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curso sobre o universo de Nina Horta.
Nina Horta.| Foto: Bruno Geraldi

Já em abril, volto para março e depois volto para abril de novo. Começo com o mês das mulheres. Ainda precisamos de uma data para lembrar que temos conquistas sim, mas que precisamos ter mais. E o que eu queria era puxar um fio que me levasse novamente ao vídeo que gravei para a Agência Síbaris, da jornalista Joana Munne, que está no Instagram. Então, misturo dois assuntos: o vídeo e o curso do título.

Vídeo

A ideia do vídeo era de que algumas mulheres falassem um pouco sobre si e suas preferências na gastronomia em 60 segundos. Logo depois de aceitar o desafio fui ficando agoniada, honrada com o convite de ser uma das 31 mulheres escolhidas, porém agoniada. Sofro com escolhas.

Pode ser um problema do signo, que eu precisava dizer qual era. Deveria ter falado que os dois peixes, cada um nadando em uma direção, me representam. Sou assim de dar voltas, vou numa direção e de repente mudo, e de sonhar também. Acredito que Touro, o signo ascendente, tem me ajudado a colocar os pés no chão. E não pense que entendo do assunto, ou acredite muito.

Proposta

Por que falar da ideia da Síbaris? Porque entre as perguntas estava: “se pudesse escolher em toda a história da humanidade alguém para jantar, quem escolheria”? Muito difícil, pensei, tanta gente que eu gostaria de uma prosa íntima em uma refeição especial: de Gandhi até Lacan e Sócrates. Daí achei que eu deveria escolher alguém da área, nem deu tempo de piscar e a jornalista Nina Horta apareceu, claro. Um encontro com a “mais importante cronista de comida do Brasil” seria o máximo, divertido também, com certeza. Mas não é que fui atropelada por Shakespeare, o inglês foi o escolhido – culpa das aulas e leituras sobre o autor que abracei na pandemia.

Curso

Finalmente, chego ao curso ministrado e produzido por Luíza Fecarotta. “Fazer uma escavação arqueológica da obra de Nina Horta, que reflete astúcia na observação afetiva e crítica do cotidiano da comida” é comigo mesmo. Parece que removo um pouco da culpa de não a ter escolhido para o jantar.

Assim que a gastronomia tomou as rédeas da minha vida, esbarrei nas colunas, publicadas no jornal Folha de São Paulo, da Nina Horta, que morreu em 2019. Nunca mais abandonei e quase morri quando um dia em casa abri um envelope com as receitas de um chef famoso que tinha andado por aqui, com uma dedicatória. Então, ela existia mesmo.

Quem organiza

Fã da Luíza também, recomendo o curso para “todo mundo que gosta de comer, cozinhar, ler e escrever”. Misturar literatura e comida abre o meu apetite e Luísa entra na categoria mulheres inspiradoras.

Ela é jornalista especializada em gastronomia e pós-graduanda no curso de Formação de Escritores, do Instituto Vera Cruz. Foi repórter, editora e crítica de restaurantes por 16 anos na Folha de São Paulo e responsável pela curadoria nacional do Festival e da Exposição Fartura, entre outras atividades. Veja os detalhes da inscrição indo direto para o final do post, ou continue a leitura para saber mais sobre as minhas escolhas para o vídeo.

Melhor comida

Questionada sobre a melhor comida delirei. Essa era fácil: frango assado, criado solto e sem ração, recheado com farofa doce e preparado por quem me criou. Daí lembrei do frango com foie gras que vem com um ramo de lavanda e ervas todo brilhante e exibido, servido no hotel Nomad, em Nova York, que recomendo e não citei no vídeo. Digo sempre para convidar alguém a dividir o prato. Quem experimenta devolve sinceros agradecimentos. Ainda teria dito, se tivesse tempo, que o lugar tem um clima parisiense do século passado com ar contemporâneo, merece a visita, nem que seja para um drink em um dos bares.

Melhor experiência

Não satisfeita em falar apenas do melhor prato, resolvi citar as melhores refeições que já tive, fui injusta, faltaram duas, teria muitas mais, mas daí já seria um exagero.

Não tenho como esquecer a primeira vez que fui ao restaurante Mugaritz, do chef Andoni Aduriz, em San Sebastián. Foi a minha iniciação na área e a visita rendeu horas no divã, era a descoberta de um outro mundo. Marcantes também as primeiras refeições no El Celler da Can Roca, dos irmãos Roca, e no Asador Extebarri, do chef Victor Arguinzoniz. Dois estilos de cozinhas diferentes que me deixaram de boca aberta, sem adjetivos que pudessem defini-los.

E como não falei de Ferran Adrià, que sacudiu o mundo com o seu elBulli e formou cozinheiros com o lema da criatividade e do uso de ingredientes locais?. Jantar lá foi uma epifania. Na mesma categoria entra seu irmão Albert Adrià e os seus incríveis restaurantes em Barcelona, principalmente o 41 Grados, que me levou ao espaço não só pela comida. Cada prato vinha com uma encenação musical e imagens despertando sensações que desconhecia. Enigma herdou a proposta do restaurante, que fechou. Aliás, atualizando, pelas informações do jornalista Josimar Melo, todos os cinco restaurantes do grupo El Barri fecharam, em consequência da pandemia.

Fora também ficou o restaurante Fäviken, do chef Magnus Nilsson, na Suécia, que infelizmente deixou fãs sem rumo. O jantar lá foi como colocar os pés em um mundo totalmente novo. Às vezes duvido que estive naquela fazenda em terras geladas beirando o Polo Norte, acolhidos dentro de um antigo e aquecido celeiro. Durante três anos contei algumas dessas experiências no Bom Gourmet, que em breve estarão em um livro.

A pior comida

Falei que a pior comida tinha sido uma pizza em Veneza, mas vou confessar que alguns menus-degustação provados, longe ou perto de casa, me deram vontade de ser a Jeannie, aquela gênia de dois mil anos de idade do seriado na TV, libertada pelo astronauta Tony Nelson e que realizava seus desejos. Pois, o meu, às vezes, é sumir sem deixar vestígios de pratos intocados em jantares enfadonhos.

Pra terminar o interminável post confesso que me achei muito “besta”, como diria um amigo, isso porque se fosse uma comida eu falei que seria uma vieira (crua ou levemente grelhada) e não sei se é porque amo o molusco ou porque sou tão reservada que pareço estar dentro dos dois leques de uma concha. Agora, se fosse uma bebida, falei que seria champanhe e aí não tenho desculpas de me acharem esnobe demais, mas não sou.

Não sei como cheguei até aqui. Imagino que os astros ou os deuses – ando pelas páginas de tragédias gregas também –  bagunçaram a minha cabeça, espero que não a do leitor. Ahh, não esqueça do curso, que começa no sábado (10/4) te espero lá.

Serviço

O quê: Nina Horta: Literatura de Sensações (curso on-line)

Onde: pela plataforma Zoom.

Link para inscrição no site www.aipim.etc.br

Quando: sábados, das 10h às 12h; nos dias 10/4, 17/4, 24/4 e 1/5

Ou terças-feiras, das 19h às 21h; nos dias 13/4,20/4, 27/4 e 4/5

Quanto: R$ 380, em até duas vezes (depósito ou pix).

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