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Goura (PDT) promete ser candidato novamente à prefeitura de Curitiba em 2024.
Goura (PDT) promete ser candidato novamente à prefeitura de Curitiba em 2024.| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Derrotado, mas vitorioso. Gora Nataraj (PDT) saiu das eleições municipais deste ano frustrado por não ter conseguido chegar a um segundo turno contra o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), reeleito já no primeiro turno, mas comemorou a votação que recebeu – 110,9 mil votos. Candidato de última hora, o deputado estadual saltou de 5% das intenções de voto na primeira pesquisa Ibope/RPC para 13% dos votos válidos na apuração do último domingo (15). Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado já se lançou pré-candidato à prefeitura em 2024 e afirmou que sai da eleição com a responsabilidade de construir uma corrente política de oposição a Greca e ao governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Se já tem bem claro onde que estar em 2024, o deputado não sabe, ainda, o que fará em 2022, quando encerra seu primeiro mandato na Assembleia. Confira a entrevista.

Apesar da derrota e de não ter conseguido sequer levar a eleição para o segundo turno, o senhor saiu fortalecido desta eleição por conta do crescimento que obteve entre os 5% da primeira pesquisa Ibope e os 13% alcançados na urna, com mais de 100 mil votos. Como o senhor avalia esse desempenho?

Estou muito contente. Estou cansado. Uma eleição majoritária é bastante cansativa. E a gente fez uma campanha muito engajada, mobilizando as pessoas, estando sempre muito próximo delas. Vejo que foi um crescimento muito significativo, muito relevante. A gente começou até com menos de 5%. Teve uma pesquisa anterior ao Ibope (Instituto Opinião) que nos dava 3% e a gente terminar com 13% para 14%, 110.977 votos, sendo segundo colocado em praticamente todas as regionais, enfrentando a máquina muito poderosa do prefeito, com o apoio do governador e toda a orquestração política conduzida pelo Palácio Iguaçu para a reeleição do Rafael Greca (DEM), com a retirada das outras candidaturas. Então, da minha parte, é um sentimento de gratidão e um sentimento de que agora começa um outro trabalho, diferente do que eu estava conduzindo até então. Eu sinto que essa votação que eu tive convergiu votos muito convictos, pessoas que estavam muito convencidas de por que votar em nós. Não foi um voto de oba-oba, foi uma expressão de que é possível uma Curitiba diferente. E as mensagens que tenho recebido, desde então, é de gente me incentivando, falando para eu não desistir, dizendo que em 2024 eu tenho que estar candidato novamente. Eu acho que não fomos vencedores do pleito, mas ganhamos muita coisa politicamente. Até porque a reeleição do prefeito com toda essa orquestração política era dada como certa e a gente chegou a ameaçar. Eu creio que se tivéssemos mais duas semanas, conseguiríamos o segundo turno. O que faltou foram as outras candidaturas crescerem mais para a gente poder, assim, ter mais expressão e Greca não ter esses 59% que ele teve. Faltou PT, MDB, Carol Arns (Podemos), Yared (Chrsitiane – PL), que eram candidaturas com estrutura partidária, de nomes de expressão política, que ficaram aquém do que poderiam. Se cada um desses tivesse 20 mil votos a mais, a gente teria um segundo turno.

O senhor se anunciou como pré-candidato no início do ano, mas o partido optou pelo deputado Gustavo Fruet. Na véspera da convenção, Fruet desistiu da disputa e teu nome foi recolocado. Sua candidatura acabou sendo definida de última hora. Isso não o prejudicou?

Tem os dois lados. Existe sim uma falta de tempo, objetivamente falando, porque organizar uma campanha majoritária envolve muita coisa, e era minha primeira. Então, nas primeiras semanas, a gente ainda estava achando o tom, organizando tudo. Até a definição da vinda de recursos do partido só veio quando a campanha já estava acontecendo. Ficamos um pouco nesta indefinição. Sem contar o trabalho de pré-campanha, que poderia ter sido feito de forma mais intensa. A articulação com lideranças, com bairros, com instituições da sociedade poderia ter sido feita de forma mais intensa. Por outro lado, essa aparente desvantagem foi traduzida, também, num fator surpresa, numa coisa nova, que gerou uma onda de entusiasmo diferente. Então, se, por um lado a gente saiu prejudicado na pré-campanha e organização, isso também poderia ter chamado a atenção para ataques e para desconstrução da candidatura. Então, o fator surpresa, o fato de, no dia 11 de setembro, véspera da convenção, eu ter aceito o convite do partido para ser candidato a prefeito, foi, com certeza, um fato surpreendente para mim e para o cenário político. E isso corrobora, também, numa construção que trouxe algumas características inovadoras. Nossa candidatura foi, de fato uma novidade. De um cara que saiu do ativismo, foi eleito vereador, deputado e, agora era candidato a prefeito. Neste ano, era para eu estar concluindo meu primeiro mandato como vereador e olha quanta coisa já aconteceu.

