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Os custos com alimentação são os que mais pesam no bolso dos produtores e a alta do milho no ano faz o cenário atingir um nível caótico, segundo especialistas. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Os custos com alimentação são os que mais pesam no bolso dos produtores e a alta do milho no ano faz o cenário atingir um nível caótico, segundo especialistas.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

A alta no preço do milho e a baixa remuneração do suíno vivo no primeiro semestre de 2016 mexeu com a suinocultura no Paraná, terceiro maior produtor do Brasil, com 542,2 mil toneladas em 2015.

De acordo com a Embrapa, o custo de produção saltou 16,5% no início deste ano, enquanto o preço pelo suíno vivo cresceu 7%. “É como se estivéssemos pagando para trabalhar”, afirma Jorge Rambo, que vende 4 mil suínos por semana em Entre Rios do Oeste, a 70 km de Toledo.

Atualmente, a ração é responsável por mais da metade dos custos de produção, sendo que o milho é o insumo mais utilizado. Em janeiro, o cereal custava R$ 23 por saca. Em maio, o valor chegou a R$ 60; e nesta semana está R$ 37.

O cenário é descrito como caótico pelos produtores, principalmente os independentes. No Paraná, existem 135 mil criadores de suínos, sendo 30 mil deles em escala comercial. Destes, 75% são integrados e 25% independentes, segundo dados da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).

“O momento não é dos melhores. No entanto, não está fácil para nenhum setor”, afirma o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Jacir José Dariva.

Roteiro

A Expedição Suinocultura completou sua primeira semana. O levantamento técnico-jornalístico vai diagnosticar a atividade, debatendo o setor por completo, dos padrões adotados nos frigoríficos à logística do embarque portuário. Até o momento, a equipe passou pelas principais regiões produtivas do Paraná: Castro, Guarapuava, Toledo, Cascavel, Medianeira. Nesta semana, a Expedição está em Santa Catarina. Além dos dois estados, o projeto vai percorrer também Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Perspectivas positivas

Influenciada por fatores externos, a suinocultura vive de ciclos. Embora a atual crise seja considerada uma das piores dos últimos anos, muitos produtores minimizaram os problemas com planejamento. É o caso de Ivacir Cerutti, de Toledo. Ele e a família têm granjas e plantam milho. Em vez de aproveitar o bom momento do grão para vendê-lo, Ivacir resolveu transformar tudo em carne. “Tenho milho para um ano. Trabalho com um intermediário que me garante renda. Não sentimos a crise”, conta.

O produtor Jorge Rambo também tem uma estratégia para sobreviver: parcerias. “Tenho milho estocado para duas semanas”, afirma. Mesmo correndo atrás do cereal, ele tem um destino garantido para parte da produção. “Dos 4 mil animais, 3 mil vão para uma empresa parceira e o restante é colocado no mercado livre. Ganho menos, mas garanto estabilidade”, explica.

  • O suinocultor Jorge Rambo

Segundo Dariva, aos poucos o mercado volta a se estabilizar. “Já está havendo um ajuste de oferta e custo. A perspectiva é positiva, principalmente para produtores que conseguiram sobreviver ao terremoto. Logo vamos sair desta crise”, aposta.

Na opinião do presidente da Suinosul, Edson Roberto Gusso, o milho deve continuar alto até a próxima safrinha, no entanto, as expectativas são boas. “Para os suinocultores independentes, com a diminuição da oferta do animal, o preço do suíno está subindo. Vamos ver até onde ele vai. Mas o cenário dá sinais de melhora”, diz.

Cooperativas apostam na carne suína e investem pesado

De olho num mercado ainda pouco explorado no Brasil, as cooperativas do Paraná vão investir pesado nos próximos anos na suinocultura. Atualmente, o consumo per capita de carne suína no Brasil é de 15,1 kg por habitante. Mas do total, apenas 3 kg são de carne in natura, o restante é representado pelos embutidos, como salame, presunto, bacon e outros.

Segundo o diretor-executivo da Frimesa, Elias José Zydek, a carne suína tem um potencial enorme de crescimento no mercado interno. “A carne bovina será cada vez mais valorizada lá fora, e exportada. Os preços vão subir. A carne suína vai tomar esse espaço”, diz.

De olho neste cenário, a Frimesa, maior indústria de abate de suínos do Paraná e a 4ª do Brasil, formada pelas cooperativas Copagril, Lar, C.Vale, Copacol e Primato, vai agir com ousadia. Segundo Zydek, a empresa pretende criar o maior frigorífico da América Latina em Assis Chateaubriand, com capacidade para abater mil suínos/hora em 2030. Atualmente, a empresa abate cerca de 6,5 mil animais por dia na unidade de Medianeira, no Oeste do Estado. “Será um investimento por etapas. Mas só na inicial serão investidos R$ 500 milhões. Acreditamos que o mercado de suínos, nos próximos anos, ficará concentrado na mão de 8 grandes empresas. E queremos garantir nosso espaço”, explica.

Criada em 2015, a Alegra Foods, empresa formada pelas cooperativas dos Campos Gerais – Castrolanda, Frísia e Capal –, também aposta no crescimento do consumo interno. De acordo com o superintendente da Unidade de Carnes, Ivonei Durigon, a linha de produtos não para de aumentar. “Nós acreditamos na retomada do consumo, no aumento das exportações. Temos a expectativa que o Brasil cresça novamente e vamos seguir o mesmo caminho. Nos países mais desenvolvidos, a carne suína é a mais consumida. E o brasileiro está reaprendendo a consumi-la”, acredita. Atualmente, a empresa abate 2,8 mil animais por dia. A previsão é crescer para 4,6 mil no curto prazo.

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