Hubble vem levando sozinho o crédito pela descoberta da velocidade da expansão do universo.
Em junho deste ano, publiquei aqui no blog um texto sobre uma possível “censura” que um artigo do padre belga Georges Lemaître teria sofrido ao ser traduzido para o inglês, em 1931. No artigo original, de 1927, em francês, é possível perceber que o jesuíta já tinha chegado aos números e observações que comprovariam a expansão do universo, descoberta que hoje é atribuída a Hubble, que publicou um artigo neste sentido em 1929. Naquele post, eu disse que “na melhor das hipóteses, o padre Lemaître e Hubble estariam trabalhando ao mesmo tempo em observações semelhantes (no melhor estilo Darwin e Wallace), e o belga publicou suas conclusões antes. Na pior das hipóteses, realmente houve caso de censura e plágio”.
Pois bem: o astrônomo Mario Livio resolveu pesquisar o assunto, e suas conclusões “absolvem” Hubble da acusação de censura (o artigo completo de Livio na Nature está aqui, mas eu não tenho acesso). Ele encontrou uma carta de 1931, escrita por Lemaître, em que o jesuíta dizia ter omitido ele mesmo os trechos de seu artigo que diziam respeito à velocidade da expansão do universo, ao traduzir o artigo para o inglês, porque eles “não interessavam”. Na carta, o padre não explica os motivos para pensar assim, mas Livio imagina que Lemaître podia estar preocupado com o fato de estar desatualizado, já que entre 1927 e 1931 houve avanços no cálculo da expansão do universo.
Então, parece que realmente não houve censura (no máximo, uma “autocensura”). De qualquer maneira, o que permanece desse caso é o fato de que, como eu disse no título daquele post de junho, Lemaître viu bem mais que a teoria do Big Bang, e deveria receber o crédito por suas descobertas ao lado de Hubble.
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