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O presidente argentino Javier Milei (à direita) e o presidente israelense Isaac Herzog falam à imprensa ao lado de uma casa queimada no kibutz Nir Oz, um dos locais do ataque de outubro do Hamas em 2023, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, sul de Israel, 8 de fevereiro de 2024.
O presidente argentino Javier Milei (à direita) e o presidente israelense Isaac Herzog falam à imprensa ao lado de uma casa queimada no kibutz Nir Oz, um dos locais do ataque de outubro do Hamas em 2023, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, sul de Israel, 8 de fevereiro de 2024.| Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Após o ataque do Irã a Israel, Javier Milei cancelou de último momento a sua viagem à Europa e regressou dos Estados Unidos para liderar uma reunião do comité de crise com os ministros do gabinete nacional e com a participação do embaixador israelita, Eyal Sela.

O Governo manifestou o seu apoio a Israel e acusou o Irã de procurar “a destruição da civilização ocidental”. “O Governo da República Argentina condena categoricamente o ataque sem precedentes da República Islâmica do Irã contra o Estado de Israel e reafirma o seu apoio ao direito legítimo de Israel de defender a sua soberania”, disse em um comunicado emitido pela presidência.

“Israel é um bastião dos valores ocidentais no Oriente Médio e a Argentina estará sempre ao seu lado diante daqueles que pretendem seu extermínio”, concluiu.

A preocupação do presidente com o que ocorre em Israel tem seus motivos. A Argentina atualmente é o país com a maior comunidade de judeus do mundo hispânico, com cerca de 250 mil fiéis em seu território. Já houve dois ataques terroristas em solo argentino, contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 e contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994.

Na semana passada, após três décadas desde o ocorrido, o Tribunal Federal de Cassação Criminal determinou, em decisão histórica, que ambos atentados foram organizados pelo Irã e executados pela organização terrorista Hezbollah. Os juízes Carlos Mahiques, Diego Barroetaveña e Angela Ledesma também concluíram que no caso AMIA, foi um crime contra a humanidade.

A reunião

A reunião com o objetivo de analisar a situação no Médio Oriente, a segurança nacional e a cooperação com Israel, começou às 20h de sábado (13), e contou com a participação, além de Milei, de sua vice-presidente, Victoria Villarruel; sua secretária geral, Karina Milei; seu principal conselheiro político, Santiago Caputo; o seu porta-voz, Manuel Adorni; o Chefe da Casa Civil, Nicolás Posse; o embaixador israelita, Eyal Sela; e quase todos os ministros.

Segundo o governo, a participação de cada ministro no encontro foi para fornecer “detalhes sobre as ações de cada pasta” e a do embaixador israelita para “dar informações diplomáticas” sobre o que aconteceu no seu país nas últimas 48 horas após o ataque.

No final da reunião, o porta-voz presidencial Manuel Adorni falou à imprensa ao lado de Sela e reiterou que “a Argentina apoia enfaticamente o Estado de Israel na defesa da sua soberania”.

Por sua vez, o embaixador de Israel transmitiu "a gratidão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e do presidente Isaac Herzog ao presidente Javier Milei pela sua clara e retumbante condenação do Irão e por estar do lado certo da história". “Estamos muito gratos ao senhor presidente e ao seu governo”, acrescentou.

Milei decidiu criar um comitê de crise para monitorar a guerra entre o Irã e Israel. Neste sentido, deu instruções à ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, para contatar representantes dos Estados Unidos, França, Alemanha, Itália e Israel com o objetivo de trocar informações e eventualmente coordenar ações. Mondino também teria sido instruída a buscar apoio na América Latina.

Até o momento, o presidente argentino foi o único líder latino-americano que apoiou abertamente o direito à autodefesa exercido por Israel para aniquilar o grupo terrorista Hamas em Gaza. Desde o começo de sua campanha, Milei deixou clara a sua postura e alinhamento com países que “lutam pela liberdade” como os Estados Unidos e Israel.

Cristina Kirchner, seu relacionamento com o Irã e o ataque à AMIA

O ataque ao principal centro comunitário da comunidade judaica argentina não foi apenas o pior da história da Argentina como também um dos maiores exemplos de impunidade no país. 30 anos depois, nenhum dos terroristas foi preso ou um único suspeito julgado.

Além do ataque à AMIA, que deixou 22 mortos e mais de 200 feridos, o Hezbollah também foi acusado de ter realizado o ataque à Embaixada de Israel em Buenos Aires, dois anos antes, quando 29 civis foram mortos e 242 pessoas ficaram feridas. Segundo a justiça argentina, o ataque foi perpetrado pelo grupo militante xiita, de origem libanesa, sob ordens do Irã, algo que aquele país sempre negou.

O primeiro a acusar o Irã de estar por trás dos atentados foi um antigo diplomata iraniano chamado Manoucher Motamer. Ele disse que funcionários da embaixada daquele país estavam envolvidos. A acusação foi replicada pelos governos dos EUA e de Israel, que apontaram o Hezbollah como os autores materiais do ataque.

No entanto, houve várias idas e vindas que não permitiram a conclusão do caso AMIA e muito menos a condenação dos verdadeiros responsáveis. A primeira investigação do incidente terminou em um julgamento que determinou a anulação de tudo o que havia sido investigado e a condenação dos juízes e promotores responsáveis pelo caso.

Após a anulação do julgamento, o então promotor Alberto Nisman liderou uma nova investigação sobre o ocorrido e se concentrou na chamada “rota iraniana”, com base em informações que recebeu dos serviços secretos dos EUA e de Israel.

Em outubro de 2006, Nisman acusou formalmente o Irã de estar por trás do ataque e o Hezbollah de o ter levado a cabo e apelou à captura dos responsáveis. Um ano depois, a Interpol acedeu ao pedido argentino e emitiu mandados de prisão para cinco ex-funcionários iranianos. Contudo, o Irã recusou-se a entregar os suspeitos.

Por este motivo, foi que em 2013, Cristina Kirchner, como presidente da Argentina, assinou um memorando de entendimento entre a Argentina e o Irã para supostamente  “esclarecer o ataque contra a AMIA”. O memorando foi assinado na Etiópia. Para a sua entrada em vigor teve que ser assinado pelos parlamentos de ambos os países. O argentino fez isso um mês depois da assinatura. O iraniano nunca o aprovou, por isso o acordo não entrou em vigor.

Em 14 de janeiro de 2015, Nisman denunciou Kirchner, seu então ministro das Relações Exteriores, Héctor Timerman, e entre outros líderes kirchneristas de "negociar um plano de impunidade e encobrir os fugitivos iranianos acusados ​​da explosão à AMIA". Segundo o procurador, a finalidade do acordo era separar o Irão da responsabilidade pelo ataque, a fim de obter compensação energética do governo de Teerã.

Nisman baseou parte de sua investigação em interceptações telefônicas. Neles, garantiu que a ex-presidente “estabeleceu comunicações indiretamente com altos comandantes iranianos e com Moshen Rabbani, ex-adido cultural da embaixada iraniana em Buenos Aires”, um dos suspeitos do ataque.

O corpo do promotor, com ferimento de bala na cabeça, foi encontrado no banheiro de seu apartamento em Buenos Aires, no dia 18 de janeiro de 2015, quatro dias após a denúncia e 24 horas antes de comparecer perante o Congresso para apresentar as provas nas quais baseou sua acusação.

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