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Ciro e Goura
Ciro Gomes no palanque com Goura| Foto: Divulgação / PDT

Candidato a presidente da República em 2018 e já em pré-campanha para 2022, o vice-presidente nacional do PDT Ciro Gomes esteve em Curitiba, nesta terça-feira (10), para evento de campanha do candidato do partido à prefeitura da capital paranaense, Goura Nataraj. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele analisou o cenário das eleições municipais do próximo domingo (15) e fez projeções para o quadro de 2022.

Estamos vendo, nas pesquisas eleitorais nas capitais brasileiras, que as candidaturas bolsonaristas estão tendo dificuldade, mas não são as candidaturas de esquerda que estão crescendo. Essa eleição vai consagrar o centro?

É preciso que a gente entenda os dois motivos do voto do eleitor brasileiro. O primeiro é uma aguda preocupação com o cotidiano: questão de emprego, moradia, saúde, educação. Você não pode considerar que o DEM está liderando em Salvador por conta de centrão ou ideologia. Está liderando porque o prefeito entregou políticas públicas muito importantes para a cidade. Estamos liderando em Fortaleza por ter uma administração bem avaliada, e é outro campo político. O segundo motivo do voto, e nisso você tem razão, é um fenômeno que nós ainda vamos ter que entender. Parece que a essa altura, ainda é muito cedo, falta uma semana, o povo brasileiro está banindo os extremos. Se você reparar, o bolsonarismo boçal está perdendo feio em todos os cantos, mas o lulopetismo corrompido também parece que está sendo expulso das grandes cidades brasileiras. E isso cria um novo campo. Ele está organizado? Não, não está. Ele precisa ser organizado, os oportunistas vão tentar chamar que isso é uma vitória do centro, mas ainda é preciso entender melhor esse fenômeno.

E o quanto isso será determinante para a sua estratégia política para 2022? A aliança com a esquerda será o melhor caminho ou vai ter que buscar esse caminho do centro?

No momento em que lhe falo, e eu tenho um livro sobre isso, e é ciência política para além da militância, o Brasil precisa de um novo projeto nacional de desenvolvimento que precisa passar por mudanças estruturais muito arriscadas, muito difíceis de serem feitas politicamente. Isso nos obriga a desenhar um arco político de forças que reúne do centro à esquerda moderada. O que é o centro? É o mundo da produção. É o agronegócio moderno, que não escraviza, que não deteriora o meio ambiente, que sabe que do jeito que as coisas estão indo o Brasil sofrerá prejuízos muito graves. O centro é o médio empresário, o grande empresário nacional, que fatura em real. E o que é a esquerda? É organizar a classe média, os profissionais liberais, o mundo do trabalho, para a gente deixar de ser a sociedade mais desigual do planeta. Ensinando aquele outro lado que o capitalismo moderno se afirma no consumo de massa e o consumo de massa se afirma na renda. E nós estamos destruindo a renda do povo, destruindo o crédito popular e, por isso, o comércio está quebrando a indústria está destruída.

Há poucos dias, tivemos em Curitiba, o encontro de Sergio Moro com Luciano Huck. Eles também já se aproximaram de Mandetta. O grupo de centro-direita está largando na frente?

Essa é a coalizão dos cornos do Bolsonaro, se o curitibano me permite brincar com coisa séria. Todos eles ajudaram o Bolsonaro e, agora, estão agindo como ratos. Eles estão vendo que o barco vai afundar feio. A derrota do Donald Trump nos Estados Unidos revela que o Bolsonaro é o bocado comido que vai ser esquecido e olhe lá se ele termina o mandato. Então, o que eles estão querendo fazer? Estão querendo assumir o espólio da tragédia, da derrota, da destruição do bolsonarismo boçal. Quem faz isso, o Moro, para mim, é um malandro. Porque ele era um juiz que vendeu a toga, colocou o adversário político na cadeia, tirou os direitos políticos do adversário, eu nem faço juízo de valor se a decisão é justa ou não, mas o que ele não poderia fazer era ser ministro do que ganhou. Isso faz dele uma pessoa malandra, sem ética, sem pudor. Depois passou dois anos com Bolsonaro, acobertando as mazelas, a roubalheira, as pequenices, as corrupções de um presidente corrupto que corrompeu as esposas e os filhos. Eu fui contemporâneo dele na Câmara, eu conheci Bolsonaro roubando as miudezas, dinheiro de gasolina do gabinete. O Moro está lá, estava com ele. E, agora, vem se apresentar como centro?

O senhor também teve, recentemente, uma conversa com o ex-presidente Lula. Fizeram as pazes?

Eu diria a você que sim, sob o ponto de vista dos protocolos de relacionamento. Foi uma conversa muito franca, demorada, mais de quatro horas. Lavamos a roupa suja praticamente toda. Mas o que eu pensava sobre o que aconteceu no Brasil e o papel do lulopetismo no Brasil de hoje e do futuro, eu saí pensando a mesma coisa. E acredito que ele vivido como é, continua pensando a mesma coisa sobre o passado e sobre o futuro. Mas eu acho que com a responsabilidade que eu tenho, restaurar o diálogo, mostrar para o povo brasileiro que eu sou capaz de superar qualquer tipo de idiossincrasia, de sentimento menor, conversar, seja com quem for sobre a tragédia que o povo está passando e o futuro, eu fiquei feliz.

Pavimentou-se um caminho para que em 2022 vocês se apresentem de forma diferente na eleição para enfrentar o presidente Bolsonaro?

Ah, eu não tenho dúvida de que o Brasil vai encontrar um caminho novo. É muito cedo para se fazer projeções, mas acho que esse universo bolsonarista vai se espatifar, na desmoralização. Daqui a muito pouco, camaradas como esses Sergio Moro, Luciano Huck, Mandetta, Dória, vão se desmoralizar, porque todos estavam lá. E eles têm uma suposição, eles acham que nós todos somos um bando de burros, de abestados, de idiotas. E eu vou mostrar para eles que eles estão errados. Que o povo brasileiro, se votou no Bolsonaro, era porque estava muito machucado com a crise econômica e com a traição moral que o PT produziu do governo. Mas isso foi superado. Foi um gesto de protesto que eu compreendo com muita calma, com muita humildade, embora tenha sido um grosseiro equívoco, pelo qual o Brasil e o brasileiro estão pagando muito caro. Mas, no futuro, acho que vai ser bem diferente. Então acho que o bolsonarismo boçal não estará presente no debate político, embora tenha seus 18% de eleitorado fiel. Teremos ali o grupo da direita neoliberal, com Dória, Mandetta, esse Moro acho que é uma invenção, mas Huck pode ter força, por ser da TV, da popularidade, mas nenhum deles tem nenhuma ideia sobre o Brasil. Aqui embaixo, creio que minha aliança PDT, PSB, Rede e PV está batendo um bolão. Vai ser muito bonito o que vai acontecer. Vai ficar muito claro que teremos um caminho, novo, progressista, mas com capacidade de dialogar com o centro político, com o mundo econômico mais conservador, mas com bases concretas, mostrando como tirar o Brasil da tragédia social e econômica na qual nos encontramos. E acho que é da natureza do PT apresentar seu candidato. Mas, se não houver a fraude de que o Lula é candidato, como aconteceu no passado, está tudo certo, eles têm direito de ter candidato e nós temos o papel de buscar no povo e não numa reunião de gabinete, a definição de quem vai representar o campo progressista em um eventual segundo turno.

  • A coluna procurou Sergio Moro, que não quis comentar as declarações de Ciro Gomes
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