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Protestos beiram a ingenuidade
| Foto:
Jorge Silva-Reuters
Manifestação durante o jogo do Brasil com o México, em Fortaleza.

As manifestações que tomaram as cidades brasileiras nos últimos dias conquistaram a unanimidade de que são legítimas. Políticos de todos os partidos, analistas de todas as cores ideológicas, governos de direita e de esquerda, os “papagaios de mídia” [como são chamados muitos comentaristas e colunistas], líderes de movimentos sociais e sindicais concordam que os protestos são justos.

Obter o reconhecimento de legitimidade não é tudo. Um fator indispensável está faltando ao movimento. Os manifestantes simplesmente protestam contra o que não querem para o país. É pouco. É como a criança que chora e esperneia diante de algo que a contrarie, mas não sabe o que fazer para mudar a situação. Fica só na birra.

Não há lideranças no movimento que leve adiante as reivindicações. Inexiste uma proposta consistente de políticas públicas para ser entregue ao governo federal, aos governos estaduais, às prefeituras, à Câmara e ao Senado, às assembleias legislativas e Câmaras de Vereadores. Não há iniciativa de contestar medidas dos governos federal, estadual e municipal na Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Nem mesmo um abaixo assinado, com milhões de assinaturas, está sendo coletado.

Sim, todos são contra a alta da inflação, contra o aumento das passagens de ônibus, contra os gastos exorbitantes com a Copa do Mundo, a corrupção, a falta de investimentos em saúde e educação e a falta de moradia. E qual é a proposta que o movimento tem para apresentar ao governo e aos legisladores com a finalidade de reverter a dura realidade brasileira?

É preciso elaborar propostas de solução para o transporte público, para o ensino e a saúde. Não menos importante é recorrer às instâncias do Judiciário contra os gastos do governo com a Copa do Mundo, contra o superfaturamento de obras em todos os setores, o desvio de recursos públicos. Necessário se faz propor projetos de iniciativa popular ao Poder Legislativo e exigir a votação com urgência.

E a democracia participativa, onde está? A última vez que a população brasileira teve a oportunidade de decidir algo importante foi no referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições. Isso foi em 2005, há quase uma década. De lá para cá, tudo foi decidido nos gabinetes, distante da população.

Protestar contra o que está errado é legítimo, mas é pouco. Tem de sugerir solução, alternativa, rumo.

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