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O presidente mexicano Andres Manoel Lopez Obrador e o ex-ministro da Fazenda, Carlos Urzua. Foto: Pedro Pardo/AFP
O presidente mexicano Andres Manoel Lopez Obrador e o ex-ministro da Fazenda, Carlos Urzua. Foto: Pedro Pardo/AFP| Foto: AFP

Imagine uma situação na qual um presidente eleito com forte apelo popular se encontra em grande dificuldade em definir uma política econômica que transmita tranquilidade e confiança aos mercados. Para que isto ocorra, esse presidente escolhe um nome forte para conduzir seu Ministério da Fazenda, tranquilizando grande parte do mercado, apesar de narrativas que não condizem com o desejado por investidores domésticos e internacionais.

Muitos desses investidores, principalmente dos Estados Unidos, olham para esse país com confiança devido à postura, narrativa e ideias que esse ministro da Fazenda coloca na mesa desde sua posse, há sete meses.

Um dos grandes temores, então, passa a ser a saída desse ministro e a forma como a política econômica avançará entre narrativas ideológicas e uma relação conturbada entre Executivo e Legislativo.

No última dia 9 de julho, o ministro da Fazenda mexicano Carlos Urzua pediu demissão, deixando o presidente Andres Manoel Lopez Obrador em pânico. Essa saída, inesperada até certo ponto, impactou imediatamente o mercado, fazendo o peso mexicano perder 2% do seu valor em apenas um dia.

A escolha de Lopez Obrador por Carlos Urzua surpreendeu grande parte do seu eleitorado (tradicionalmente de esquerda), pelo fato de Urzua ser reconhecido no mercado como um economista pragmático e de visões claras para desburocratizar e atrair investimentos ao país.

Tentativas de Urzua para quitar a dívida da Pemex (empresa estatal de petróleo mexicana) por meio de eficiência e reorganização das contas não foram bem aceitas por Obrador, que via na empresa um patrimônio público cuja função não era dar lucro, e sim servir aos mexicanos.

No dia da sua saída, Urzua deixou claro que não compreendia como um governo poderia empregar pessoas sem a qualificação necessária para exercer suas funções e que não aceitaria trabalhar em um governo que ignora evidências para se basear em convicções ultrapassadas e extremistas.

O México vive uma intensa crise de segurança pública, desemprego e uma economia vacilante que não consegue demonstrar forças para crescer. A economia mexicana contraiu 0.2% no primeiro semestre deste ano. A capacidade de produção da Pemex, por sua vez, caiu para seu menor nível em 40 anos. Enquanto Urzua argumentava que a privatização de empresas ligadas à Pemex era necessária, Obrador o ignorava e seguia em decisões consideradas controversas, tais como a do cancelamento das obras do novo aeroporto da Cidade do México, que já estavam bem avançadas.

Um populista por natureza

Obrador é um político populista por natureza. Observei em 2005 a "Marcha do Milhão" convocada por ele na Cidade do México, e muito de sua narrativa segue firme até hoje. Convicto do microgerenciamento político, o processo de tomada de decisão no país não é compartilhado entre outras figuras mais preparadas. Para 67% dos mexicanos, sua grande decisão política, desde que assumiu, foi a venda do avião presidencial. Apesar de criar uma percepção positiva de economia e desapego ao poder, o impacto real disso é praticamente nulo. Entre as decisões mais desaprovadas, está a de retirar verbas para creches, que gerou 61% de rejeição entre os mexicanos. No entanto, isso não foi suficiente para manchar sua imagem de reformador da política e do estado mexicano.

A saída de Urzua abre a porteira para possíveis novas baixas no primeiro escalão na Cidade do México. Por mais que a nomeação de Arturo Herrera, vice de Urzua, para o cargo de ministro tenha aliviado um pouco as tensões com investidores, o temor de que essa saída tenha sido apenas o início de uma desagradável sequência preocupa ainda mais.

Apesar do nome de Arturo ter agradado, quem acompanha diariamente a dinâmica dessa administração entende que quem dará as cartas continuará sendo Obrador. Com uma eloquência popular de amplo impacto, o presidente mantém um apoio popular alto (aproximadamente 70%, segundo pesquisa do último dia 14 realizada pelo jornal "Reforma") e sua forma de atuar também agrada (85% da população apóia suas medidas, segundo pesquisa da Buendia y Laredo).

Esse apoio popular representa um risco a médio e longo prazo para o país. Obrador está sendo capaz de convencer mexicanos que a contração e baixo desempenho econômico nada tem a ver com sua postura como presidente. Culpando líderes anteriores e um ambiente abstrato de ataques contra sua administração, segue ditando as regras mesmo que os resultados venham se mostrando pífios. Sua relação com Trump, no qual Obrador evita a confrontação nos temas de imigracão, muro e reorganização do NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), segue positiva, o que contraria a parte mais fiel do seu eleitorado, mas agrada a grande parcela da população.

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