O Brasil não tem relevância internacional suficiente para fazer qualquer diferença na guerra no Oriente Médio. A crise serve apenas para Lula exercitar a sua megalomania diplomática e para revelar o quanto a ideologia comprometeu a capacidade de parte da política brasileira de condenar atos terroristas. Vamos aos fatos.
No dia 7 de outubro, o grupo Hamas atacou Israel de diversas maneiras, com mísseis e a invasão de seu território com agentes armados. O Hamas promoveu o massacre de civis indefesos e ainda fez reféns, levados ao território da Palestina. Fala-se em cerca de 1,3 mil vítimas. Chocaram o mundo vídeos e fotos que retrataram a brutalidade dos massacres, em especial o promovido contra 260 vítimas indefesas que estavam em uma rave.
O ataque deliberado a civis, o massacre de vítimas indefesas e a tomada de reféns configuram crimes contra a humanidade e crimes de guerra, conforme definições contidas nos artigos 7.º e 8.º do Estatuto do Tribunal Penal Internacional.
A prática desses atos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado permite seu enquadramento como atos terroristas, mesmo nos limites estreitos da lei brasileira.
O Hamas é um grupo terrorista e deve ser destruído. A população da Faixa de Gaza não é criminosa; em realidade, ela é vítima da ditadura que lhe é imposta pelo Hamas
Há, certamente, demandas legítimas pela criação de um Estado próprio para a Palestina e por melhores condições de vida para o povo palestino. Isso, porém, não autoriza o massacre deliberado da população civil por um grupo terrorista.
Quando há uma guerra, o ataque a alvos estratégicos, militares ou não, tem o potencial de gerar danos colaterais consistentes na morte de civis. Ainda que se entenda que o Hamas esteja em guerra contra Israel, o fato é que os massacres não foram resultado de danos colaterais, pois os civis indefesos eram o alvo direto e principal.
Não há, portanto, espaço para relativização ou contextualização. Não há justificativas para esses crimes atrozes.
Isso não significa criminalizar o povo palestino. O Hamas é um grupo terrorista e deve ser destruído. A população da Faixa de Gaza não é criminosa; em realidade, ela é vítima da ditadura que lhe é imposta pelo Hamas. Israel tem o direito de se defender e destruir o Hamas, mas espera-se que isso possa ser feito com os menores danos colaterais possíveis. O tempo dirá sobre esses desdobramentos.
O Brasil tem um papel muito limitado nesta guerra no Oriente Médio. Se a crise fosse na América Latina, o Brasil até seria relevante, já que é uma potência regional. Sendo no Oriente Médio, temos de reconhecer que estamos muito distantes de termos uma influência relevante na região e que possa fazer alguma diferença nos desdobramentos do conflito.
Não faz maior diferença o fato de o Brasil presidir momentaneamente o Conselho de Segurança da ONU. O cargo é rotativo, a presidência dura um mês, e o país que a ocupa não se torna uma potência mundial durante o mandato. Aliás, o Brasil já ocupou essa posição por outras 11 vezes no passado e não se tornou uma potência mundial nessas ocasiões.
Embora a imprensa nacional e a população brasileira concedam, como é natural, muita atenção à posição do governo brasileiro em relação à crise no Oriente Médio, o mesmo não ocorre internacionalmente. Procurei, por curiosidade, notícias ou comentários na imprensa internacional sobre a posição do governo brasileiro em relação à guerra, mas nada encontrei.
Não devemos aqui apelar para um ufanismo deslocado. Temos orgulho do Brasil, o nosso país, em vários aspectos, mas nosso peso internacional para uma crise no Oriente Médio é diminuta. A última vez que o Brasil se envolveu em questões geopolíticas no Oriente Médio foi na tentativa de promover um acordo com o Irã sobre limites ao enriquecimento de urânio por aquele país, e o resultado final foi um fracasso. Aparentemente, essa lição não foi apreendida. Não por coincidência, as mesmas pessoas envolvidas naquele incidente agora tentam superdimensionar sua relevância na nova crise.
A ideologia cegou parte de nossa elite política e intelectual para a natureza criminosa e terrorista do Hamas e dos ataques promovidos contra civis indefesos
Os acontecimentos recentes no Oriente Médio são mais relevantes no que dizem a respeito de nós. Foi surpreendente que os ataques terroristas e o massacre de civis não tenham recebido, desde o início, a reprovação unânime da elite politica e intelectual brasileira. Foi ultrajante a reação tíbia do governo brasileiro, que demorou a qualificar os atos como terroristas e que, até o momento, recusa-se a qualificar o Hamas como um grupo terrorista. Foi desmoralizadora a tentativa de alguns de realizar uma falsa equivalência entre os atentados promovidos pelo Hamas e a política do governo de Israel em relação à Palestina.
A ideologia cegou parte de nossa elite política e intelectual para a natureza criminosa e terrorista do Hamas e dos ataques promovidos contra civis indefesos. No ambiente polarizado da política atual, a cegueira é até compreensível, embora não deixe de ser censurável.
Cresce, porém, a percepção de que a visão correta sobre os fatos e acontecimentos irá predominar, com o repúdio aos crimes e atos terroristas praticados pelo Hamas, sem que isso signifique identificar o grupo terrorista com a população da Palestina.
O Brasil tem uma comunidade judaica relevante e uma imigração árabe muito expressiva. Não temos histórico de ódio racial ou de ações terroristas entre esses grupos aqui no Brasil. Ao contrário, o país, nesse aspecto, tem lições a ensinar sobre o convívio pacífico entre religiões e grupos étnicos diversos. Não precisamos importar essa crise. A missão mais relevante à frente é de apaziguar os ânimos internos. Para tanto, não cabe superdimensionar, por motivos políticos, o papel que o Brasil pode ter em uma guerra no Oriente Médio, distante de nós. Também não cabe distorcer o que de fato aconteceu por motivos puramente ideológicos. A distorção diz mais sobre nós do que sobre os fatos distorcidos. Terroristas e assassinos serão sempre terroristas e assassinos.
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