Um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) profetizou o desastre do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais.
O poema, Lira Itabirana, foi publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, e jamais chegou a ganhar a versão em livro.
Os versos do poeta, que nasceu em Itabira, mesma cidade em que surgiu a Vale do Rio Doce, em 1942, carregam um tom de tristeza com os efeitos da mineração.
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Drummond, ao longo de toda sua produção literária, não hesitou em fazer a crítica social do seu tempo. Em muitos outros escritos o poeta pintou um cenário realista, melancólico e assombroso da atividade de mineração no seu estado.
Em outro poema, O Maior Trem do Mundo, Drummond fala do trem que leva embora não apenas a riqueza mineral extraída da terra, mas a própria terra e seu coração.
O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.
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O trem do dinheiro devassa nossas vidas, suja nossa água, mata nossos peixes, contamina nossa terra, corrói nossos sonhos.
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