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O premiê israelense, Benjamin Netanyahu
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu| Foto: EFE-EPA FILE/ABIR SULTAN

Netanyahu está minando todos os esforços das pautas históricas da política externa de Israel.

Nos últimos meses, o país está cada vez mais isolado no cenário internacional. Esse isolamento não é apenas em fóruns políticos, mas também começa a afetar a economia israelense e a imagem do país em países estrangeiros. Principalmente porque parte dessas mudanças, possivelmente, são irreversíveis.

Durante as primeiras décadas de sua existência, a política externa do Estado de Israel tinha como prioridade o reconhecimento internacional do país. Ainda hoje, dos Estados-membros da ONU, Israel é o que possui menos relações bilaterais formais, com 165 países. O marco nesse processo histórico foi a normalização de relações com o Egito, em 1979, primeiro país árabe que reconheceu Israel.

Nos últimos meses, entretanto, as relações exteriores de Israel sofreram reveses no seu reconhecimento. Hoje, a normalização de relações com alguns de seus vizinhos árabes parece impossível, revertendo a tendência recente, com os Acordos de Abraão. Outros países suspenderam suas relações com Israel nos últimos meses, como Bolívia e, mais recentemente, Colômbia.

Minar o processo de normalização entre Israel e seus vizinhos árabes era parte do interesse do Hamas ao realizar o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, sendo parte da agenda mais ampla do Irã

As respostas do governo Netanyahu, entretanto, classificadas como uma “punição coletiva” pela Arábia Saudita, por exemplo, certamente também prejudicam as relações diplomáticas do país, como já vimos em nosso espaço.

Turquia

Outro elemento dessa crise exterior é o fato de Israel enfrentar uma acusação formal baseada na Convenção do Genocídio na Corte Internacional de Justiça, apenas a terceira vez na história em que isso acontece. E a crise exterior agora afetará a economia israelense. O governo da Turquia anunciou ontem (2), a suspensão das relações comerciais com Israel.

O turco Erdogan não é nenhum democrata e não está agindo baseado em princípios, mas em duas agendas. Primeiro, a agenda política e ideológica com a Irmandade Muçulmana e o Hamas - agenda essa que afeta tanto a política exterior quanto a doméstica da Turquia. Segundo, galvanizar apoio regional, especialmente no Iraque e na Síria, a partir do antagonismo aos israelenses, se vendendo como um “campeão do Islã”.

A balança comercial entre Turquia e Israel em 2023 foi de pouco menos de sete bilhões de dólares. O montante não parece muito para os parâmetros brasileiros, mas é uma fatia significativa na economia israelense, incluindo o uso de infraestrutura portuária turca. A condição do governo Erdogan para normalização das relações é a maior abertura para a entrada de ajuda humanitária em Gaza.

O ato de Erdogan vem depois de outro movimento, que não recebeu muita atenção no Brasil. Uma pequena frota de navios zarpou da Turquia com ajuda humanitária, mas foi obrigada a voltar depois de Guiné-Bissau suspender o registro de alguns navios, provavelmente sob pressão israelense. A nação africana, assim como a Libéria e outras, é um importante pólo de registro naval para fins econômicos.

Reconhecimento da Palestina

Outra pauta histórica da política externa isralense, especialmente após 1988, é impedir a ampliação do reconhecimento do Estado da Palestina.

Nas últimas semanas, mais três países reconheceram a Palestina, todos do Caribe: Barbados, Jamaica e Trinidad e Tobago. E principalmente, tivemos o primeiro voto no Conselho de Segurança da ONU para a admissão da Palestina como membro pleno da organização.

A proposta foi vetada pelos EUA, mas teve votos positivos de nações que sequer reconhecem o país ainda, como a Coreia do Sul. Principalmente, teve o voto favorável da França, potência que é membro permanente do Conselho. Finalmente, nas décadas recentes, a diplomacia israelense buscou atrair cada vez mais turistas e simpatizantes ao país, transmitindo uma imagem de modernidade.

Israel, ao contrário do que muitos podem imaginar, aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, autoriza o aborto de gestação e possui pólos turísticos além dos habituais destinos religiosos. Toda essa imagem liberal, e de potencial visita turística, está indo abaixo com Netanyahu, no que pode ser verificado pelos vários e enormes protestos estudantis contra seu governo que ocorrem pelo mundo, especialmente nos EUA.

Hoje, o já tardio reconhecimento da Palestina pela comunidade internacional parece questão de tempo, em uma derrota para Netanyahu.

A normalização de relações entre Israel e seus vizinhos, assim como a recuperação da imagem do país, somente serão possíveis com esforço e concessões. E Netanyahu não está disposto a nada disso, preocupado apenas com seus processos judiciais, sendo um obstáculo ao seu país.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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