Elas viajam em comunidade

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Quando a jornalista e turismóloga Gilsimara Caresia criou a comunidade “Mulheres que viajam e mochileiras” no Facebook, ela com certeza não imaginava a proporção que seu trabalho iria tomar, que encontraria mais de 180 mil mulheres dividindo os mesmos sonhos. Fundada em 2016, atualmente elas formam a maior comunidade de mulheres viajantes da plataforma, que conta com uma única administradora.

Gilsimara soma mais de 100 países viajados. Após 17 anos atuando no mercado financeiro, deixou seu posto de concursada para um período sabático de volta ao mundo, em que mochilou sozinha por dois anos pelos cinco continentes. Na volta, fez do hobby uma profissão. É jornalista, turismóloga, com pós em Administração e atualmente mestranda em Turismo. Empreendedora em viagens, é criadora da agência de turismo exclusiva para mulheres GirlsGo.

Gilsimara também é palestrante, já esteve duas vezes no palco do TEDx e, em razão das suas iniciativas, em 2019, foi finalista do Prêmio Nacional do Turismo. Não é à toa que a comunidade faz tanto sucesso.
“A comunidade conecta mulheres viajantes gerando empoderamento, ajuda mútua, contribuindo para a transformação de sonhos em ação, para a equidade de gênero e cadeira produtiva do turismo. Além de empoderar mulheres viajantes e contribuir para que sonhos sejam transformados em ações, através de conexões virtuais ou presenciais, conteúdo, encontros e viagens”, define a orgulhosa Gilsimara, que também me contou como toda essa história começou:

“Minhas histórias começaram a viralizar e eu comecei a receber muitas mensagens de mulheres com as mais diversas dúvidas, desde questões sobre coragem, até sobre orçamento. As perguntas foram aumentando cada vez mais ao ponto de eu não conseguir responder e, algumas delas, eu realmente não sabia o que responder. Aí tive ideia de conectar as mulheres para que se ajudassem. O mais incrível é que essa ideia apareceu durante um sonho, quando eu não estava muito confortável em deixar tanta gente sem resposta.”

Os assuntos na comunidade são diversos: muitos pedidos de dicas sobre lugares como economizar durante a viagem, companhia para viajar (muitas amizades saem das telas para a vida real), referência de prestadores de serviço.

O perfil das integrantes também é variado. Desde mulheres que precisam de incentivo e informações para viajar sozinha, até mulheres que buscam informações sobre destinos legais para lua de mel. Outras vezes aparecem mulheres vulneráveis, por separação, por exemplo, pedindo dicas de como fazer uma viagem para buscar forças para atravessar a nova fase.

Muitas histórias da comunidade surpreenderam a nossa viajante, mas Gil destaca uma em especial e que fez toda a diferença para os seus próximos passos. “Temos muitas histórias incríveis lá, mas lembro que quando ainda éramos pequenas e eu estava voltando da minha viagem de dois anos, resolvi marcar um encontro da comunidade em um hostel, para bater papo e falar de viagens. Esperávamos entre 40 a 70 pessoas. Ao final, apareceram mais de 150, nem coube direito. Mas foi quando eu tive a certeza que eu não podia limitar o trabalho ao que estava na tela de um computador, mas sim trazer para a vida presencial”, relembra.

A partir desse episódio, Gil criou o maior evento do país no segmento de mulheres e viagens, o Encontro Brasileiro de Mulheres Viajantes, que neste ano será realizado nos dias 19 e 20 de março. Desde a primeira edição, mais de 50 viajantes palestraram sobre o tema. “A maioria delas nunca tinha palestrado. Agora, o espaço está criado e abrindo portas para bastante gente”, destacou.

Com tanta coisa legal acontecendo, é claro que a comunidade tem um futuro lindo pela frente e a Gil tem planos de escalar o grupo para conectar o máximo de mulheres possíveis entre si e, também, dar sua contribuição com conteúdo, eventos e viagens. “Quando olho para trás, eu ainda me surpreendo ao lembrar que a ideia era conectar mulheres virtualmente de maneira despretensiosa e, ao final, isso virou uma profissão para mim. Deixei o mundo corporativo e me tornei uma empreendedora.”

Hoje ela vê o grupo como uma força motriz que vai além dos benefícios das mulheres que estão na comunidade.

“O turismo foi tão prejudicado na pandemia. Fala-se em mais de um milhão de desempregados na área durante esse período. Conforme a situação for se tornando mais favorável às viagens, queremos gerar a consciência das viajantes do quanto elas fazem a diferença na vida de outras pessoas que trabalham no setor”, relata Gilsimara.

Seu projeto integra o programa de aceleração do Facebook que selecionou 11 comunidades no Brasil, entre as 14 mil inscritas no mundo. Perguntei para a Gil como estava sendo a participação no programa, do qual também participei em 2020, e olha só o que ela me respondeu:
“Ter a nossa comunidade selecionada foi uma grande alegria. Os projetos foram crescendo muito rápido e a sensação é de que estamos organizando a casa nesse processo de aceleração. Desde o conteúdo oferecido à troca com as comunidades do Brasil e internacionais, está sendo um aprendizado incrível. É muito bom ter profissionais desse nível para apoiar as nossas ideias. Sem dúvidas, será um passo para o projeto mudar de escala nas realizações.”

No fundo, o objetivo da comunidade é simples: contribuir para que cada mulher possa realizar seu sonho de viagem ou de vida. “O aumento de mulheres viajando reflete que as mulheres estão conquistando seu espaço, sua independência financeira e emocional. Viajar, seja sozinha ou acompanhada, para muitas é uma celebração, a coroação de uma libertação que passa por muitos estágios. Muitas pessoas identificam a viagem como lazer, mas nós acreditamos que ela vai além, envolve empoderamento, autoconhecimento e empatia”, determina.

Ficou interessada em fazer parte da comunidade da Gilsimara? Procure pelo grupo “Mulheres que viajam e mochileiras” no Facebook ou siga o Instagram @girlsgo.