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Jucá: quatro dúvidas e uma certeza na conversa do ministro
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Por Chico Marés, interino

A conversa do ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado deixa pelo menos uma certeza: os crimes de responsabilidade não foram o motivo pelo qual o PMDB embarcou no impeachment. O senador por Roraima, nesta conversa, deixa claro que, para os caciques peemedebistas, a queda de Dilma Rousseff era uma medida de autoproteção da classe política, acima de tudo.

Para além disso, porém, sua fala traz muitas dúvidas. A começar pela natureza desse “acordo” para blindar o resto do mundo político da Lava Jato. Isso é crucial para entender – e combater – essa Operação Abafa. O ministro e senador também levanta suspeitas sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e sobre o senador Aécio Neves, suposto participante de um “esquema que todo mundo conhece”.

Veja quatro falas de Jucá que precisam de explicações mais aprofundadas.

1. Quem eram os ministros interlocutores de Jucá?

“Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’”, diz Jucá, em determinado ponto da conversa. Resta saber: quem são esses ministros? Obviamente, alguém que defende o fim de uma investigação por razões exclusivamente políticas não tem a menor condição de integrar a suprema corte do país.

2. Qual é o “grande acordo”?

“Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais”, diz Machado. Como funcionaria esse grande acordo? Quais seriam os atores envolvidos, especialmente os atores fora do governo e do mundo político? Temer está na presidência há dez dias, algum passo foi dado em direção a isso? Sendo um dos “protegidos”, Lula foi consultado?

3. Qual é o “esquema do Aécio”?

“Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio?”, pergunta Machado. Francamente, eu gostaria de saber mais. A delação de Delcídio do Amaral acusa o senador de receber propina de Furnas, questão também mencionada por outros investigados da Lava Jato. Mas é disso que eles estão falando?

“O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara?”, diz Machado, em outro momento. Isso, a princípio, é informação nova. Qual a participação de Romero Jucá na eleição de Aécio para a presidência da Câmara? Quais deputados participaram desse esquema específico? Tem algo a ver com Furnas?

4. O que não estará na delação “seletiva” de Marcelo Odebrecht?

Em um determinado momento, Jucá diz que Marcelo Odebrecht fará delação, mas que será “seletiva”. O que exatamente ele quer dizer com isso? Como ele possui esta informação? E, mais importante, o que seria excluído da delação – se ela for seletiva mesmo? Quem seria poupado?

Relembrando: a Odebrecht chegou a anunciar que seu presidente faria delação premiada, mas a informação foi desmentida pelo Ministério Público Federal. Até o momento, nenhum acordo foi feito diretamente com ele.

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