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O atual governador do Estado elegeu-se baseado num discurso que previa um “choque de gestão” na máquina pública paranaense, a qual seria administrada por ele e seu secretariado como se fosse uma empresa privada. A frase “fechar as torneirinhas do desperdício”, acompanhada de gesticulação cuidadosamente ensaiada, foi uma constante na primeira campanha eleitoral e o resultado todos sabemos: dois mandatos conquistados sem muito esforço.

Uma ideia óbvia e muito cara a qualquer um que trabalhe com gestão é a da medição de resultados. O pressuposto básico é o seguinte: se não há uma medida clara para avaliar o sucesso ou o insucesso de determinada iniciativa ou política, não há como saber se os recursos, sempre escassos, estão sendo bem aplicados. Essa ideia, hoje disseminada nos setores público e privado, dão uma base sólida na avaliação de governos, programas e projetos.

Essas noções aliaram-se a outra, bastante forte e perigosa, que é a da deslegitimação da política. Embrenhado no discurso da gestão eficaz, há o pressuposto de que o setor público deve ser “técnico” e não “político”, ainda que as fronteiras entre um conceito e outro jamais sejam explicitadas formalmente pelos representantes eleitos. Uma gestão “técnica” da educação, dessa forma, deveria ser pautada na busca da eficiência e eficácia, na boa alocação dos recursos e na indicação de pessoas capacitadas para postos-chave. Os resultados do choque de gestão no Paraná são reconhecidos até pelos pobres pitbulls que, em algum momento do ano passado, ficaram sem ração nos canis da PM. Mas deixemos isso de lado e façamos uma análise “técnica” da gestão Beto Richa na educação.

Tudo aquilo que o governo estadual compromete-se a realizar fica registrado no PPA – Plano Plurianual. Lá estão explicitados os indicadores de desempenho para cada um dos programas que deveriam causar algum efeito na educação paranaense. São eles: Inova Educação, Educação para Todos e Excelência no Ensino Superior. Para cada um, há medidas e metas, as quais seriam alcançadas por meio da gestão modernizadora, técnica e apolítica do atual mandatário estadual.

Um dos programas, o Inova Educação, tem como objetivos a melhoria da qualidade da educação básica e a valorização do magistério. Neste programa estão elencados seis indicadores: Taxa de Aprovação, média de resultados na Prova Brasil e nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), cada qual desdobrado para o Ensino Médio e os anos finais do Ensino Fundamental. Os resultados são lamentáveis, a despeito dos aumentos de receita, do vasto apoio parlamentar e da conivência surda da intelligentsia local.

A taxa de aprovação aferida em 2010 e usada como base foi de 79,4% para o ensino médio e 82,4% nos anos finais, com a meta de chegar a 2015 com índices de 87% e 90%, respectivamente. Na apuração desses índices em 2014, o primeiro estava em 78,6% e o segundo em 83,2%, ou seja, menores ou praticamente estagnados em relação a 2010. Nos resultados da Prova Brasil constata-se que, a exemplo dos rabos da Cavalaria, o crescimento foi para baixo, pois no ensino médio estávamos com 4,76 de média e no fundamental com 4,95, e em 2014 regredimos para 4,19 e 4,88. Por fim, o Ideb do Ensino Médio era de 3,9 e ano passado estava em 3,4, enquanto que o Fundamental ficou nos mesmos 4,1 pontos de quatro anos atrás.

Antes que as assessorias de imprensa oficiais ou os blogueiros oficiosos apontem dedos de black blocs nesses números, é bom frisar: isto está em documentos produzidos e disponibilizados pelo próprio governo do Estado, no site da Secretaria de Planejamento.

Ou seja: a gestão modernizadora e limpinha, que prometeu fechar as torneiras do desperdício e trazer o melhor dos mundos para a educação paranaense, conseguiu o prodígio de piorar o que já era ruim. A percepção generalizada entre alunos, professores e diretores sobre a degradação do ambiente escolar e a falta de condições mínimas para o fornecimento de ensino de qualidade é comprovada com números contestáveis apenas por um laborioso exercício de fantasia e imaginação – o que não é raro por estas plagas, frise-se.

Talvez o indicador que o atual governo deixará gravado nas páginas da história seja outro: 28,5. Essa é a proporção de professores feridos (200) para cada detido (7) no massacre perpetrado pela Polícia Militar em frente à Assembleia Legislativa nos episódios de 29 de abril. Nas páginas futuras da história do Paraná, os números da gestão modernizante serão uma nota de rodapé quando comparados ao circo de horrores que se presencia na educação estadual.

*Christiano Ferreira é historiador e atua há mais de 10 anos no Ensino Básico e Superior como docente e gestor educacional. Atualmente coordena o Projeto Tetear, da Parabolé Educação e Cultura, que leva oficinas de arte e educação para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social na Região Metropolitana de Curitiba. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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