Mesmo depois da eleição, tem muita gente pesquisando sobre o Goura, querendo saber quem é o senhor. Há esse sentimento de que a onda, que o senhor sempre cita, continua? Que teu mandato como deputado será mais observado e que prestarão atenção, agora, nas tuas movimentações políticas?

Com certeza a gente qualificou como uma onda porque foi o sentimento que a gente teve tanto nas redes sociais quanto nas ruas, de que tinha alguma coisa crescendo e, de fato, isso se mostrou verdadeiro. Acho que essa onda vai continuar crescendo, eu vou desempenhar o meu trabalho na Assembleia Legislativa, na Comissão do Meio Ambiente, e nas outras comissões das quais eu sou membro, com o máximo de seriedade e compromisso. E buscarei essa construção de um campo político em Curitiba e no Paraná e que possa, também, ter desdobramentos no campo nacional. Acho que a gente está tendo um caminho para uma pretensa hegemonia política do grupo liderado pelo governador Ratinho Junior e a gente precisa construir alternativas a isso. Alternativas que valorizem o servidor público, a educação pública, as empresas públicas, a prestação de serviços para a população que mais precisa. E a gente está vendo que isso é contrário à agenda do governador. Basta ver, hoje, os professores se manifestando contra uma prova absurda do PSS, ridícula, durante a pandemia, ou a venda da Copel Telecom, também durante a pandemia. Então, acho que meu resultado nas urnas me coloca numa outra posição, uma posição de mais embate a esse grupo que está aí. Mas eu vou continuar do meu jeito. Não vou trazer para mim as expectativas dos outros. Estou fazendo a condução da minha trajetória política com coerência com tudo aquilo que penso, que eu sinto, que eu acredito, de forma alguma abrindo mão dos ideais que me levaram a fazer política. Eu sempre vou buscar o diálogo e a construção. Conversei com o prefeito Greca já na segunda-feira, também conversei com o líder do governo na Assembleia. O meu jeito de fazer política é esse. Política, para mim, é conseguir conversar com os diferentes. Mas fico animado e muito entusiasmado em ver que nossa candidatura está inspirando outros movimentos no Paraná e, até, fora do Paraná. É um movimento nacional de renovação. O Rafael Greca sai agora reeleito, mas já é um ocaso político. Depois dele, o grupo vai tentar a continuidade com o Eduardo Pimentel, mas a gente precisa inspirar novas lideranças, construir novos espaços, para que a gente possa ter um jogo mais equilibrado. Porque, do jeito que está, está faltando forças que façam o contrapeso que é importante para a democracia.

O PDT elegeu três vereadores. Reelegeu os três, inclusive. Na atual legislatura, nenhum dos três está, oficialmente, na bancada de oposição. Um deles, inclusive, o vereador Tito Zeglin, é próximo ao prefeito e tem votado com a base. Os outros dois (Dalton Borba e Marcos Vieira) se declaram independentes. Agora que o senhor virou o principal adversário do prefeito, a orientação para a bancada será diferente?

A gente teve na legislatura passada na Câmara Municipal uma bancada que não estava jogando junto, em especial os vereadores Zezinho (do Sabará) e Toninho (da Farmácia), que inclusive sofreram processos de expulsão do partido e, antes disso, saíram por conta própria, foram reeleitos agora na base de apoio ao prefeito. E a gente manteve os três vereadores. O vereador Tito é um vereador que atua muito nas questões do bairro, tem ligações com a zona sul da cidade, já de bastante tempo, e eu respeito isso, é a maneira como ele presta o seu serviço a população de Curitiba. E tanto o vereador Dalton, que foi meu suplente, e o vereador Marcos vão expressar e carregar essa responsabilidade de demonstrar a nossa postura de fiscalizar os atos do prefeito Rafael Greca. Eu vou continuar fazendo isso como deputado na Assembleia Legislativa, como fiz esses dois anos, a gente fiscalizou, conseguiu barrar o aumento da passagem no início do ano, junto com a Professora Josete (PT), com uma ação na Justiça. Enfim, vamos continuar atuando. Eu já os orientei que devemos buscar diálogos com outros partidos, seja os de oposição ou aqueles independentes. Eu não creio, até pela postura que o deputado Francischini teve na campanha, que a bancada do PSL irá integrar a bancada de apoio ao prefeito Rafael Greca, eu espero que não, não seria coerente. Da mesma forma as duas vereadoras do Partido Novo e o vereador Alexandre Leprevost (SD). Talvez tenha espaço para ter vereadores que endureçam o jogo um pouco mais para o prefeito, porque do jeito que estava o prefeito aprovava tudo sem nenhuma dificuldade, porque quem fiscalizava estava em número muito diminuto. A gente não conseguia fazer uma CPI, barrar algum projeto, o prefeito dançou e rolou com a Câmara de vereadores. Eu espero agora que o aumento da bancada do PT possa fortalecer isso, o vereador Professor Euler (PSD) é uma pessoa que sempre teve uma postura combativa. Eu acho que a gente vai ter um espaço maior. A minha orientação para a bancada do PDT é que a gente tenha uma postura firme, de fiscalização, cobrando transparência e cobrando agora que o prefeito cumpra de fato tudo o que ele prometeu na campanha. A gente vai fazer isso e vai cobrar essa execução das políticas públicas na cidade.

