram 6% só no dia seguinte aos boatos - boatos esses que cessaram logo após conversas com o presidente da República, Jair Bolsonaro. No entanto, desacreditado de uma transformação que visa maior eficiência no banco, o mercado seguiu penalizando suas ações, que já recuam quase 15% desde então.

Para não citar apenas empresas federais, é importante mencionar que o mesmo comportamento ocorre com empresas cuja gestão é estadual (por exemplo, Sanepar, Cemig e Sabesp) quando elas almejam melhorar sua eficiência, mas, por questões políticas, não prosperam.

O caso mais recente é o da empresa de saneamento do Paraná, que informou no final do mês passado que a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Paraná (Agepar) redefiniu seu reajuste anual da tarifa de água e esgoto, suspenso desde setembro, em 5,11%. De início, o reajuste aprovado pela Agepar no fim de agosto era de 9,62%. A aplicação do índice começaria em outubro. Porém, o governo do estado suspendeu a aplicação do reajuste em setembro. A interferência levou as ações da companhia a caírem 7% no dia seguinte ao fato anunciado e a seguir esse caminho até o fechamento da bolsa na última sexta-feira (22). Em janeiro, as ações da Sanepar recuam 15,3%.

Outro movimento de grande destaque e repercussão nacional ocorreu durante a chamada greve dos caminhoneiros, em 2018. Naquela ocasião, pressionado pelo recuo nos preços de combustíveis praticados junto aos consumidores, o então presidente da estatal, Pedro Parente, acabou “caindo”. Naquele período turbulento para a empresa, as ações negociadas no Brasil chegaram a recuar quase 50%.

Dessa forma e diante de tantos casos, fica clara e evidente a razão de grande parte destes ativos negociarem historicamente com desconto, ou seja, “mais barato” se comparados aos seus pares do setor. Isso ocorre, justamente, pelo risco político. Portanto, não cabe aqui afirmar que investir em ações de empresas estatais não valha a pena. Acredito, inclusive, que em alguns destes momentos turbulentos é que surgem boas oportunidades. No entanto, para os que visam longo prazo, sugiro sempre cautela, dado que investir em estatais tem riscos adicionais conforme demonstrado acima.

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