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Mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas pelas cheias no Rio Grande do Sul, informou a Defesa Civil do estado.
Mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas pelas cheias no Rio Grande do Sul, informou a Defesa Civil do estado.| Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul foi assolado por fortes chuvas que transbordaram rios e destruíram cidades. Nesta quarta-feira (8), o número de mortos em decorrência da maior tragédia climática da história do estado chegou a uma centena. Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas foram afetadas e ainda há 128 desaparecidos, segundo boletim divulgado pela Defesa Civil.

Moradores relatam cenário de guerra. Regiões foram destruídas e casas levadas pela força das águas das enchurradas. A Brigada Militar contabiliza mais de 18 mil resgates de pessoas ilhadas, além do salvamento de 2,8 mil animais. Cerca de 230 mil pessoas precisaram deixar suas casas, de acordo com a Defesa Civil.

O governador Eduardo Leite (PSDB) considerou os temporais como o “maior desastre climático do Rio Grande do Sul”. Mas o que poderia ter sido feito para minimizar a tragédia? A Gazeta do Povo conversou com especialistas sobre o assunto e destacou alguns pontos.

Mapear áreas de inundação

Engenheiro civil e doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Dornelles diz que uma das principais medidas que ajudariam a minimizar os efeitos de enchentes é o mapeamento de áreas de inundação, chamado também de zoneamento. “É preciso determinar onde é a passagem de onda de cheia, chamado de zona de grande perigo, onde não pode ter nenhum tipo de ocupação. Se olhar as imagens do que foi destruído em Muçum e Roca Sales, ali é zona de passagem de cheia, temos grandes velocidades e profundidades, com risco de morte iminente”, explica.

Saindo dessa zona de grande perigo, tem a zona de restrição ao tipo de uso. “É uma região que vai inundar, porém com profundidade não tão grande e nem velocidade e podemos ter ocupações com restrição. Não podemos ter escolas, hospitais, que não podem ficar dentro de zona inundável, porque durante as inundações vamos precisar de atendimento médico. Se o hospital é uma vítima, temos um equívoco grande de ordenamento urbano”. Em Porto Alegre, o Hospital Mãe de Deus precisou retirar os pacientes após alagamentos no sábado (4). Nessa região, no entanto, “podemos ter indústria que se adapta, sabe que inunda dois metros e consegue tirar maquinário de forma rápida e as medidas de convivência com inundações”, explica.

O hidrólogo Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, reforça a necessidade de mapeamentos. “Para saber onde o risco vai acontecer, a gente precisa ter ele mapeado. Para mapear melhor as áreas de inundação e deslizamentos da encosta, a gente precisaria ter um bom mapeamento da topografia do nosso estado. Santa Catarina tem mapa topográfico de um em um metro. Já o Rio Grande do Sul não tem esse tipo de mapa. Com esse mapa a gente conseguiria mapear muito melhor as áreas sujeitas a inundação. No momento que tem previsão, consegue agir rapidamente e alertar as pessoas com antecedência. Isso diminuiria muito os dados e perdas humanas e patrimoniais”, afirma.

Melhorar capacidade de previsão de eventos climáticos

Para aumentar a capacidade de previsão de eventos climáticos é necessário melhorar a cobertura de dados observados. “Nós não temos informação de chuva em toda a bacia hidrográfica do estado. A gente tem uma densidade de postos pluviométricos de medição de chuva abaixo do que recomenda a Organização Mundial da Meteorologia”, diz Fan. Ele cita que cada município poderia ter um pluviômetro automático instalado num quartel da Brigada Militar ou pátio das prefeituras, que teriam que ter a responsabilidade de fazer manutenção e limpeza do equipamento. “Permitiremos ter previsões mais acuradas. Assim que começar a chuva, a gente teria medições em tempo real”, completa.

O professor cita ainda as “várias falhas de medições dos rios durante o processo do evento climático. Não temos Estações duplicadas, inclusive a estação do Cais Mauá falhou durante o evento. Então me parece importante e isso com certeza melhoraria a capacidade de previsão se a gente tivesse mais pontos de medição dos grandes e principais rios. Isso aumentaria a capacidade de previsão”, explica.

Informação é essencial, complementa Dornelles, para a Defesa Civil e órgãos competentes, "para tomar decisão se evacua área ou não. Hoje a gente não tem previsão assertiva".

Capacitação e valorização de profissionais

Fan ressalta a necessidade de capacitar a Defesa Civil, no sentido de impacto de recursos hídricos, e ampliar o quadro de profissionais que trabalham em previsões. “Investir mesmo nesses profissionais. Hoje quem faz uma previsão hidrológica, um alerta, tem na mão decisões que envolvem muitas vidas e é muita infraestrutura. E esse profissional realmente tem que ser valorizado, para a gente ter as melhores e mais capacitadas pessoas nessa frente de atuação. Tem que ser um lugar onde o melhor profissional deseja trabalhar e se sinta valorizado, assim a gente consegue aumentar a capacidade de previsão”.

Seguro contra inundação

Dornelles cita que, ainda pouco utilizado no Brasil, o seguro contra inundação é amplamente disseminado nos Estados Unidos. O seguro, além de proteger residências que podem ser inundadas, dissemina informação. “Se alguém for vender a propriedade, ele tem que assinar que está ciente que está vendendo propriedade que inunda”, diz, assim o comprador tem consciência sobre a realidade do terreno.

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