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Música para um restaurante de sushi
| Foto: Página oficial/Harry Styles/Facebook

Aquele título que acerta “dois coelhos com uma cajadada só” (ainda posso usar expressões assim das antigas ou viro nazista negacionista por usar?), trazendo dois tipos de leitores: fãs de Harry Styles e curiosos para saber que músicas seriam essas. E com a primeira frase já dou adeus à maioria dos curiosos, imagino. Não sirvo para criar “click baiting” mesmo.

Mas vamos lá. Harry Styles. Sabia quase nada da sua existência até poucos dias atrás. Descobri que foi calouro de programa de tevê (X-Factor), depois cria de programa de tevê (acho que do X-Factor também) surgindo como membro da boyband One Direction, cujas músicas desconheço e permanecerei desconhecendo.

A banda fez uma pausa em 2016, parece, e Harry se lançou em carreira solo já no ano seguinte, lançando seu terceiro disco agora em 2022, chamado Harry’s House, cuja primeira música leva o título Music For a Sushi Restaurant. Desafio escutá-la sem se deixar levar pelo groove. É de comer sushi balançando o pescoço.

Música pop boa é aquela que faz sorrir, nos faz sentir melhor, ainda que por pouco tempo e daí esquecemos que existe

O título veio literalmente quando Harry comia em um restaurante de sushi com seu produtor e, de repente, começou a tocar uma música de seu disco anterior, fazendo-o pensar: “eis uma música muito estranha para um restaurante de sushi”. Estranho o estranhamento, já que música pop no estilo das de Harry tocam em todos os lugares.

Aliás, costumamos conhecê-las só por trechos, que de tão reprisados faz parecer que um dia as escutamos de fato e de direito, prestando atenção do início ao fim. Mas não, é só “música ambiente” que a força da repetição faz parecer que as conhecemos melhor. Ao menos é assim comigo, seria eu tão diferentão de você, leitor obrigado a escutar música alheia?

Para mim, música pop boa é aquela que faz sorrir, nos faz sentir melhor, ainda que por pouco tempo e daí esquecemos que existe. Quando, anos ou décadas depois, a escutamos sem querer, numa “rádio easy” da vida, vem a nostalgia alentadora, não pela música, mas pela época em que tanto tocava. Ainda que a época não fosse lá essas coisas, você descobre que as músicas a tornam melhor em retrospecto.

Aliás, Styles sabe utilizar muito bem no novo disco a sonoridade de décadas atrás, especialmente dos anos 80, o que torna a experiência de ouvi-lo algo como “voltar para casa”, aquela volta que faz você se sentir... bem, em casa. É o propósito explícito de Styles, como já se diz no título e como canta em várias das músicas, como na igualmente contagiante Late Night Talking: “Se você se sente pra baixo / só quero fazê-la se sentir melhor, baby”. E ele consegue.

O que me fez escutar o disco foi o hit do momento, As It Was, que foi a última composta para o álbum, embora não seja a que o fecha. Gosto de tudo nessa música, mas o que me ganhou foi o sorriso que me arrancou num mau dia. Daí prestei atenção à letra, que é sobre o que não é mais como antes. Como o mau humor tinha a ver com algo assim, pensei: “Daquelas coincidências que não podem ser só coincidência”.

Em toda mudança de vida para algo pior, por mais difícil que seja aceitar, por mais dolorosa que seja a perda, sempre chegará o momento em que será possível se sentir mais grato pelo que se viveu que magoado pelo que não mais existe

Mudança é o principal tema do disco, mas em nenhuma música isso é melhor trabalhado do que em As It Was. Aqui, o que interessa é a perspectiva com que a mudança é encarada. Ainda que as coisas tenham mudado para pior, e é o que parece pela letra, o fato de ter acontecido torna inútil lutar contra ou ficar apegado ao melhor que se perdeu. Daí por que a mudança de perspectiva é que pode salvar as circunstâncias. É dessa mudança de perspectiva que As It Was trata.

Em toda mudança de vida para algo pior, por mais difícil que seja aceitar, por mais dolorosa que seja a perda, sempre chegará o momento em que será possível se sentir mais grato pelo que se viveu que magoado pelo que não mais existe. Por exemplo, podemos lamentar muito o que perdemos com a pandemia (e o disco foi composto nesse período), mas também agradecer por termos saído vivos dela. As It Was é uma música a caminho dessa gratidão. Escutá-la é fazer a esperança sorrir.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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