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Dave Chappelle
Dave Chappelle: humanidade e humildade| Foto: Mathieu Bitton/Netflix/Divulgação

Dave Chappelle detém uma distinção quase única entre os comediantes: sempre que ele lança um especial, é notícia. Seu último programa da Netflix, ‘The Closer’ ('Encerramento', no Brasil), imediatamente o fez ser acusado de “transfobia e homofobia sem sentido” (The Daily Beast), “Traição” (GQ) e “diatribes anti-LGBTQ” (GLAAD - Aliança contra a Difamação Gay e Lésbica).

‘Encerramento’ não é um dos melhores shows de Chappelle — ele fez nove desses especiais, incluindo seis para a Netflix, e o novo é provavelmente o menos engraçado entre eles — mas em sua compaixão é o oposto de transfóbico. Chappelle exibe muita humanidade, muita humildade e muito questionamento enquanto faz o seu melhor para lidar com a questão de como ser respeitoso com as pessoas transgênero, ao mesmo tempo que reconhece que na comédia nada deve ser proibido, especialmente se seu estilo de standup está dizendo o indizível. Chappelle insiste no direito de continuar a dizer a verdade como a vê, mas não está interessado no antagonismo por si só. O que ele está fazendo não é trollagem. Ele realmente não quer machucar as pessoas. Ele sai de seu caminho para esclarecer o quão importante ele acha que é ser sensível às pessoas trans. Dizer que pode haver humor no transgenerismo é apenas dizer: “Bem-vindo à humanidade. Todo mundo é engraçado. ”

A peça central do especial de Chappelle é uma longa reminiscência sobre uma performer trans que ele conhecia chamada Daphne. “Conhecia”, no passado, porque Daphne cometeu suicídio em outubro de 2019. Daphne Dorman era uma comediante stand-up cuja família está defendendo Chappelle. Nada em ‘Encerramento’ teria incomodado Daphne, disseram dois membros da família.

“Daphne estava maravilhada com a graciosidade de Dave”, escreveu a irmã de Dorman, Becky, em um texto para o site The Daily Beast. “Ela não achava as piadas dele rudes, grosseiras, desagradáveis, toscas, nada. Ela achava as piadas dele engraçadas. Daphne entendia de humor e comédia — ela não se ofendeu. Por que a família ficaria ofendida? "

Depois que Chappelle mencionou Daphne em um especial anterior da Netflix, Dorman se gabou disso nas redes sociais. Outra irmã, Brandy, disse em um post no Facebook que Chappelle “amava minha irmã e sentia empatia por sua experiência humana e, sim, ele faz piadas terríveis que também são engraçadas.Toda a nossa família faz isso. Nossos funerais são risos em meio às lágrimas, lamentamos ao lembrar as vezes em que rimos juntos e, sim, um pouco de humor impróprio também… Sempre que Dave defender Daphne, estaremos lá por Dave. Este homem é nossa tribo, e nós choramos ao lado dele.”

Chappelle observou naquele especial anterior, ‘Sticks & Stones’, que Daphne ria especialmente das piadas que ele fazia sobre gênero.

Becky disse ao The Daily Beast que é completamente errado culpar Chappelle pelo suicídio. “Ninguém sabe como era a vida para mim e meus irmãos. Somos produtos de como fomos criados. Dave foi o ponto mais brilhante para Daphne; ela se apaixonou pela primeira vez. Culpar Dave está além da coisa errada a se fazer. Ele a ajudou e a deixou ficar confortável enquanto falava com ele. Ela tinha muitos demônios; Dave Chappelle NÃO era um deles. ”

É notório que Chappelle nutre uma grande afeição por Daphne, então rotulá-lo como um transfóbico requer ignorar o teor de seus comentários e se concentrar muito estreitamente em apenas uma frase, que se resume a quatro palavras: "O gênero é um fato", declarou Chappelle. E ele disse que estava no “time TERF”, o que significa que ele concordou com J. K. Rowling que masculino e feminino são categorias biológicas definidas. (Trans Exclusionary Radical Feminist, um termo cunhado pelo movimento trans para insultar e marginalizar os pontos de vista popularmente defendidos).

O movimento trans quer nos fazer acreditar que referir-se à intransigência do DNA equivale a discurso de ódio. Isso não é apenas errado, é autodestrutivo. Se o movimento trans quiser ser aceito, ele deve parar de insistir que outros devem aderir à sua biologia revolucionária, construída em torno da insistência de que os homens podem dar à luz.

“Gênero é um fato” não teria sido uma declaração polêmica 20 anos atrás, e apenas uma pequena minoria discorda dessa declaração até hoje. Se dizer "gênero é um fato" o torna transfóbico, não importa o quão respeitoso você possa ser com os sentimentos das pessoas trans, não importa o quão gracioso você possa ser com as pessoas trans, não importa se você (como Chappelle fez) criou um fundo fiduciário para a filha de uma pessoa trans (Daphne), então o movimento trans insiste em excluir os pontos de vista da maioria das pessoas.

Quando você declara que a maioria das pessoas é transfóbica, está apenas marcando sua própria posição como extrema. Esse não é o caminho para a aceitação, e os apelos raivosos de ativistas trans para que o especial de Chappelle seja cancelado atingem a maioria das pessoas como muito mais preocupantes do que qualquer coisa que Chappelle já disse. O que aconteceu com “concordar em discordar”?

Chappelle está dizendo às pessoas trans: “Eu respeito vocês, mas discordo de vocês”. Indivíduos trans e seus aliados respondem que o desacordo é em si mesmo desrespeito, e não é apenas desrespeito, é odioso e além dos limites. Deve ser punido. Chappelle é um dos melhores de sua arte nos EUA. Cancelá-lo não pode ser a resposta para a questão de como as pessoas trans podem ganhar respeito.

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