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Delação da Odebrecht não é o fim dos dinossauros da nossa política
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Alguém poderia achar que a delação do Odebrecht representa mesmo o fim de um mundo, como promete o título grandiloquente que tanto se ouviu nos últimos dias. Marcelo Odebrecht seria o equivalente ao asteroide que colidiu com a Terra extinguindo os dinossauros: agora restaria esperar que a nuvem de poeira levantada pelo impacto matasse os sobreviventes de uma velha política, representada por Sarney, Lula e FHC. O genial Benett fez uma charge mostrando justamente isso.

Não é bem assim. Embora o impacto possa parecer devastador e de fato o ar ande meio irrespirável para os seres que se alimentavam da propina da Odebrecht, a atmosfera de que eles precisam para sobreviver continua à disposição. O sistema eleitoral – seu habitat natural – continua basicamente intocado, e o patrono-mor dos sáureos, ministro Gilmar Mendes, pretende inclusive retomar as doações empresariais de campanha.

Na verdade, há dois riscos para a política nacional a partir daqui: mudar bruscamente ou ficar exatamente como era. A mudança brusca é sempre um risco. Sabe-se lá o tipo de réptil que pode se beneficiar do ecossistema causado pelo fim dos dinos. Há animais de todo porte e coloração de olho nos despojos. Alguns inclusive são descendentes de períodos ainda mais antigos de nossa cronologia, como a ditadura militar.

O risco de não mudar é igualmente grande. Não é possível que haja uma seleção natural dos espécimes mais resistentes, capazes de recriar o ambiente que permitiu sua sobrevivência. Eles estariam se provando imunes ao impacto da maior pedrada que a sociedade pode lhes aplicar no cocuruto – e sabe Deus que tipo de carnificina com o dinheiro público eles se mostrariam capazes de fazer se escapassem incólumes dessa vez.

O único caminho desejável a essa altura parece ser o de aprender com o que aconteceu e substituir os nossos tristes dinossauros não por alguma espécie exótica, de fora da política, mas sim por alguém que consiga jogar dentro das regras que sempre soubemos que não estavam sendo cumpridas. Alguém que esteja disposto a respirar em um ar mais limpo e a conviver com um novo tempo sem prometer nenhum rompimento maluco com as regras do jogo – eliminando só os dinossauros e os asteroides, e não o ambiente como um todo.

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