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Sérgio Escudero, um mal exemplo de reforço sul-americano.
Sérgio Escudero, um mal exemplo de reforço sul-americano.| Foto:
Sérgio Escudero, um mal exemplo de reforço sul-americano.

Sérgio Escudero, um mal exemplo de reforço sul-americano.

Não passa dia desta pré-temporada sem o nome de um jogador do mercado sul-americano¹ aparecer na lista de reforços de Atlético e Coritiba. No Furacão, os laterais Matías Corujo (paraguaio) e Lucas Olaza (uruguaio), além dos meias paraguaio César Serna e argentino Lucas Mugni. No Coxa, outro meia paraguaio, Luís de la Cruz. Sem falar no interesse de ambos pelo atacante chileno Nícolas Castillo, conhecido em seu país como “pequeno Zlatan” (sim, ele é comparado a Ibrahimovic e não apenas por causa do nariz). O Paraná já tratou de arrumar o seu hermano, o volante argentino Fabian Coronel.

 

Sou simpático a incursões no mercado sul-americano². É possível descobrir bons jogadores por um preço menor que os brasileiros, seja de direitos ou salários. Reflexo do melhor momento econômico do Brasil em relação à vizinhança. Fora o acréscimo técnico e tático que um bom jogador estrangeiro pode proporcionar. A ampliação no limite do estrangeiros em campo de três para cinco estimula ainda mais essa importação.

 

Ainda assim, é preciso ter muito cuidado nos critérios da contratação e nas condições que o clube irá oferecer ao reforço trazido do exterior. Erros nestes dois aspectos são as razões mais fortes para times do Brasil entregarem suas camisas para um Raúl Iberbía ou deixarem um Dayro Moreno esquentando banco sem chance de mostrar futebol. Por isso, o Bola no Corpo elaborou uma lista de perguntas que os dirigentes do seu clube deveriam se fazer — e você deveria fazer a eles — antes de meter a assinatura em um contrato redigido em português e espanhol.

 

1 – Eu posso dar o tempo necessário de adaptação ao jogador?

Quem já morou fora da própria cidade sabe que é necessário um tempo para se adaptar à nova casa. Costumes, caminhos, vizinhos, ritmo de vida, tudo muda, sem falar na distância de parentes e amigos. Imagine tudo isso potencializado por uma função em que seu trabalho é avaliado publicamente, em sua maioria por gente que diz: “Ele ganha bem. Quero ver se adaptar a acordar 6 da manhã e pegar três ônibus pra passar oito horas por dia apertando parafuso”. Vários clubes não têm essa paciência ou precisam de uma solução imediata que nem todo o jogador é capaz de dar sem se encaixar totalmente na rotina do novo país. Um ótimo exemplo é Conca. Seu primeiro ano no Brasil, com a camisa do Vasco, foi ruim. Na temporada seguinte, já pelo Fluminense, rapidamente ganhou espaço no time e virou ídolo da torcida.

 

2 – Se esse cara é tão bom, por que não está na Europa?

Se o mercado sul-americano é bom para quem paga em Real, imagine para quem paga em Euro. Ainda mais para jogadores (especialmente argentinos, uruguaios e chilenos) que costumam se adaptar mais facilmente que os brasileiros ao ritmo de vida e jogo do europeu. É mais fácil – ou menos difícil – um clube brasileiro chegar antes a um bom garoto dos países vizinhos, simplesmente porque ele pode ainda não ter entrado no radar dos europeus. Quanto mais velho o jogador fica, maior a chance de trazer um bonde. Neste caso, é preciso critério e profundidade na observação (leia o próximo tópico) para separar os bondes de jogadores que podem até não ser bons o bastante para a Europa, mas são capazes de resolver os problemas de um clube brasileiro.

 

3 – Meu departamento de futebol observou esse cara direito?

O Corinthians observou Defederico por DVD e contratou um mico argentino. O Atlético foi a Montevidéu buscar Martinuccio e, por indicações, chegou a Morro García. Iberbía tem o mesmo empresário que Bottinelli. São muitos os casos de clubes brasileiros que contrataram um bonde que fala espanhol por não fazer direito a garimpagem. O negócio é ralar na observação e investir. Há serviços sofisticados de scouting eletrônico, que permitem assistir a horas de partidas na íntegra do mesmo jogador. Um trabalho que precisa ser complementado por informações de fontes confiáveis (o que exclui empresários, invariavelmente pensando em vender seu peixe) e uma boa olhada de perto. Ainda assim, pode dar errado. Mas o risco é menor.

 

4 – Não estou contratando esse cara só porque ele tem raça?

Outro erro comum é rodar o Mercosul (Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai) atrás de jogadores raçudos. Essa tara aumenta quando o time vai jogar a Libertadores e se baseia na premissa de que o torneio sul-americano é viril e varonil demais para os artísticos jogadores brasileiros. Raça é sempre bem-vinda. Não só dentro como fora de campo. Argentinos e uruguaios costumam ainda ser mais politizados e aglutinadores que os brasileiros, o que pode se tornar um pepino para os cartolas. Mas eleger a raça como prioridade, não acessório, aproxima seu clube de contratar um Escudero ou um JJ Morales.

 

5 – Não estou contratando esse cara só porque ele fala espanhol?

Outro pecado comum e ultrapassado cometido por quem vai jogar Libertadores. A selvageria que dominava a Libertadores até meados dos anos 80 criou a ideia de que havia um complô continental para evitar que times brasileiros conquistassem o torneio. E alguém bolou a brilhante solução de que ter “um deles” no time ajudaria a manter um contato com a arbitragem, quase um processo civilizatório às avessas. Um exagero, levando em consideração que o Flamengo de Zico venceu uma Libertadores sem estrangeiros, exatamente como o São Paulo de Telê (duas vezes) ou o Galo do ano passado. O idioma mais eficiente dos gramados continua sendo o bom futebol.

 

6 – Não tenho um jogador melhor na base?

Quem levantou essa questão foi o Cleocir Santos, auxiliar técnico do Cruzeiro, em entrevista à rádio 98 FM, no fim do ano passado. Muitas vezes no desespero de buscar jogadores no mercado sul-americano, os clubes brasileiros acabam esquecendo de olhar para o próprio quintal. O resultado é um gasto desnecessário em um estrangeiro que não dá resultado e acaba barrando o evolução de um garoto já adaptado ao clube e cujo custo foi diluído no departamento de formação.

 

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¹ Pode até parecer preciosismo, mas como tem mala perfeccionista para tudo e alguém pode dizer que o Brasil faz parte da América do Sul e, assim, os jogadores brasileiros fazem parte do mercado sul-americano, deixo claro que minha definição de mercado sul-americano é: jogadores nascidos na América do Sul em países de língua espanhola.

 

² A Trivela fez uma lista de 20 talentos à solta nos gramados sul-americanos capazes de compensar o investimento nos países vizinhos.

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