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Praça Espanha: pública ou não? Foto: Jaelson Lucas/SMCS.
Praça Espanha: pública ou não? Foto: Jaelson Lucas/SMCS.| Foto:

A nova polêmica da cidade só poderia mesmo partir de onde partiu. Do Batel Soho. Trata-se de um bairro que não existe no papel – mas que representa fielmente uma mentalidade. É a região em volta da Praça Espanha, um lugar que provavelmente recebeu mais benfeitorias nos últimos anos do que qualquer outro lugar da cidade.

Mas aos moradores do bairro imaginário não bastam todos os luxos garantidos pelos prefeitos. Agora eles querem ir um passo além: querem criar o conceito do espaço público-privado. Do jeito como eles falam, pode não parecer nada demais. Afinal, é só colocar uma cerca em torno de uma praça para evitar arruaça à noite. Para evitar bebedeira e som alto. Pixação. Depredação. Quem poderia ser contra?

Porém, fora do mundo Soho, as coisas não funcionam nem podem funcionar exatamente assim. Por um motivo simples: o que é público, público deve ser. Uma praça não pertence aos moradores do entorno. Se o morador do Tatuquara decidir passar a noite na praça tem todo o direito. Paga impostos e é cidadão. E tem tanto direito de palpitar sobre a área pública da cidade quanto o habitante do Soho.

Evidente que o barulho incomoda. Assim como em diversas outras áreas da cidade com vida noturna, deve ser um inferno dormir com toda a confusão. E é claro que a prefeitura devia coibir abusos, assim como a Polícia Militar. Os moradores devem exigir isso – assim como podem exigir o mesmo os moradores de uma vila pobre em que o boteco com duas mesinhas de sinuca se transformou em problema. Mas fechar espaço público?

Não é a primeira nem será a última vez que o pessoal da mentalidade Soho fala em tirar da rua quem está incomodando seu sono ou seus interesses. Pouco antes da eleição do ano passado a ideia era tirar mendigos da rua, ainda que fosse à força. Em outra ponta do Batel, um empresário deu um jeito de jogar água fria sempre que alguém se deitasse sob sua marquise. Agora, querem fechar uma praça.

Uma cidade é melhor quanto menos fronteiras houver, quanto mais espaços forem públicos. Se para evitar o transtorno for preciso fechar ruas e praças, algo vai muito mal com o conceito do que é a vida em comunidade.

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