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Bolsa de valores
Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa| Foto: Rafael Matsunaga/Rafael Matsunaga/Fotos Públicas

Não bastasse a pandemia da Covid-19, que consigo trouxe uma crise na área da saúde e outra econômica, na última sexta-feira (24), com a saída do agora ex-ministro da Justiça Sergio Moro, chegamos a mais um capítulo da crise política. Com todo o noticiário movimentado e as denúncias realizadas por ele e que atingem o presidente Jair Bolsonaro, o Ibovespa chegou a recuar 9,5%, quase atingindo mais um circuit breaker enquanto o dólar avançou para R$ 5,72, batendo 10% de alta apenas no mês abril.

Naquele momento, a saída de Moro trazia uma sensação ruim ao investidor: de que o governo poderia estar se desmontando e para isso não se configurar era necessária uma resposta segura do presidente e dos ministros de que isso não ocorreria. E nesta segunda-feira (27) pela manhã, as sinalizações trazidas por Paulo Guedes arrefeceram, em parte, as preocupações dos investidores. Por outro lado, será necessário acompanhar alguns aspectos daqui para frente como a popularidade do presidente com a saída do ex-juiz e o que sobrará de apoio no Congresso para a realização das reformas tão desejadas no pós-pandemia. Ao que parece, nesse momento, o mercado dará o benefício da dúvida para a continuidade do número um da economia do país.

Outro ponto importante é a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) para a taxa Selic no próximo dia 6 de maio. Afinal, qual impacto isso trará na reunião daqui a 10 dias? A princípio, o mercado parecia precificar um corte de 0,75 pontos porcentuais para 3,0% ao ano, o menor patamar da história.

No exterior, o cenário segue como nas últimas semanas, com os países do primeiro mundo ainda em isolamento e com agenda de retorno gradual para a primeira dezena de maio já anunciada na Espanha, Itália, Alemanha e França. Dessa forma, teremos a real ciência dos impactos da pandemia nas economias apenas nas próximas semanas. Além disso, um componente impossível de ser descartado é a confiança, seja do consumidor ou do empresariado. Mesmo com a possibilidade de fim do isolamento, como as pessoas vão se comportar em relação à visitação de espaços físicos como shoppings? Ou apenas o comércio de rua será liberado?

Há muitos questionamentos para os quais a resposta exata virá apenas com o tempo. Alguns vídeos que circulam na internet mostram consumidores enchendo lojas na China e no interior do Brasil (em municípios liberados). Ademais, os preços do petróleo seguem oscilando fortemente, diante do descasamento entre oferta e demanda da commodity dada a recessão global, que parece não ter saída neste segundo trimestre de 2020.

O que fazer?

Descrito o cenário atual, direciono para os melhores investimentos neste momento, na minha visão. No segmento de renda fixa, por exemplo, é possível visualizar nas plataformas digitais de investimentos alguns CDBs que apresentem rentabilidade de 130% do CDI para um período de 2 anos. E o que isso quer dizer exatamente? Que, se considerarmos a manutenção da Selic em 3,75% ao ano como atual, o investidor teria um retorno bruto de 4,75% ao ano. No entanto, vejo duas oportunidades mais coerentes: reserva de emergência e ativos prefixados.

O primeiro, como o próprio nome diz, deve ser considerado como uma emergência e, portanto, independe do nível da taxa de juros. Nesse caso, aplicações conservadoras - como títulos do Tesouro Selic - são mais recomendadas. Já os prefixados, que poderiam também ser CDBs de bancos médios e pequenos, remunerariam 7% a 8% ao ano para um período de 2 a 3 anos. Ou seja, esse número poderia atingir o dobro do CDI no momento. Se considerarmos perspectivas de novas quedas da Selic pela frente, seria ainda mais vantajoso.

No mercado de renda variável, apesar de toda a volatilidade vista nas últimas semanas e com perspectivas de continuar no curto prazo diante de inúmeros acontecimentos em um contexto global, vejo como uma boa opção as ações de bancos. Por razões conhecidas, os resultados das instituições serão prejudicados com aumento de inadimplência no curto prazo. Mas o quanto isso deveria, de fato, impactar no preço das ações? Só saberemos quando os resultados começarem a ser reportados. Pelo que temos visto até aqui, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú recuam entre 40% e 50% no ano, o que ao meu ver indica cenários catastróficos para as instituições financeiras. Poderia citar outras oportunidades também no mercado, mas vejo estas em específico muito descontadas em função da desconfiança de qual real impacto poderão sofrer em curto e médio prazos.

Enfim, para os que desconhecem, podemos chamar esta análise de top-down, ou seja, onde análise de cenário macro primeiro, seguida da verificação das melhores oportunidades de aplicações financeiras na visão de um analista de mercado. Espero que possam aproveitar, lembrando sempre do perfil de cada investidor e de seus objetivos realizando estes investimentos.

Roberto Indech é estrategista-chefe da Clear Corretora.

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