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Foto retirada pelo astronauta Tim Peake da Estação Espacial Internacional (NASA)
Foto retirada pelo astronauta Tim Peake da Estação Espacial Internacional (NASA)| Foto:

Prêmio Nobel Paul Romer explica como o crescimento econômico depende da tecnologia

No último mês de outubro, o Professor da Universidade de Nova Iorque Paul Romer foi agraciado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas, juntamente com seu conterrâneo William Nordhaus, “pela integração de inovações tecnológicas na análise macroeconômica a longo prazo”.

O tema da pesquisa de Romer não poderia ser mais atual no momento que o Brasil vive. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, está sinalizando que dará ênfase às políticas que estimulam pesquisa e desenvolvimento, o que é muito importante para a consolidação do crescimento econômico do Brasil.

A revista The Economist escreve que, antes da publicação dos trabalhos de Romer, os economistas entendiam que um crescimento econômico robusto, por longo período, dependia do progresso tecnológico, que, por sua vez, estaria relacionado à criação de novas ideias. Mas eles não conseguiam explicar de onde surgiam novas ideias e como a inovação interagia com a atividade econômica.

Um deles – Robert Solow, agraciado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1987, – desenvolveu um modelo matemático para medir o crescimento econômico, acreditando que esse crescimento era exógeno (não influenciado por outros fatores da própria economia, só por fatores externos).

Romer foi o primeiro a afirmar que o crescimento econômico tem origem endógena, e agregou a mudança tecnológica ao modelo de Solow. Romer definiu a mudança tecnológica como resultado de esforços de agentes de mercado (pesquisadores, inventores, empresários, investidores etc.) que respondem a incentivos econômicos. Os incentivos de mercado fazem com que o novo conhecimento seja traduzido em produtos com valor prático.

Conforme descreve Chad Jones, professor de economia da Universidade de Stanford, “a principal contribuição de Romer é um entendimento claro sobre a economia das ideias e como o descobrimento de novas ideias está no coração do crescimento econômico”. O crescimento nesse modelo é movido pela mudança tecnológica, que surge de decisões intencionais de investimento feitas pelos agentes econômicos que buscam maximizar o lucro.

Em seu famoso artigo “Mudança Tecnológica Endógena”, escrito em 1990, Romer mostra como é importante investir em tecnologia. O investimento em capital físico aumenta proporcionalmente a produção: uma empresa que já tem uma fábrica e constrói uma nova, igual à primeira, dobra o número de produtos fabricados. A cada nova fábrica, essa empresa teria um proporcional aumento de produção. Enquanto isso, o investimento em pesquisa e desenvolvimento teria um efeito multiplicador, porque a nova tecnologia desenvolvida pode ser aplicada em todas as fábricas, e todas elas vão produzir mais.

 

Capital humano e abertura comercial são essenciais para o crescimento

O “capital humano”, que é o insumo usado para produzir um novo conhecimento, é uma das variáveis mais relevantes no modelo de crescimento econômico descrito por Romer. Nesse aspecto, ele esclarece que “capital humano” está relacionado à quantidade de pessoas efetivamente trabalhando no desenvolvimento de novos processos de trabalho, de novas tecnologias (cientistas, engenheiros, etc.), e não inclui as pessoas trabalhando na produção de bens de consumo.

A relevância do capital humano explicaria a ausência de crescimento econômico nos tempos pré-históricos: naquela época, as pessoas estavam dedicadas a produzir bens para consumo imediato (alimentos, armas, vestuário), e não a desenvolver novas técnicas de produção. “A civilização e, portanto, o crescimento, não poderia ter começado até o momento em que o capital humano pode ser separado da produção de bens para consumo imediato”.

Para explicar a correlação entre capital humano e desenvolvimento econômico, Romer aponta que a fração de capital humano dedicado à pesquisa é distintamente mais alta nos países mais desenvolvidos do mundo.

Romer afirma, ainda, que no caso de países populosos (ele cita os exemplos da China e da Índia), o acesso a uma grande quantidade de força de trabalho não proporciona, necessariamente, o acesso a capital humano de qualidade. É preciso que haja incentivos para que parte dessa população dedique-se à pesquisa de novas tecnologias.

Uma das formas de um país obter acesso a mais capital humano, segundo Romer, é por meio da abertura de sua economia. Exatamente porque uma tecnologia (isto é, do produto do capital humano) pode ser usada em várias fábricas ao mesmo tempo, aumentando a produtividade em todas elas, por meio da integração de mercados um país pode ter acesso ao resultado do capital humano de outros países, aumentando sua própria produção e trazendo desenvolvimento econômico.

