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Manifestantes participam de protesto no aniversário de um ano da morte de George Floyd, em Miami, Flórida, EUA, em 25 de maio de 2021.
Manifestantes participam de protesto no aniversário de um ano da morte de George Floyd, em Miami, Flórida, EUA, em 25 de maio de 2021.| Foto: EFE / EPA / CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

"Os intelectuais dão às pessoas que têm a desvantagem da pobreza a desvantagem adicional de um sentimento de vitimização", escreveu Thomas Sowell, que cresceu na pobreza e ficou órfão na primeira infância. Dando continuidade ao pensamento no livro ‘Intelectuais e Sociedade (2010)’, ele refletiu sobre os danos causados ​​por aqueles que são supostamente mais inteligentes:

“Eles encorajaram os pobres a acreditar que sua pobreza é causada pelos ricos — uma mensagem que pode ser um aborrecimento passageiro para os ricos, mas uma desvantagem duradoura para os pobres, que podem ver menos necessidade de fazer mudanças fundamentais em suas próprias vidas que poderiam ajudá-los, em vez de concentrar seus esforços em puxar os outros para baixo.”

Aos 91, Sowell não participa de todas as guerras culturais que chegam ao noticiário, mas seus livros e outros escritos são uma resposta permanente a muitas ideias-zumbis que simplesmente não morrem. Em particular, muito de seu trabalho é uma espécie de pré-refutação às várias formas de pleito racial especial que passaram a circular sob o nome de teoria racial crítica.

Em sua biografia intelectual ‘Maverick: A Biography of Thomas Sowell’, o colunista do Wall Street Journal Jason L. Riley nos lembra que a maioria das controvérsias atuais são simplesmente reformulações antigas, e Sowell fez uma carreira brilhante expondo o pensamento preguiçoso por trás delas. “Quando penso em sua escrita, penso em uma palavra: clareza”, disse o colunista Fred Barnes sobre Sowell. Um dos truques usados ​​pelos proponentes da teoria racial crítica é afirmar que seus postulados são tão complicados que seria tolice tentar resumi-los. Ainda assim, eles se resumem a uma teoria da conspiração desgastada sobre a força supostamente exploradora da supremacia branca e um apelo por preferências e subsídios baseados na raça que se estendem pela eternidade. Sowell viu gente como os demagogos da raça de hoje há décadas. “A comunidade negra há muito tempo é atormentada por oradores fascinantes que sabem como transformar as esperanças e os medos dos outros em dólares e centavos para si mesmos”, escreveu Sowell no livro ‘Black Education: Myths and Tragedies’ (1972), em palavras ainda mais apropriadas hoje:

“A retórica, a moral e o estilo de vida militantes atuais são dolorosamente antigos para mim. Já vi as mesmas entonações, a mesma cadência, as mesmas técnicas de manipulação da multidão… e vi os mesmos messias ​​dirigindo seus Cadillacs e tendo suas fotos publicadas no jornal.”

Sowell conheceu as indignidades da segregação quando estava crescendo e mais tarde quando estava estudando na escola noturna da Howard University em Washington, D.C., no início dos anos cinquenta. Havia restaurantes onde apenas brancos podiam sentar-se e negros comiam em pé, nos balcões. Ele se recusou a frequentá-los. O que ele viu no corpo discente, no entanto, também o deixou chocado: Sowell frequentou a universidade negra porque ele pensava que tal instituição era onde ele poderia dar a maior contribuição para sua raça, mas para onde ele olhava ele via alunos "preguiçosos, desonestos, rudes e irresponsáveis​​”, cujo mau comportamento era tolerado por uma escola que “cede aos seus piores hábitos”. Ele começou a odiar instrutores brancos condescendentes que faziam muitos argumentos do tipo "dê uma chance aos pobres” e avisos de que “você não pode esperar muito deles". O racismo dos padrões baixos não é novo. Em vez de agrupar estudantes negros em estudos raciais onde as expectativas seriam consideradas mínimas, ele disse que as universidades deveriam incentivá-los a estudar medicina, direito e administração de empresas. Ele previu que os estudos para negros se tornariam "meramente um eufemismo para centros políticos negros sediados em faculdades".

Em 1954, quando a Suprema Corte emitiu a decisão Brown v. Board, Sowell disse que foi o único em uma discussão em classe que argumentou que acabar com a segregação não seria nada uma panaceia. “Eu sabia que os obstáculos para o avanço dos negros envolvia mais do que a discriminação”, disse ele. “Me incomodava que parecesse que estávamos constantemente buscando aceitação e validação por parte dos brancos — qualquer pessoa branca, em qualquer lugar.”

