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Plágio acadêmico: a externalidade negativa da internet
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(Foto: Daniel Caron)

(Foto: Daniel Caron)

É inegável que o advento da internet modificou substancialmente os fundamentos da sociedade contemporânea. A alta velocidade na transmissão de informações, a troca simultânea de mensagens e as redes pulverizadas de intercomunicação e de contatos circundados em todo Planeta transformaram-nos no que se costuma chamar de “sociedade da informação”. A sociedade cuja base está justamente na facilidade do acesso rápido e instantâneo à notícia.

A internet, nesse sentido, surge como uma plataforma de emancipação da própria cidadania das pessoas e do (re)conhecimento sobre a importância que a sociedade civil organizada tem em um sentido limitador do poder dominante, ao mesmo tempo em que permite igualar as fontes de obtenção de conhecimento, sem discriminação – aliás, é tanto por isso que alguns regimes políticos autoritários teimam em manter a sociedade afastada da rede.

Portanto, e o que isso tem de ruim? A geração que cresceu no ambiente da internet vive e se relaciona em uma velocidade em aceleração constante. A mesma rapidez que permite ampliar os rumos do intercâmbio de informações torna-as desatualizadas em um piscar de olhos. A notícia é velha e obsoleta do dia para a noite. As pessoas consomem a informação como um produto da sociedade e do espaço em que vivem, deixando de observar a necessidade de reflexão e de degustação da essência do produto para transformá-lo em conhecimento.

Para fazer frente ao processo de aceleração, a informação é ofertada em migalhas e de forma superficial porque, logo em seguida, outra virá a substituí-la. Não se consegue debater, refletir, pensar, compreender, decifrar o que está por trás. Se houver profundidade, perde-se a próxima; se houver leitura mais densa de conteúdo, o tempo passa apressado.

A facilidade de acesso e a instantaneidade da procura, juntamente com a rápida obsolescência das coisas que nos conformam e com a baixa densidade de observação das pessoas, torna a sociedade irreflexiva e transforma a informação em mero produto de consumo rápido e voraz – e o conhecimento em uma simples e superficial capa da verdade inatingível. A essência é irrelevante já que a sociedade prefere conhecer a casca. E as pessoas, que são criadoras e criaturas desse novo modelo, mostram na rede apenas o seu epitélio, a mera pelugem do que verdadeiramente são, porque não conhecem a si próprios ou têm medo de conhecer-se.

E o que isso tem a ver com o ato de plagiar? Muito, a nosso ver. O plágio é uma espécie de externalidade negativa do advento da internet; é o efeito lateral indesejado oriundo de um sistema em rede criado para impulsionar a comunicação e a troca instantânea de conteúdo, mas que muitas vezes é utilizado como mecanismo de indevida cópia e colagem de dados, textos e informações das mais variadas, sem a efetiva preocupação com a citação da fonte ou com a certificação de validade do conteúdo. Essa agilidade no acesso à informação célere e superficial acaba retirando das pessoas o sabor da pesquisa porque pesquisar é complicado e dá trabalho.

A pesquisa necessita investigar a essência. A pesquisa demanda um caminho extenso e às vezes cansativo, um processo constante de imersão de conteúdo a partir da retirada da redoma que protege o núcleo do conhecimento. O plágio é justamente o desapego pelo caminho e a obsessão pela linha de chegada.

Esquece-se, porém, que quando o percurso é difícil e intrincado o alcance do resultado esperado o torna mais saboroso. Por outro lado, quando o caminho é facilitado por inúmeros instrumentos de obtenção do resultado, o ato de percorrê-lo parece que se esvazia. E a pesquisa nada mais é do que o caminho, árduo, difícil e complexo para realização do proveito final almejado e se sobrepõe à ideia de apenas cumprir uma formalidade (para não dizer um obstáculo – como a veem alguns alunos) necessária à obtenção do resultado verdadeiramente desejado: o grau de bacharel, especialista ou seja lá o que for.

Nesse sentido, a vida acadêmica deve ser transformada. A universidade deve ser observada como uma janela para ampliação de horizontes, evitando que se a enxergue como um simples e necessário passo para a vida profissional e a entrada no mercado de trabalho. O espaço universitário é, assim, local de reflexão científica no qual o trabalho acadêmico de conclusão de curso deve revelar-se como um verdadeiro fechamento de ciclo, elevado a ser importante por si mesmo e pelos benefícios que a pesquisa nele condensada pode gerar, para si e para outros – e não como um espinhoso obstáculo à obtenção do diploma.

É preciso ter em mente que a sociedade somente se desenvolve positivamente a partir da construção conjunta e compartilhada do conhecimento – o conhecimento como fim em si mesmo e não como mero instrumento para persecução de outras vantagens (diploma, ascensão social, aumento de salário ou qualquer outra forma de ganho material direto ou indireto). O conhecimento, portanto, não é mera ferramenta de trabalho ou de obtenção de melhoria de vida social; aliás, o conhecimento só é verdadeiramente um instrumento (meio) quando utilizado para a construção de mais e novas competências hábeis a implicar o desenvolvimento de todos os cidadãos; de resto, do ponto de vista individual, é um fim em si mesmo, uma forma de ascensão interna e pessoal.

* Artigo escrito por Antonio Augusto Cruz Porto, mestre em Direito Econômico e Socioambiental/PUCPR, advogado e professor da Universidade Tuiuti do Paraná-UTP, e Cibele Merlin Torres, mestre em Direitos Fundamentais e Democracia/Unibrasil, advogada e gerente do Núcleo de Concursos da PUCPR, associados do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.  

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