Líderes de oito países sul-americanos (Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Guiana, Equador e Suriname) protagonizam nos dias 08 e 09 de agosto a Cúpula da Amazônia, organizado pela OCTA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica). Na pauta do evento, a preservação do ecossistema amazônico, capaz de impactar direta e definitivamente nas mudanças climáticas globais e no desenvolvimento sustentável da região, tema de relevância indiscutível nos dias de hoje.
A proposta de uma equação que leve em consideração desenvolver e simultaneamente preservar o meio ambiente não é tão nova assim, surgiu nos anos 80. O que mudou não é a filosofia sobre o tema, mas a urgência no trato da questão. Existem evidência claras de que o planeta está esquentando. Desmatamento ilegal, queimadas e o uso de formas primitivas de exploração (como o uso de mercúrio na exploração do ouro) estão causando danos que poderão provocar perdas irreversíveis à biodiversidade e a aceleração das mudanças climáticas.
Por outro lado, os cerca de 30 milhões de habitantes moradores da região amazônica, sendo que 23,5 milhões somente no Brasil, precisam ser levados em consideração na equação do desenvolvimento sustentável. Melhorar a qualidade de vida das pessoas é, em última instância, o maior objetivo de qualquer política de desenvolvimento.
Estariam nossos líderes sul-americanos preparados para assumir o protagonismo dessa agenda e seus impactos em escala global? Que caminhos deveriam ser tomados para uma equação tão complexa e desafiadora?
Líderes não são deuses nem mágicos. São seres humanos dotados de conhecimentos, habilidades e atitudes que lhes dão capacidade de atuação. A realização de um evento como a Cúpula da Amazônia é uma oportunidade ímpar para o exercício da boa liderança (aquela que coloca o bem comum em primeiro lugar), pois cria um cenário positivo para a convergência das forças políticas da região amazônica para a construção de uma proposta conjunta. Essa é, exatamente, a primeira ação do líder, aglutinar as forças regionais amazônicas, demonstrar a união da região, fortalecer laços e as aspirações comuns - e não permitir que pequenas divergências pontuais estraguem o processo como um todo.
O segundo passo é ter clareza no diagnóstico. Criar inteligência significa capacidade de gerar, analisar e interpretar dados e informações da realidade real de forma assertiva. Esse é o ponto inicial de qualquer ação futura.
Existem muitas informações disponíveis. É nessa hora que deve ser valorizada toda a estrutura técnica e de gestão, tais como imagens e informações de satélite, censo demográfico e econômico e outras informações de organismos e equipes locais nas mais diferentes áreas. Uma análise crítica da efetividade das políticas, planos, programas e projetos atuais, seus pontos fortes e fracos, identificação clara das deficiências e dos fatores que são as principais causas dos problemas analisados. A falta de recursos financeiros, técnicos e econômicos devem ser claramente identificada pois, na fase seguinte, caberá aos líderes desenvolverem estratégias e planejamento para a captação de recursos que sejam suficientes para a implementação de ações que gerem os impactos necessários para a resolução dos problemas apontados.
Também faz parte do diagnóstico ter clareza dos países que já são e os que podem ser aliados dessa política de desenvolvimento sustentável. Grande parte dos países desenvolvidos falam em sustentabilidade, mas pouco contribuem de forma prática. A retórica política é muito grande nesse tema.
O presidente da França, por exemplo dispara críticas ao modelo atual de desenvolvimento, mas evitou vir à Cúpula da Amazônia. Outros países já evidenciaram disposição ao investir de forma decisiva em fundos que financiam ações para a sustentabilidade da região. Entre eles estão a Noruega e Alemanha.
A questão do clima é global. É do interesse de todos. Trazer esses países para uma agenda prática e concreta é um dos grandes desafios atuais. Ter uma política de crédito de carbono internacional dotada de instrumentos práticos que façam os recursos chegarem aos territórios preservados é fundamental para que a sustentabilidade ocorra na prática. Isso significa trazer investimentos na quantidade e qualidade necessárias. Portanto cabe ao líder que quer ser protagonista no âmbito global articular e se posicionar internacionalmente, buscar a adesão e recursos de blocos de países aliados de outros continentes que também se associam a essa causa. Pensar e propor novas formas e modelos de monetização de maneira que a economia verde seja valorizada e seus benefícios cheguem à população.
O terceiro passo é a gestão do processo, que inclui o esforço empregado para a sua organização, planejamento, execução, monitoramento e avaliação das atividades relacionadas. Estabelecer indicadores de esforço e resultado claros nas dimensões social, ambiental e econômica que deverão ser atingidos por meio das atuais e de novas políticas, planos e programas de ação. Em suma, como em todo processo, precisamos de objetivos e resultados, de curto, médio e de longos prazos, claros e mensuráveis.
Na ordem do pragmático, aqui se encontra a grande dificuldade das lideranças latinas. Geralmente, líderes latinos usam da retórica populista, algumas já obsoletas, para gerar proximidade junto a seus eleitores, mas evidenciam problemas graves na hora do fazer acontecer e promover as transformações que o mundo precisa.
A deficiência na execução e no atingimento dos resultados gera falta de credibilidade internacional. Portanto, aqui está um ponto que merece total atenção das lideranças. Dotar todo o processo de instrumentos e de modelo de gestão que leve à tomada de decisões eficazes para transformar políticas em ações concretas passa pela criação e gestão de planos, programas, projetos e ações que sejam efetivas.
A agenda da sustentabilidade é uma grande oportunidade para que os líderes sul-americanos possam se posicionar internacionalmente e ocupar um espaço relevante na história da humanidade. A Cúpula da Amazônia cria essa expectativa. Mas as lideranças sul-americanas somente serão protagonistas, de fato, se souberem sair das antigas retóricas típicas dos líderes carismáticos e passarem a evidenciar maior capacidade de gestão e de entrega de resultados, característica dos líderes que fazem acontecer as grandes transformações que o mundo precisa.
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