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Dilma vai tentar, mas chance de novas eleições é pequena

Foto: Uéslei Marcelino/Reuters

Chico Marés, interino.

A grande novidade estava no terceiro parágrafo. Matéria do jornal O Globo, publicada na manhã desta segunda-feira, dizia que, no metafórico bunker do vice-presidente Michel Temer, chegou a informação de que Dilma Rousseff renunciaria na próxima sexta-feira – e, em pronunciamento em rede nacional, incitaria seu vice a seguir o exemplo.

Segundo Rodrigo Rocha Loures, assessor especial da vice-presidência, não é essa a informação que corre nos círculos mais próximos de Temer. A informação por lá é a de que Dilma deve enviar ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição convocando novas eleições para outubro – ideia citada e destacada na mesma matéria. A posição de Temer é a de que novas eleições seriam um “golpe” – algo já dito em entrevista na semana passada.

Se é golpe ou é democracia, é um bom debate. Ao meu ver, é uma saída válida. Dilma já não tem sustentação política que garanta um governo minimamente estável. Pior que isso, a maior parte de seu eleitorado já admite que comprou um terreno na Lua em 2014, e quer seu “dinheiro” de volta.  Por outro lado, se Temer tem, como Dilma, a legitimidade do voto, sua Ponte Para o Futuro não tem.

O fato concreto, porém, é que essa saída tem pouquíssimas chances de prosperar. Para uma PEC ser aprovada, são necessários os votos de 308 deputados e 54 senadores – e, pior, a tramitação teria que ser em velocidade recorde. Há duas maneiras de se conseguir isso: com ampla maioria política ou com massivo apoio popular.

O primeiro, é evidente que o governo não tem – ou não estaria propondo novas eleições. A proposta, entretanto, poderia ter: a oposição poderia achar a perspectiva de adiantar as eleições favorável, visto que Aécio Neves (PSDB) seria um dos favoritos. Mas o governo chegou tarde demais: hoje, a oposição e a ex-base de apoio de Dilma já estão encontrando seu cantinho no futuro Brasil de Temer, e tem pouco interesse em adiantar 2018.

Já a segunda opção seria um apoio popular massivo às novas eleições. E por massivo entenda-se por uma quase unanimidade – incluindo coxinhas, mortadelas e isentões. Manifestações de apenas um lado não devem gerar grandes comoções em Brasília. Agora, com grandes protestos nas ruas, algo como uma “Diretas Já”, o Congresso poderia sair de sua acomodação.

De novo, é tarde demais. Se Dilma fizesse isso, digamos, no início de março, quando o cenário do impeachment ainda era bastante incerto, a chance de conseguir mobilizar a população era maior. Daria uma impressão de magnanimidade, de disposição em cortar na própria carne para resolver a crise política. Até mesmo detratores do PT poderiam encarar como uma boa ideia.

Pedir novas eleições quando o afastamento já é um fato quase certo, porém, dá uma impressão de desespero, de última cartada. E, com a popularidade no fundo do poço, a presença de Dilma campanha deve ajudar a afastar até o eleitor mais neutro desse debate – quem dirá opositores ferrenhos.

Ainda que 62% da população – como diz pesquisa do Ibope da semana passada – ache que novas eleições são a melhor saída para a crise, isso precisa se refletir na rua. E, hoje, a possibilidade de uma grande mobilização popular em torno dessa proposta parece muito remota. Na prática, essa proposta servirá apenas como arma retórica no interminável embate sobre quem é golpista e quem não é.

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