Romer demonstra que o nível de crescimento econômico é diretamente associado ao nível de integração aos mercados mundiais e não ao tamanho ou à densidade da população.

Há uma correlação entre a abertura econômica e o desenvolvimento tecnológico, que pode ser observada nos números de registros de patentes. Países líderes em comércio internacional – China, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Holanda e Coréia do Sul – também estão dentre aqueles que mais entraram com pedidos de registro de patentes em 2017 (conforme dados da Organização Mundial de Propriedade Intelectual – WIPO).

 

Que tipo de políticas públicas estimulam inovação e crescimento?

A elevação da produtividade e a consolidação do crescimento econômico são desafios para a maior parte dos países. Além das reformas que buscam equilibrar as contas públicas, há outras medidas que podem estimular o crescimento.

Como o investimento em tecnologia depende de agentes privados que buscam maximizar seus lucros, Romer defende que as políticas públicas que incentivam a inovação e fomentam a educação e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (financiamento, incentivos fiscais para despesas com a criação de produtos inovadores etc.) podem potencializar o crescimento econômico a longo prazo.

Mesmo que os investimentos em pesquisa possam ser incorporados aos bens de capital, os subsídios para acumular capital físico não são a melhor política. “Se o desafio principal é que temos advogados e administradores de empresas demais e temos escassez de engenheiros, uma política pública que visa a estimular a acumulação de capital físico seria pouco eficiente ou até contraproducente.”, diz Romer.

De acordo com o economista, a política governamental precisa focar na produção de capital humano. “Quando o governo não consegue influenciar a alocação de capital humano entre diferentes setores (…), a segunda melhor opção de política pública seria subsidiar a produção de capital humano. A otimização da alocação do capital humano para pesquisa gera o aumento da taxa de crescimento”, escreve Romer.

E há outra questão importante na definição da estratégia de desenvolvimento econômico. Em um recente comentário, o Economista Chefe da The Economist, Simon Baptist, mostra – no caso de Quênia, que é um dois países que mais crescem no continente africano – como a elevação da produtividade e o crescimento econômico dependem de políticas públicas assertivas: “É tentador experimentar escolher uma indústria ou um projeto, a partir do qual traçar narrativa de desenvolvimento, mas nutrir um sofisticado ecossistema de serviços para apoiar indústrias existentes pode oferecer mais, como mostra claramente a comparação entre a Austrália e, vamos dizer, a África do Sul ou o Brasil.”

 

O exemplo brasileiro da Embrapa

Temos, no agronegócio brasileiro, um excelente exemplo de tudo o que Romer teoriza: o que fez o Brasil passar de importador de alimentos para um dos maiores exportadores do mundo não foi o investimento em capital físico – não foram novas fazendas, nem um aumento no número de pessoas trabalhando no campo. A pesquisa e o desenvolvimento tecnológico é que permitiram um aumento exponencial da produção de alimentos por hectare de terra.

Sem sombra de dúvida, o momento mais importante do agronegócio brasileiro foi a criação da Embrapa, em 1973. Quando o Brasil resolveu investir na formação de capital humano e criou incentivos para que esses pesquisadores se dedicassem a desenvolver tecnologias que pudessem ser aproveitadas por todos os nossos empresários do agronegócio, aí sim vimos um estrondoso desenvolvimento do setor que hoje é o carro chefe das nossas exportações. E isso só foi possível com a abertura do País, para permitir que nossos pesquisadores fossem pesquisar nos melhores laboratórios do mundo.

Acredito ser simbólico o fato de o presidente eleito Jair Bolsonaro ter definido, já no início, o nome de titular para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (será o engenheiro e astronauta Marcos Pontes). A pasta deveria ter destaque na Esplanada em Brasília. Outra medida importantíssima, proposta pelo novo presidente, foi de fortalecer o Ensino Superior.

O estímulo à inovação e à formação do capital humano estão no coração de uma bem-sucedida estratégia de desenvolvimento econômico. É preciso não só incentivar a Embrapa para que se mantenha firme no propósito para o qual foi criada, mas também estudar formas de incentivo ao desenvolvimento de capital humano em outros setores da nossa economia. É preciso também batalhar pela abertura econômica, para que novas tecnologias e novos conhecimentos sejam trazidos pelas empresas de ponta do planeta, capacitando assim nosso próprio capital humano.

O foco na ciência e tecnologia, juntamente com a nova estratégia de política comercial, buscando uma maior integração ao comércio internacional, serão as chaves para o futuro crescimento do Brasil.

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