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(Foto: Divulgação)

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Que tal fechar os olhos e buscar na memória as principais brincadeiras e jogos usufruídos na época de sua infância? Possivelmente, nesse exercício, dada a realidade e contexto de cada um, especialmente para aqueles que não precisaram adentrar ao mundo do trabalho precocemente, as principais lembranças permearão situações vividas na rua ou no campo, em casa ou no apartamento, acompanhados ou não por amigos e familiares, com brinquedos adaptados a partir da criatividade e imaginação, outros industrializados, ou ainda, simplesmente sem objetos. Certamente, momentos que não voltarão, mas que fazem parte de nossa história.

Mas sobre as brincadeiras “na” e “da” escola, como eram e como são, atualmente? Será que conferem aos sujeitos opções de escolha? Para esclarecer, por ora, tratamos as vivências lúdicas “na” escola como sendo as criações infantis no próprio espaço, a partir da herança cultural, ressignificação das práticas ou produção das crianças. Um exemplo pode ser o “chocopito”, presente no documentário “Brincantes” (disponível no link https://youtu.be/3Q5QX-TDUW8), uma brincadeira que envolve oralidade, ritmo e movimento. Já o aspecto determinado como “da” escola, compreende ações desenvolvidas didática e metodologicamente para alcançar determinados fins pedagógicos, geralmente pensadas pelos docentes das instituições ou órgãos de direção geral.

Mencionamos “opções de escolha”, pois embasamos esse debate nos distintos interesses culturais apresentados pelas crianças no tempo/espaço de lazer presente no cotidiano escolar. Ou seja, o universo lúdico e suas variadas manifestações durante o recreio: as brincadeiras que envolvem a dança e expressividade, o momento de assistir um filme na sala de projeção, as atividades de correr ou partidas de futebol, rodas de conversa, leituras de gibi ou livros, a brincadeira de cinco marias e tantas outras que compõem a realidade dos estudantes.

Do mesmo modo, estudos no campo do lazer evidenciam a existência e classificação de diferentes interesses culturais nesse tempo e espaço. Para Nelson Carvalho Marcellino, autor que debate o tema, o lazer possui diferentes conteúdos, organizados em seis áreas de concentração. Uma delas corresponde ao interesse artístico, que compreende o estímulo do imaginário, das emoções e sentimentos. Um segundo aspecto é o interesse intelectual, que evidencia informações objetivas ou explicações racionais, como o caso de pessoas que gostam de leitura, por exemplo. Outro interesse diz respeito ao aspecto manual, voltado para ações de transformação de objetos em materiais (artesanato) ou de contato com a natureza, como a jardinagem. O quarto interesse corresponde ao elemento social, ou seja, a valorização dos pontos de encontro para troca de experiências ou diálogos. O penúltimo interesse é o turístico, voltado a romper a rotina do tempo e do espaço, em que são englobados os passeios e viagens. Finalmente, o interesse físico/esportivo, em que são consideradas as atividades de perseguir, subir e escalar, pular, jogar com ou sem bola, enfim, uma infinidade de ações em que prevalece o movimento.

Um cuidado, no entanto, é a necessidade de investigação sobre tais interesses. Ao observarmos as vivências realizadas pelas crianças durante o recreio, com exceções, perceberemos que a maioria delas está concentrada no aspecto físico/esportivo. Vários fatores interferem na constituição dessas práticas e um deles pode ser a falta de estimulo aos outros interesses. Muitas vezes, na organização das brincadeiras “da” escola, parte-se do princípio de que maior parte das crianças gosta do mesmo aspecto, desconsiderando suas diferenças. É o caso tradicional do empréstimo de bolas para os meninos e cordas para as meninas. Além disso, o que mais pode ser vivenciado?

A resposta pode e deve partir da consideração das crianças, afinal, são contínuas produtoras de cultura e precisam pensar e viver o próprio espaço. Um caminho interessante nesse percurso passa pela observação do recreio, reconhecimento das vivências desenvolvidas e aproximação da equipe pedagógica para, posteriormente, intervir junto às crianças em relação à organização e compartilhamento de brincadeiras e jogos. Algumas sugestões são válidas, como a criação do espaço da leitura, combinado com o local da troca de livros e/ou brinquedos, ou ainda, a dança coletiva, vivenciada a partir de determinados jogos de videogame, o que contempla o interesse virtual, definido por Gisele Maria Schwartz, pesquisadora do campo. Podemos considerar, também, o remanejamento de bancos ou inserção de materiais acolchoados para sentar e conversar, de modo que seu layout possibilite a interação entre os sujeitos. Outra possibilidade são as oficinas de brinquedos feitos com sucatas, o que atende grupos de interesse manual.

Entre o “na” e o “da” escola, muitas vezes fora de sintonia, não podemos deixar as crianças submissas à lógica do “nada” que vá ao encontro de seus interesses, ou pouco do que é ofertado. Da mesma maneira, a diversificação da oferta envolve, necessariamente, a participação e mediação do adulto, em prol de outra organização do espaço e das práticas usufruídas. É preciso estabelecer um plano de ação contínuo pautado no diálogo permanente com as crianças.

Fica o desafio: organizar, propor e manter, em parceria com os estudantes, diferentes vivências lúdicas no espaço escolar, de maneira a potencializar o aspecto criativo condizente a cada um, a partir de seus desejos e escolhas. Pensar em diversidade cultural também inclui vivenciar a pluralidade de sentidos e significados dados às brincadeiras e jogos no tempo/espaço de permanência na escola.

* Artigo escrito por Thiago Domingues, professor, mestre em Educação Física pela UFPR, palestrante e formador pela Parabolé Educação e Cultura, que desenvolve projetos culturais de interesse social e educacional. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação & Mídia.

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