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O macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo (nome científico Plecturocebus miltoni), encontrado no Mato Grosso. Fotos: Adriano Gambarini/Instituto Mamirauá
O macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo (nome científico Plecturocebus miltoni), encontrado no Mato Grosso. Fotos: Adriano Gambarini/Instituto Mamirauá| Foto:

Pesquisadores registram 381 animais vertebrados e plantas em um período de dois anos

Pássaro Poaieiro-de-Chico Mendes (Zimmerius chicomendesi), nome em homenagem ao ambientalista e seringueiro Chico Mendes. Fotos: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá/Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF

Não é de hoje que a Amazônia é definida como pulmão do mundo. Com o avanço da devastação das florestas naturais em todo o planeta e a extinção de inúmeras espécies de plantas e animais, a região pode ganhar um novo título, o de viveiro do mundo. A cada ano é impressionante o número de novas espécies registradas na região – descobertas essas graças ao árduo trabalho de pesquisadores em busca de desvendar a biodiversidade do “continente amazônico”.

O resultado de um desses trabalhos foi apresentado na última semana pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá em conjunto com a Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF. O Relatório de Novas Espécies de Vertebrados e Plantas na Amazônia 2014-2015 mostra que a cada dois dias uma nova espécie foi registrada no período de dois anos. São 381 animais e plantas até então desconhecidos: 216 vegetais, 93 peixes, 32 anfíbios, 19 répteis, uma ave e 20 mamíferos (dois deles fósseis).

Grande parte das descobertas foi feita em áreas protegidas ou nos seus entornos, o que reforça – segundo os pesquisadores – a necessidade de garantir a preservação da Amazônia. O estudo mobilizou um grupo de especialistas num esforço de revisão bibliográfica para compor a lista inédita. Os levantamentos anteriores reuniram as novas espécies de 1999 a 2009 e 2010 a 2013. Nos últimos 17 anos foram mais de 2.000 novas espécies descritas.

Além da preservação, o estudo destaca a importância dos investimentos em pesquisa científica na Amazônia. Os pesquisadores lembram que, historicamente, a região tem sofrido o impacto de ações antrópicas como desmatamento, agropecuária e grandes obras de infraestrutura. Um exemplo recente é a construção de hidrelétricas e novas rodovias, tornando ainda mais urgente uma ação coordenada para preservar a biodiversidade amazônica.

0,1%
das espécies existentes no
mundo desaparecem todo os anos.
De acordo com relatório de 2005
da WWF, atualmente há entre
1,7 e 1,8 milhão de espécies
no planeta. Dessas, 80% ainda
não teriam sido mapeadas.

“Para a conservação das espécies, é necessário saber quais são, quantas são e a sua distribuição. Essas são informações fundamentais para garantir que os processos ecológicos e evolutivos sejam compreendidos e permaneçam, de modo a assegurar a sobrevivência das espécies”, diz João Valsecchi do Amaral, diretor Técnico-Científico do Instituto Mamirauá.

O coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Ricardo Mello, acrescenta: “Imaginar que ainda hoje, em 2017, estamos verificando a existência de novas espécies mesmo com escassos recursos, diz que ainda temos muito a conhecer e descobrir nesta região”.

O estudo destaca que, apesar do trabalho que vem sendo feito há anos, há ainda uma lacuna de conhecimento sobre a real diversidade da região. Um dos problemas que impedem o avanço nesse sentido é a carência de especialistas e taxonomistas, profissional que classifica os seres vivos.

Os desafios para o conhecimento das diversas formas de vida na Amazônia são muitos, principalmente pela sua grande dimensão territorial, riqueza de espécies e diversidade de habitats. “As áreas com pouca ou nenhuma informação ainda são muitas e extensas. A probabilidade de que novas espécies sejam encontradas nesses locais é bastante alta”, observa Amaral.

Os organizadores da publicação lembram que o relatório é restrito a novas espécies de vertebrados e plantas. “A maior parte da fauna amazônica, entretanto, seja em termos de biomassa ou em número de espécies e de indivíduos, é composta por insetos e outros invertebrados. Esses animais são importantes dispersores de sementes, polinizadores, agentes de controle biológico natural de pragas e protetores de algumas plantas”, destaca o estudo.

Um universo animais e plantas desconhecidos

No meio científico, o termo “nova espécie” é utilizado para oficializar o registro de descrição de uma espécie antes desconhecida pela ciência. O registro traz informações de taxonomia, detalhando características da espécie e também do local onde foi encontrada. O estudo divulgado pela WWF e o Instituto Mamirauá revela um universo de vidas desconhecidas até então.

Entre os achados que impressionaram os membros das expedições que adentram as profundezas da Amazônia em buscas de vida é o boto Inia Araguaiensis. Encontrado em 2014, na bacia do rio Araguaia, tem características moleculares e medidas do crânio diferentes dos botos encontrados na bacia do rio Amazonas.

O seringueiro e ambientalista Chico Mendes, símbolo da luta pela preservação da Floresta Amazônica, foi outro homenageado pelos pesquisadores. O pássaro Poaieiro-de-Chico Mendes (Zimmerius chicomendesi) foi registrado no sul do Amazonas, dentro da Floresta Nacional de Humaitá. O seu canto peculiar foi o que mais chamou a atenção dos pesquisadores.


O macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo (nome científico Plecturocebus miltoni) é outro destaque. O relatório descreve que o primata foi descoberto numa expedição do WWF-Brasil ocorrida em dezembro de 2010 ao noroeste do Mato Grosso. O nome “miltoni” atribuído ao animal é uma homenagem a um dos maiores primatólogos brasileiros, o cientista Milton Thiago de Mello.

Outros bichinhos e plantas registrados:

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