Políticas como ação afirmativa e reparações pela escravidão e o ativismo baseado em queixas que hoje se reúne sob o nome de Black Lives Matter vieram do que Sowell pensou ser um impulso absurdo por esmolas e validação branca. Ele também não via muito sentido em explorar os sentimentos de culpa dos progressistas brancos. “A regeneração moral dos brancos pode ser um projeto interessante”, disse ele, “mas não tenho certeza se temos tanto tempo de sobra. Aqueles que lutaram nesta frente são muito parecidos com os generais que gostam de voltar a lutar na última guerra em vez de se preparar para a próxima.”

Quando Sowell foi admitido em Harvard, um de seus professores de redação, o poeta Sterling Brown, disse a ele: "Nunca volte aqui e me dizendo que você não conseguiu vencer porque os brancos são maus". Sowell chamou isso de “o melhor conselho que eu poderia ter recebido”. Em 1964, ele escreveu a um estudante negro de graduação, em uma carta que Riley cita extensamente, que as demandas por “tratamento especial” eram piores do que inúteis. Eles foram, e continuam sendo, contraproducentes:

“Quando todas as leis forem aprovadas e todos os portões abertos, o resultado final será um tremendo anticlímax, a menos que haja uma mudança drástica de atitude entre os negros.”

Sowell alertou profeticamente que a pressão dos anos 1960 por tratamento igual se transformaria em uma demanda por tratamento especial. Ele escreveu, em uma carta à New York Times Magazine, em 1963, que criar padrões diferentes para os negros seria um erro:

“Pessoas que há anos tentam dizer aos outros que os negros basicamente não são diferentes de ninguém, não devem perder de vista o fato de que os negros são como todos os outros, querendo algo em troca de nada. O pior que poderia acontecer seria cultivar esperanças de realmente conseguir isso.”

Riley observa que antes dos anos 1960, esse era o conselho padrão. Os meios de comunicação negros viam isso como um objetivo central para elevar o padrão entre os negros. Jornais como o Chicago Defender publicariam dicas periódicas destinadas a migrantes internos negros do Sul: “Não use linguagem vulgar em lugares públicos”, “Não tenha preguiça. Consiga um emprego imediatamente.” Os intelectuais negros abandonaram amplamente esse foco no autoaperfeiçoamento em favor de uma política de vitimização.

Hoje, nobres progressistas brancos e colunistas do New York Times pedem o desfinanciamento da polícia, enquanto os negros discordam veementemente; uma pesquisa de Minnesota descobriu que, embora um terço dos eleitores brancos gostasse da ideia de reduzir o tamanho da força policial, apenas 14% dos negros concordavam. Décadas antes, Sowell destacou a NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) por seguir o exemplo dos “progressistas brancos na imprensa e na filantropia” e “constantemente tomar posições exatamente opostas à comunidade negra sobre o crime, as cotas, os ônibus”. Em uma entrevista de 1980 ao Washington Post, Sowell usou um termo surpreendente, "capitães do mato", para os negros que favoreciam as visões progressistas-brancas sobre esses assuntos, aparentemente virando as costas para os negros comuns em sua busca pelo carinho de líderes brancos.

As ideias de Sowell, observa Riley, têm raízes profundas. O intelectual negro W. E. B. Du Bois (1968-1963), por exemplo, teria pouca paciência com o Black Lives Matter. Du Bois observou em 1895 que, na era pós-escravidão, o mundo "pedia pouco" aos negros e "eles respondiam com pouco". Exterminar o preconceito não faria muita diferença, a menos que os negros aprendessem a "se esforçar mais" e abandonassem "a desculpa onipresente para o fracasso: o preconceito".

Frederick Douglass cunhou a famosa frase em 1865: “Todo mundo fez a pergunta… ‘O que devemos fazer com o negro?’”Sua resposta, disse ele, sempre foi a mesma:“Não faça nada conosco!(…) Se as maçãs não permanecerem na árvore por conta própria, se forem comidas pelas larvas, se amadurecerem precocemente e caírem, que caiam! (…) E se o negro não consegue se sustentar nas próprias pernas, que caia também. Tudo que eu peço é que dê a ele a chance de se sustentar com as próprias pernas.” Como Booker T. Washington afirmou no livro ‘Up from Slavery’, os negros devem receber todos os privilégios de outros cidadãos, “mas é muito mais importante que estejamos preparados para o exercício desses privilégios”. Hoje em dia tudo isso soa como conservadorismo radical; antigamente parecia senso comum.

©2021 National Review. Publicada com permissão. Original em inglês.
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