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A real causa da queda de Dilma é o silêncio das ruas
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Preste atenção à sua volta. Faça silêncio por um instante e tente ouvir o barulho das ruas ao redor. Há carros, ônibus, pessoas a pé. Há o pipoqueiro, o anúncio do restaurante com dois tipos de carne e a mãe que chama a atenção do filho. Mas perceba o que você não ouve: não há uma única voz a favor de Dilma.

Não há ninguém nas ruas contra o impeachment. Não há passeatas, nenhuma manifestação popular: o povo está calado. Não quer dizer necessariamente que apoie o que está se passando em Brasília. Não quer dizer que os 54 milhões de eleitores de Dilma sejam a favor agora de sua queda. O que há é uma imensa e ensurdecedora indiferença.

As vozes a favor de Dilma continuam estridentes: na internet. Os ativistas seguem a seu lado: no Facebook. A internet em ebulição, mas as ruas se calam. As vozes da internet são os dos partidários de primeira e última hora, dos que seguirão petistas, dilmistas, lulistas independente do que aconteça. São os ideológicos. Não são suficientes.

O governo de Dilma não cai porque 54 senadores votarão dizendo que houve crime. Cai porque a população em geral não vê diferença nenhum entre ter Dilma ou não ter Dilma. Não vê diferença entre o petismo e Michel Temer. Cai porque tanto faz: na opinião da maioria, o governo de Dilma já acabou.

O projeto do PT faliu não porque os senadores assim decidirão. Faliu porque não conseguiu mais ter o povo ao seu lado. Porque as manifestações de rua foram massacrantemente contra o governo, porque as manifestações a favor de Dilma foram pífias. Porque ninguém mais conseguia ter um discurso pró-Dilma que mexesse com as multidões.

Em 2002, Lula venceu. Segundo ele, quem venceu foi a esperança. E durante oito ou dez anos, a esperança parecia se transformar, para o eleitor comum, em algo concreto. Em comida. Em médicos no posto. Em bolsas de estudo. O povo não tem condições de ser ideológico. É pragmático: vota num candidato como quem compra um serviço.

Enquanto o serviço era bem prestado, o eleitor se sentia satisfeito e continuava chamando o mesmo fornecedor. Mas o serviço já não era o mesmo. Houve inflação, somada a desemprego. Houve impostos, sem que se visse uma contrapartida razoável. Houve dívida, e as contas se acumularam na mesa de cada um. O governo já não tinha o milagre.

Política se faz com símbolos. O símbolo de FHC era um frango na mesa, a possibilidade do iogurte. O símbolo de Lula era a ascensão à classe média. Nada de apelo a coisas abstratas: a soberania, o mercado, as instituições. O símbolo do governo Dilma quem impôs foram terceiros – foi a oposição.

Sem conseguir melhorar a vida do cidadão, o governo ficou frágil a ponto de sentir os golpes frágeis até de gente patética com um Kim e uma Joice – empoleirados hoje no Senado ao lado dos próceres da República. As ruas, lideradas pela classe média, gritaram contra o petismo, que nunca foi tolerado pela elite. E quem iria se contrapor?

O petismo esperava a banda na rua. Em 2013, tinha ficado claro que não seria assim. Gilberto Carvalho disse, numa ingenuidade, que não entendia como aquele povo que o PT tanto tinha ajudado agora se voltava contra o partido. Se não entendeu, foi porque não quis.

Não bastasse, Dilma e os seus deram o pretexto. Cartéis, dinheiro sujo, eleição maculada. Petrobras. Falemos claramente, corrupção. E, não bastasse, a incompetência frente à lei: a irresponsabilidade fiscal.

Ouça à sua volta. Não há ninguém defendendo Dilma. Os 54 senadores, que sempre quiseram voltar ao poder com gente de sua confiança, agradecem. Poderão pôr fim a um projeto que sempre lhes desagradou.

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