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Beto e Aécio: um dos homenageados em anos anteriores. Foto: Marco André Lima/Arquivo Gazeta do Povo.
Beto e Aécio: um dos homenageados em anos anteriores. Foto: Marco André Lima/Arquivo Gazeta do Povo.| Foto:

Os áudios entre Aécio Neves e Beto Richa divulgados nesta quarta-feira não revelam nenhum crime. Mesmo assim, seriam motivo para envergonhar qualquer homem público. Trata-se de uma grande operação interna de um partido para evitar que alguém dentro da legenda possa criticar seus caciques – e também para abafar indícios sérios de crimes do presidente nacional da sigla.

Para quem não soube dos áudios, vale a pena clicar aqui e entender tudo. Mas o resumo da história é simples. Valdir Rossoni, chefe da Casa Civil do Paraná, fez um vídeo ao vivo no Facebook dizendo que, caso as provas contra Aécio fossem verdadeiras, um dos dois teria que sair de onde estava. Ou Aécio saía da presidência do partido ou Rossoni se desfiliava. Começa aí o escândalo. E começam as lições sobre a vida partidária.

1- Um partido de caciques

Assim como a maioria dos partidos brasileiros, o PSDB não tem qualquer vestígio de democracia interna (já se disse que o candidato presidencial tucano é escolhido por três engravatados tomando uma boa garrafa de vinho). Ao saber da postagem de Rossoni, Aécio fica indignado, mas não liga para o cachorro: liga para o dono do cachorro. Manda Beto Richa colocar Rossoni nos eixos. “Ele enlouqueceu?”

Richa nem pensa em dizer algo como: “Veja bem, o Rossoni é bem grandinho, sabe o que faz”. Ou então: “Aécio, perceba que se trata de um adulto, de um deputado federal com 177 mil votos que tem o direito de achar o que quer que seja”. Simplesmente baixa a cabeça e faz o que Aécio pediu: enquadra Rossoni, que some com a postagem. A cadeia hierárquica é impressionante e não é desfeita nem quando o cabeça do partido parece claramente ter cometidos crimes graves.

2- Democracia zero

A falta de democracia não fica explicitada só na cadeia de comando. A primeira coisa que Aécio diz para Beto no telefonema, depois de perguntar se Rossoni ficou louco, é que se o vídeo não desaparecer “eu expulso ele do partido amanhã”. Espera lá: um partido não é e não pode ser a vontade de um homem, ainda que seja seu presidente.

Assim como Aécio não pode ir preso sem provas, só porque alguém acha que ele deve ser culpado, um partido decente não pode ir simplesmente expulsando alguém que se posicionou publicamente sobre algo. Rossoni não defendeu o nazismo, o extermínio de pobres nem a volta da ditadura. Criticou um senador. Isso é proibido? Ainda teve o cuidado de dizer que esperaria as provas e que não queria considerar ninguém culpado de antemão. Para Aécio e Beto, porém, parece que até isso é inaceitável.

3- Imprensa boa é imprensa calada

Aécio pede literalmente para que a matéria publicada no “Uol Paraná” desapareça. Na verdade, tratava-se de uma página local hospedada no Uol, um parceiro. Ou seja: não quer apenas que um correligionário deixe de criticá-lo. Quer implantar um sistema em que a verdade deixa de acontecer. Por vontade de sua majestade imperial, a verdade deixa de ter sido aquilo que foi. E quem noticiou o contrário obviamente tem de ser impedido de continuar trazendo a público essas coisas inconvenientes.

Não fica claro na gravação como a dupla atuou para que a matéria sumisse (e realmente sumiu). Aécio só deixa claro que Beto deve colocar seus melhores homens de imprensa no assunto. E aqui passamos ao ponto número quatro.

4- Mistura de governo e partido

Aécio e Beto parecem em nenhum momento estar preocupados com a distinção entre partido e governo. Quando o senador pede que o governador coloque “seu pessoal mais qualificado” no trabalho, obviamente se trata da estrutura de governo. Posta a serviço de interesses pouco nobres, particulares e provavelmente ilícitos. Beto em nenhum momento diz que não fará isso.

5- Tá tudo do mesmo lado

Mas o pior de tudo talvez seja a frase de Aécio explicando o motivo para que a gravação despareça. “Tá tudo do mesmo lado nessa história”, disse o senador.

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