Quase três semanas atrás, o papa Francisco canonizou, em Roma, cinco bem-aventurados. No Brasil, todo o destaque foi (merecidamente) para a Irmã Dulce, mas há uma outra figura que vale a pena recordar: o cardeal Newman, agora São John Henry Newman. Em julho, tive a oportunidade de visitar e assistir à missa na igreja que ele fundou em Birmingham, no Reino Unido, e pude conhecer um pouco mais a vida do novo santo. Ele não era cientista, e talvez nem mesmo fosse um grande entusiasta da ciência, mas era apaixonado pelo ambiente universitário, e foi reitor da Universidade Católica da Irlanda por alguns anos. Ele certamente tinha consciência da importância da ciência e da correta relação que a pesquisa científica deveria ter com a fé e a filosofia.
É por isso, entre outras coisas, que a zoóloga e bioquímica Berta Moritz – criadora da ótima página Science Meets Faith no Facebook – fez uma sugestão daquelas no site da Society of Catholic Scientists: fazer de São John Newman copadroeiro dos cientistas, ao lado de Santo Alberto Magno – para vermos como os cientistas já estão bem de padroeiro, porque estamos falando de ninguém menos que o professor de São Tomas de Aquino... no mínimo, no mínimo, pede Berta, que Newman também seja declarado padroeiro da entidade de cientistas católicos.
No texto, ela defende sua proposta mostrando como a paixão pela verdade dirigiu toda a vida de Newman, determinando inclusive sua conversão do anglicanismo para o catolicismo. E a verdade científica não pode entrar em choque com a verdade religiosa, sendo ambas emanações da mesma Verdade. Por isso, a pessoa de fé não precisa ter medo da ciência, e ele mesmo demonstrou isso em sua reação à teoria da evolução, proposta por Charles Darwin quando Newman já era um padre católico e já tinha passado pela experiência de ser reitor. Newman compreendia os furos da teologia natural de sua época, ditada pelo trabalho de William Paley, e entendia o “design da natureza” de uma forma diferente, mais próxima da teologia natural praticada hoje por nomes como Alister McGrath.
Pois eu acho que São John Newman daria um ótimo copadroeiro para os cientistas, e ainda poderíamos recrutar Santa Hildegarda de Bingen para formar um trio de respeito. Neste 1.º de novembro, os católicos celebramos a solenidade de Todos os Santos, em que honramos não apenas aquelas pessoas cuja santidade está formalmente declarada pela Igreja Católica, mas todos aqueles que estão no céu e cujos nomes só conheceremos na vida eterna. Penso em quantos cientistas não estão, agora, compartilhando a “companhia” de Newman, Alberto e Hildegarda por também terem sido pessoas que levaram a sério sua fé cristã. Até somos capazes de citar alguns nomes, como Georges Lemaître, o pai do Big Bang e um padre dedicado; ou Jerôme Lejeune, o geneticista amigo de São João Paulo II e que descobriu a causa da Síndrome de Down, além de ter sido incansável na luta contra o aborto. Ele, aliás, tem processo de canonização em curso, o que poderia fazer dele o primeiro santo “cientista de profissão”. Mas a maioria permanece anônima.
Que São John Newman, Santo Alberto Magno, Santa Hildegarda de Bingen, Lemaître, Lejeune e tantos outros intercedam pelos inúmeros cientistas vivos que também têm fé firme, que sabem integrar sua ciência e sua religião sem manter “vidas duplas”, e que se esforçam para um dia também chegar à glória eterna. São Josemaría Escrivá afirmou que “Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana”; que Ele também tenha muita gente Sua na ciência.
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