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Corrupção, CPI, Collor e genialidade na “Escolinha do Professor Raimundo”
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Aproveitando o sucesso dos novos episódios, o Canal Viva fez um gol ao resgatar na noite de quarta-feira (16) um episódio especial da “Escolinha do Professor Raimundo” exibido na semana de Dia das Crianças de 1992. O especial contava com personagens inesquecíveis das novelas na classe no lugar dos tradicionais alunos e foi gravado, provavelmente, entre o final de setembro e início de outubro, pegando o afastamento de Collor da Presidência da República, que aconteceu em 29 de setembro. A situação do país, claro, não passou ilesa pelos roteristas do humorístico, afinal, “ridendo castigat mores (é rindo que se castigam os costumes)”.

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Além da ideia genial de reunir os personagens mais marcantes das tramas brasileiras, um recurso pouquíssimo explorado em nossas produções, o programa se destacou pelas referências – ainda que implícitas – à corrupção, CPI, Collor e aos problemas enfrentados pelo Brasil naquele ano de 1992.

O professor Raimundo Nonato ouve as

O professor Raimundo Nonato ouve as “acusações” da aluna Maria do Carmo (Regina Duarte), de “Rainha da Sucata”. (Foto: Reprodução/Canal Viva)

Em um dos diálogos, Maria do Carmo (Regina Duarte) diz que o prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura) é um “ladrão, porque recebia dinheiro do esquema de corrupção com Zé das Medalhas”. A informação teria sido “compartilhada” por Porcina, personagem de Regina na novela “Roque Santeiro” (1985).

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O prefeito de “Roque Santeiro” responde: “Isso é tudo calúnia! Só pode ser coisa da oposição”, desdenhou.  Chico Anysio, talvez num “caco” (texto inserido na hora), arremata: “Mas a corrupção então, não é de agora então? Já tinha lá atrás?”, pergunta. O questionamento arrancou risos da classe, que também tinha nomes como Dona Armênia (Aracy Balabanian) e Perpétua (Joana Fomm).

O prefeito Florindo Abelha, o “corrupto” de “Roque Santeiro” (1985). Foto: Memória Globo

 

Em outro momento, o professor fala que é melhor deixar isso (a apuração da responsabilidade dos crimes de Abelha) “para a CPI”, uma alusão à Comissão Parlamentar formada para averiguar os desvios de verbas e corrupção durante o Governo Collor.

No Twitter, o comentário era um só: como o Brasil mudou pouco em 23 anos, não? Os diálogos – e os problemas da nação – continuam iguaizinhos. Parece até que o roteiro tinha sido escrito neste ano.  O humor genial de Anysio resistiu ao tempo.   Para Eduardo Secco,  pesquisador e autor do blog “Vivo no Viva”, “É difícil ver que o país não evoluiu nada, principalmente em termos políticos. Por outro lado, é uma delícia constatar que certos personagens se tornam inesquecíveis justamente por serem atemporais, se encaixarem em qualquer contexto. Poderiam, muito bem, estrelar um novo especial nos dias de hoje”, afirma. E não é?

Vale lembrar que, no mesmo ano, a abertura de “Deus Nos Acuda” fazia referência ao “mar de lama” que cobria o País. Bons tempos em que a dramaturgia estava à frente, divertia, entretinha e, de quebra, fazia pensar.

Em tempo: o Canal Viva irá reapresentar este episódio na sexta-feira (18), às 22h30.

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