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Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.
Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.| Foto:
Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.

Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.

Colaboração de Rafael Moro Martins, do blog Curitiba Baixa Gastronomia:

Tribunal de Contas e prefeitura de Curitiba trocaram chumbo, nos últimos dias, sobre o preço da passagem de ônibus na capital. O TC diz que dá pra reduzir. A prefeitura responde que, pra fazer isso, vão pro beleléu a gratuidade e os ônibus híbridos.

Não foi exatamente uma novidade. Prefeitura e governo do estado também estrelaram uma série de bangue-bangues sobre a integração da rede de transporte na região metropolitana. Acabou como se sabe – uma barbeiragem que complicou a já dura vida de quem mora mais longe e precisa vir a Curitiba de ônibus.

Enquanto suas excelências trocam munição desde seus gabinetes (aos quais chegam de carro de luxo e motorista particular, que ninguém é de ferro), pesquisa desta Gazeta do Povo mostra que a falta de conforto é o principal problema do sistema de transporte de Curitiba. E aí é que está o busílis.

Pois os ônibus híbridos, que a prefeitura ameaça encostar, são os mais confortáveis da rede de transporte da cidade – e, curiosamente, rodam apenas em linhas que servem bairros nobres da cidade).

Curitiba não tem ônibus com piso baixo, em que não é preciso galgar degraus para subir ou descer. (A Urbs pode replicar que o embarque é em nível nas estações tubo, mas poucas linhas as usam. Noves fora que, para subir no tubo, há degraus – ou elevadores para deficientes frequentemente quebrados). Em São Paulo e Rio de Janeiro, esses ônibus são parte considerável das frotas (veja bem, não falo de Amsterdam ou Londres). As duas maiores cidades brasileiras também têm centenas de veículos com ar condicionado e wi-fi. Traduzindo – conforto.

Tem mais – nossos pontos de ônibus estão abandonados (alô, Clear Channel!), não têm bancos nem tabelas de horários, a sinalização é pobre (quando está lá), os painéis eletrônicos das estações-tubo frequentemente não funcionam, as linhas expressas deixaram de merecer o nome há muito tempo (um biarticulado leva 15 minutos para percorrer o trecho entre as praças do Japão e Santos Andrade, mesmo rodando em pista exclusiva), os ônibus estão sujos de dar dó – ainda ontem matei uma barata no busão; não foi a primeira nem a segunda vez.

Moro em Curitiba há quase 25 anos, e uso ônibus quase diariamente desde então. A decadência do transporte salta aos olhos. Enquanto isso, cidades que sempre tiveram sistemas piores nos deixam para trás. São Paulo adotou um sistema eficaz de bilhetagem eletrônica, que traz vantagens ao usuário, não apenas ao poder público (que, nesse caso, vale lembrar, embolsa com antecedência o dinheiro da passagem). Por aqui, foi um tormento conseguir algo tão simples quanto descentralizar a venda de créditos.

A população abandona o ônibus em resposta a tudo isso. Quem pode compra um carro, uma moto. É melhor ficar sentado que em pé no congestionamento, afinal. A prefeitura parece ter perdido a capacidade de planejar e renovar o sistema. Não consegue, sequer, fazer as concessionárias renovarem as frotas (parte dela tem vida útil já vencida). E, premida pela evidência de que a tarifa é injusta, ameaça cortar o pouco conforto que oferece ao passageiro.

Nosso problema não é só ter mais ônibus. É também ter ônibus melhores, mais confortáveis, um sistema de bilhetagem moderno e coerente, que atraia o usuário, em vez de lhe ser imposto goela abaixo. Se o atual modelo não dá conta disso, é sinal de algo errado na licitação do transporte, uma cortesia do atual governador aos curitibanos. Não é culpa do usuário. Por que, então, ele é o único a ser punido, prefeito?

Quem pega ônibus não é cidadão de segunda classe. Mas hoje paga caro para ser maltratado. E segue a ouvir a ladainha do “transporte modelo”. Vamos mal.

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