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A Semana do ‘18 de Maio’ e a caixa de ferramentas que precisamos utilizar
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Dentre as diversas mazelas e problemas sociais que o Brasil enfrenta, as violências sexuais contra crianças e adolescentes é um dos mais escandalosos e alarmantes. Afinal, o país que é vendido como um ambiente de muita alegria, otimismo, samba, bom humor e de pessoas com ‘bom coração’ traz de baixo da sua máscara um histórico de muita violência que vem sendo documentado desde o encontro de nativos indígenas quando da chegada dos portugueses, passando por período declaradamente escravocrata, até chegar aos dias de hoje com violência no campo pelas disputas de terra, nos centros urbanos, nas favelas e espalhando-se pelas casas, atingindo mulheres, idosos, pessoas com deficiência, população LGBT e, no meio desse baleio de agressões físicas, psicológicas, verbais e simbólicas: as crianças e adolescentes.

Acontece que nós possuímos uma caixa com diversas ferramentas importantes para ajudar a consertar o problema da violência, sobretudo das violências sexuais contra crianças e adolescentes no Brasil. Falta ainda fazer com que mais pessoas conheçam quais seriam essas ferramentas e como utilizá-las no enfrentamento do problema. A educomunicação é uma delas.

Segundo dados de organizações respeitadas como a Save The Children e o Fórum Internacional sobre Exploração Sexual Infantil, a exploração sexual atinge 1,8 milhões de jovens no planeta a cada ano. No Brasil, a exploração sexual de crianças foi verificada em 930 municípios e a região Nordeste é a que lidera as estatísticas, com 292 municípios que já foram cenários desta prática.

O Unicef – Organização das Nações Unidas para a Infância e Adolescência acredita que existam 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos que sofreram pelo menos uma das formas de violência sexual. Aliás, são inúmeras as possibilidades de violência sexual, que se dão por meio de dois crimes diferentes: através do abuso e da exploração sexual. Abusar sexualmente é um ato que pode ocorrer com e sem contato físico.

Abuso sexual com contato físico

– Assédio sexual/ proposta de relações sexuais;

– Abuso sexual verbal (conversas abertas sobre atividades sexuais, com a intenção de despertar o interesse na criança ou no adolescente);

– Telefonemas obscenos;

– Exibicionismo (mostrando órgãos genitais ou se masturbando em frente da criança ou do adolescente);

– Voyeurismo (observar fixamente o adolescente nu no banho ou trocando de roupa, por exemplo, e obtendo satisfação dessa prática).

Abuso sexual com contato físico

– Atentado violento ao pudor;

– Estupro;

– Corrupção de crianças e adolescentes (indução a praticar ou a presenciar um ato libidinoso);

– Sedução (indução de pessoa virgem entre 14 e 18 anos a manter relação sexual mesmo com consentimento).

A exploração sexual tem suas crueldades específicas, que podem ou não se entrelaçar co m as características do abuso sexual, apesar de serem práticas diferentes. Ela é dotada das seguintes possibilidades:

– Pornografia;

– Troca sexual por ‘favores’, como comida ou drogas;

– Uso do contexto do turismo para a exploração sexual;

– Tráfico para fins de exploração sexual.

A semana do 18 de Maio é época estratégica que a sociedade civil, há alguns anos, vêm utilizando para fazer as mobilizações em prol da prevenção e enfrentamento às violências sexuais contra crianças e adolescentes. A data é um marco por conta do sequestro da garotinha de oito anos, Araceli Cabrera Sanches, que foi sequestrada em 18 de maio de 1973. Depois de ser drogada, espancada e estuprada, uma família tradicional de Vitória(ES) a matou. Mesmo com a cobertura da mídia, o caso ficou impune e a garota só foi sepultada três anos depois, causando revolta até hoje.

Na caixa de ferramentas para enfrentar tudo isso tem muitos itens que já vem sendo utilizados em menor ou maior grau, sobretudo após os anos 1990, com o início da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente. Tem políticas públicas de proteção/ prevenção, de promoção de direitos e de fiscalização. Tem a formação para a autoproteção de adolescentes, a capacitação de professores(as), conselheiros(as) tutelares e outros(as) agentes do sistema de garantia de direitos. E tem também a imprensa, o cinema, a literatura, as artes. E a educomunicação!

Muitas organizações sociais, educadores(as), pesquisadores(as) e grupos/ coletivos vêm praticando a educomunicação em suas iniciativas, encontros, eventos e no cotidiano de sua gestão. Trata-se de um conjunto de ações que ajudam a estabelecer um ecossistema comunicativo, que incentiva a leitura crítica dos meios de comunicação, ações cidadãs transformadoras, gerenciamento horizontal de processos, protagonismo juvenil, aprendizagem compartilhada e produção de conteúdos e mídias alternativas e livres. A jornalista e educomunicadora Paula Nishizima, já falou um pouco da história da educom aqui no blog Educação e Mídia.

A participação de crianças e adolescentes em ações e projetos de educomunicação é uma genuína forma de transformação social, uma vez que, no contexto do enfretamento às violências sexuais infanto-adolescentes, cria-se um cenário de solidariedade entre pares. É criança ajudando e promovendo direitos, informações e sensibilizações em prol de outras crianças! Ao se conhecer a realidade dos abusos e explorações sexuais pelo país, não cabe aos participantes apenas se abaterem e demonstrarem a sua tristeza em relação ao assunto. Eles(as) também são convidados a produzir seus cartazes, jornais-murais, vídeos, fanzines, mobilizações na escola, na rua e nas redes sociais digitais pra fazer a temática ecoar, chegar a mais pessoas!

No Paraná, um bom exemplo de iniciativa foi o projeto Navegando nos Direitos  que, por nove anos, desenvolveu práticas educomunicativas com adolescentes de Paranaguá. Mais recentemente, uma boa prática da Rede Marista de Solidariedade tem disseminados vídeos com animações e materiais digitais no âmbito da Campanha Defenda-se. O portal Universo Educom disponibilizou uma lista com mais de 30 cartilhas, guias, revistas e manuais com conteúdos informativos sobre esse debate. Em âmbito nacional, figuram a campanha Faça Bonito e as iniciativas da Campanha ANA – Aliança Nacional de Adolescentes.

Se aproprie das atividades desenvolvidas no seu município, para enfrentar o abuso e a exploração sexual de meninos e meninas. O enfrentamento só é forte  quando cada um faz a sua parte, mesmo que a ferramenta a ser utilizada seja a sua voz, o seu e-mail para um vereador ou o desafiador mundo da educom (:

#FaçaBonito

 

*Artigo escrito por  Diego Henrique da Silva Jornalista e Educomunicador no coletivo Parafuso Educomunicação . O Parafuso Educom é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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