O senhor citou a bancada do PT. Os candidatos a vereadores do PT somaram 50 mil votos e o candidato a prefeito fez 20.500 votos, isso indica que muito eleitor petista acabou votando no senhor, até porque a bancada de vereadores do PDT, os candidatos a vereadores do PDT, fizeram 47 mil votos. O senhor já foi visto nessa eleição como um possível agregador da esquerda. O senhor sente isso também?

Sinto, mas vou mais além, não é apenas da esquerda, acho que é de todos aqueles que estão pensando em um campo democrático mais amplo. Eu tive muitos votos que vieram de centro-esquerda e que vieram de centro-direita, acho que a gente conseguiu mostrar para população curitibana um projeto sério, responsável e não extremista. Um projeto, uma agenda, como eu falei durante a campanha; uma agenda social porque Curitiba precisa olhar para suas desigualdades, fazer políticas públicas efetivas para redução dessas desigualdades, junto com uma agenda econômica que aumente o emprego, a renda e tire as pessoas da informalidade, junto com uma agenda ambiental. Então você pode dizer a agenda social é mais de esquerda, a econômica mais de direita, eu recebi apoio de empresários como de catadores de materiais recicláveis. Com esses 110 mil votos, é incorreto dizer que vem de um campo mais de esquerda. Fico feliz que tenha acontecido isso nessa eleição. O candidato que tinha uma agenda mais bolsonarista ficou muito atrás de nós na eleição, isso por si só eu acho que é uma grande vitória, mas, assim, diria que é difícil a gente colocar [a votação expressiva] nessa caixinha tão estreita, porque eu acho que é muito mais complexo. Eu, mesmo quando fui eleito deputado e vereador, recebia assim: vou votar no Bolsonaro e vou votar em você. Isso é muito bom. Eu conversei com o MST e conversei com ACP. Então assim, precisamos pensar nessa Curitiba mais justa. Com olha social, econômico e ambiental.

O senhor tem mais dois anos de mandato na Assembleia Legislativa. O que podemos esperar depois disso. Qual teu plano político para 2022?

Ainda acho precoce dizer o que vou fazer em 2022. Há alguns cenários. A ideia de ser novamente deputado estadual, se os paranaenses quiserem, e fortalecer a bancada do partido, é uma ideia que me instiga. Uma candidatura a deputado federal também me provoca emoções, porque temos grandes nomes no Congresso com quem eu poderia contribuir muito numa construção e, também, porque as qualidades e lutas que eu representam não estão presentes na atual bancada federal. Então penso que a gente poderia tentar fazer dois deputados federais, Gustavo Fruet e eu, e abrir espaço na Assembleia Legislativa. O que eu sinto que é importante é uma conversa maior com vários partidos sobre esse cenário para 2022. O governador, até mesmo com esse resultado das eleições municipais, tem se consolidando como uma liderança que tem uma voz de oposição a ele muito pequena. Precisamos ampliar essa voz dissonante, mostrar que as posições deste grupo não encontram eco total na sociedade paranaense. Eu vejo com preocupação a falta de um espaço de crítica, em que se consiga mostrar para a sociedade o desastre social e ambiental que o governador Ratinho Junior está conduzindo. Temos um secretário de Meio Ambiente aliado ao ministro do Meio Ambiente, que não atua pela preservação. Estamos vendo o desmonte da educação pública. Falta a sociedade abrir os olhos e ver este governo além da propaganda. Vencer essa barreira é um grande desafio para quem faz oposição no Paraná.

Então a gente pode dizer que o teu 2022 é mais incerto que o teu 2024. Porque, se eu te perguntar onde o senhor estará nas eleições de 2024...

É isso. Eu já sou pré-candidato desde já à prefeitura de Curitiba. Vou construir desde já. Meu 2022 é mais incerto que meu 2024, mas vou estar ativamente construindo, nos próximos anos essa massa crítica em relação à política. Uma coisa que ficou latente é que a gente precisa ter formação de base política com a sociedade. A gente vê, ainda, um nível de alienação mesmo, de desinteresse, de falta de vontade política de educação política que é muito forte. Não vamos conseguir mudar a sociedade se não tiver essa formação política de baixo para cima.

E, em 2024, o senhor pretende ser o candidato do PDT à prefeitura de Curitiba ou o candidato de uma frente de oposição, reunindo partidos de centro-esquerda?

Isso tudo vai ser um desdobramento de como vão ser os próximos anos. Espero que a gente possa ter uma frente ampla, que possa convergir partidos que comunguem dessas ideias que estamos trazendo, de uma Curitiba participativa, realmente inovadora, integrada à Região Metropolitana. Estou aberto a dialogar e construir isso desde já com os partidos e as lideranças que desejarem.

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