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Teletrabalho, home office ou trabalho remoto.
Imagem ilustrativa.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Em 2020, enquanto a maior parte das escolas e universidades lutava para se adaptar à realidade das aulas on-line, um segmento de ensino registrou uma explosão de interessados. Aquele ano foi um marco importante para os cursos superiores oferecidos a distância, com maior número de interessados que os cursos presenciais. De lá para cá, a educação a distância (EAD), impulsionada também pela pandemia, não para de crescer.

É bem verdade que tal crescimento se deve principalmente às instituições privadas, visto que as públicas continuam ofertando, quase exclusivamente, cursos presenciais. Mas a expansão da EAD é boa ou ruim para o nosso país?

Do ponto de vista quantitativo, a EAD é uma ótima solução. Devido à sua capilaridade, pode chegar a praticamente qualquer município brasileiro, o que permite à população maior acesso à formação superior. Em um país que tem déficit histórico nesse quesito e que tenta há anos melhorar seus índices isso é bastante positivo.

Infelizmente, as tecnologias digitais têm sido muito mais utilizadas para permitir redução de custos e automatizar processos que para promover inovações significativas que elevem a qualidade do ensino.

Além disso, a EAD tem características que atendem muito bem ao perfil da clientela da educação superior brasileira, majoritariamente constituída por jovens trabalhadores de classe média baixa, que usam seu salário para financiar o próprio desenvolvimento pessoal. Vantagens como preços mais acessíveis, horários flexíveis e comodidade do estudo em casa também são fatores que explicam a alta procura por cursos a distância.

Por outro lado, quando avaliamos essa modalidade qualitativamente, a análise precisa ser mais profunda. Precisamos reconhecer que os modelos implantados por uma parcela significativa de instituições brasileiras têm foco essencial no baixo custo, e não na qualidade educacional. Isso se deve à concorrência acirrada que existe no setor privado da educação superior e à característica socioeconômica da maioria da clientela, que busca essa modalidade também pelo preço.

Hoje, infelizmente, as tecnologias digitais têm sido muito mais utilizadas para permitir redução de custos e automatizar processos que para promover inovações significativas que, de fato, elevem a qualidade do ensino. Atualmente, nos deparamos com cursos a distância que oferecem uma infinidade de pirotecnias tecnológicas, como apps, inteligência artificial, jogos digitais, realidade virtual, realidade aumentada, entre outros, que na verdade só encobrem projetos conteudistas, rasos, com estrutura curricular cristalizada e baixa interação professor/tutor e aluno, dificultando a participação ativa do estudante.

Além disso, a EAD pressupõe um estudante que desempenhe um novo papel, saindo da postura passiva para ser o protagonista de sua aprendizagem. No entanto, essa autonomia não é percebida em muitos dos alunos de EAD, porque eles não tiveram condições de desenvolvê-la durante seus anos na educação básica.

Apesar desses pontos fracos, contudo, não há mais como retroceder. O desenvolvimento tecnológico e as mudanças de perfil dos estudantes, da sociedade e do mercado de trabalho não permitem que a educação superior fique ancorada em modelos essencialmente presenciais. O Conselho Nacional de Educação, prestes a definir diretrizes para a educação presencial híbrida, abre caminho, assim, para que a dicotomia presencial ou a distância desapareça.

Esse é o futuro, que nos pede cuidado para que o hibridismo não seja apenas mais um recurso na busca de redução do custo do ensino superior. Que ele possa conduzir a uma educação inclusiva, abrangente e de qualidade, que responda aos anseios e necessidades da sociedade e do mercado de trabalho da atualidade.

Ronaldo Casagrande é ex-pró-reitor universitário e vice-presidente do Instituto Casagrande.

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