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Mandioquinha-salsa é também conhecida como batata-baroa ou batata-salsa | Divulgação/Embrapa
Mandioquinha-salsa é também conhecida como batata-baroa ou batata-salsa| Foto: Divulgação/Embrapa

Apreciada à mesa dos brasileiros, seja como papinha de bebê, frita ou em ensopados de carne, a mandioquinha-salsa (também conhecida como batata-baroa ou batata-salsa) em pouco tempo não será mais a mesma.

Quatro milhões de mudas de duas novas variedades do tubérculo amarelo vão ser plantadas ao longo de 2018 para substituir a variedade Senador Amaral, que ocupa 95% da área cultivada no País. O plantio dessas mudas será feito pela empresa Eagle Flores, Frutas & Hortaliças, que ganhou edital de oferta pública da Embrapa para propagação das novas variedades.

Um único dado explica a tendência de ‘destronização’ da variedade que reinou inconteste nos últimos 20 anos. As novas cultivares BRS Rúbia 41 e BRS Catarina 64, desenvolvidas pela Embrapa, produzem até 80% a mais do que a Amarela de Senador Amaral, que também tinha sido resultado de pesquisas da empresa.

“A expectativa é que, em três anos, as variedades Rubia e Catarina atinjam 50% do material que é plantado hoje na região,” prevê Juary Moreira, responsável técnico pelo escritório local da Emater-MG, em Munhoz, no Sul de Minas.

Neste mês, Rúbia e Catarina serão disponibilizadas ao mercado e, pela primeira vez nessa cultura, com mudas certificadas. Além de melhorar o desempenho da produção, os cientistas pretendem diversificar geneticamente as lavouras.

O pesquisador da Embrapa Nuno Madeira, que coordena os trabalhos de pesquisa com da mandioquinha-salsa desde 2002, esclarece que a diversificação dos materiais é importante para a manutenção da cultura. “O domínio de uma única variedade, como era o caso da Amarela de Senador Amaral, fragiliza a cadeia produtiva ao torná-la suscetível a problemas, como surtos de insetos-pragas, doenças, nematoides ou à ocorrência de intenso calor ou frio”, explica o cientista.

Quanto à produtividade das novas cultivares, de acordo com Madeira, nas lavouras em que o produtor colhia 100 caixas, ele passou a colher até 180 caixas. Para os agricultores, isso se traduz diretamente em aumento de renda pela diminuição dos custos de produção. A BRS Catarina 64 apresentou maior produtividade, porém tem encontrado um pouco mais de resistência no mercado devido ao formato, mais comprido, que dificulta o armazenamento e a embalagem em bandejas.

As duas variedades apresentam características desejadas, como coloração amarela intensa, aroma e sabor característicos. Além do alto potencial produtivo, elas têm maior produção de mudas por plantas se comparadas com a Amarela de Senador Amaral.

“Há duas décadas, quando foi lançado, esse material (Senador Amaral) apresentava boa produtividade, mas com o tempo ele foi se desgastando nesse processo de multiplicação tradicional feito pelos agricultores e hoje apresenta diversos problemas, como falta de uniformidade e ocorrência de doenças”, observa o pesquisador da Embrapa.

O cientista ressalta que essas cultivares foram registradas pela Embrapa, e não protegidas. Isso significa que os produtores podem multiplicar suas mudas para plantios subsequentes em suas propriedades.

Madeira sugere que os agricultores adquiram plantas certificadas todo ano como material propagativo para plantio de um campo de mudas, que por sua vez fornecerá material para o campo de produção de raízes do ano seguinte, e assim sucessivamente, mantendo a qualidade genética da produção. O pesquisador acrescenta que para produzir 120 mil mudas para um alqueire basta um pequeno e caprichado campo com três a quatro mil mudas certificadas.

Lição do passado

Atualmente, são cultivados cerca de 15 mil hectares no Brasil com batata-salsa e a produção é estimada em torno de 150 mil a 200 mil toneladas por ano. Iniberto Hamerschmidt, coordenador de Olericultura da Emater Paraná, lembra que o estado já foi o maior produtor nacional de batata-salsa nos anos 90, com 75 mil toneladas por ano, boa parte obtida na região de Tijucas do Sul. “O problema é que eles cultivavam sempre na mesma área e a mesma cultivar, a Amarela de Carandaí. Daí começaram a surgir pragas, como a broca da mandioquinha e nematoides, e o cultivo foi se degenerando”, diz Hamerschmidt. Metade dos produtores acabaram abandonando a cultura.

Quem permaneceu, começou a plantar a cultivar Senador Amaral e aprendeu a lição. “Hoje os agricultores fazem rotação de culturas, adubação química e orgânica”, diz o engenheiro agrônomo. O eixo da produção da batata-salsa, no entanto, migrou para Minas gerais, que atualmente produz 70 mil toneladas por ano e alcança produtividade de 20 a 22 mil kg por hectare, quase o dobro da produtividade paranaense (12 mil kg por hectare). A explicação, segundo o técnico da Emater, está no fato de os mineiros fazerem uso da irrigação.

No Brasil, o cultivo de batata-salsa envolve cerca de cinco mil famílias e movimenta aproximadamente R$ 2 bilhões por ano. Oriunda da Cordilheira dos Andes, entre o Peru e a Colômbia, de regiões com altitude entre 1.500 a 2.500 metros, a mandioquinha-salsachegou em 1907 ao Rio de Janeiro, de onde se difundiu para regiões serranas do Sudeste e do Sul. Ela também é cultivada no Planalto Central em locais com mais de 1.000 metros de altitude.

É um alimento essencialmente energético, com altos teores de carboidratos de fácil digestão. Dentre as vitaminas encontradas na raiz estão as do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina e piridoxina) e a provitamina A, além de minerais como cálcio, magnésio, fósforo e ferro.

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