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(Imagem: Divulgação)

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Ontem a noite minhas filhas me chamaram para assistir a um filme que estava prestes a começar. Era o documentário da história de Malala Yousafzai, a menina paquistanesa que desafiou a violência dos Talibãs para simplesmente ter o direito de ir a escola e estudar. Como já conhecíamos um pouco da história pelas conversas em casa, ambas queriam muito saber mais. Ótima oportunidade pra um filme em família, como sempre fazemos, mas dessa vez era especial. Afinal tratava-se de uma história marcante. Sabíamos que ali estava um momento único para conhecerem a fundo uma menina que muda o mundo todos os dias. A coragem, força e espírito grandioso de Malala que levantou a voz, não apenas por ela, mas pelo direito de todas as meninas do mundo pela educação, são avassaladores.

Durante quase uma hora e meia de filme, as duas ficaram hipnotizadas e emocionadas, assim como nós, pela trajetória e luta de Malala e sua causa. Pequenos grandes exemplos de mulheres, como de uma menina, que se coloca com grandeza e propósito diante de um mundo machista, violento e preconceituoso, são extremamente valiosos para se expor e discutir em família. Afinal onde estão hoje os líderes altruístas que inspiravam gerações inteiras no passado?

Eles sem dúvida ainda estão por aí, mas com pouco espaço na mídia, na escola e no dia a dia de muitas pessoas. Acredito ser vital expor nossos jovens à história humana de mudança e coragem. São fontes de exemplos reais que nos mostram valores simples e ao mesmo tempo grandiosos. Mas muitas vezes negligenciados por família, escolas e veículos de comunicação. De que é preciso olhar ao redor e pensar no outro, além de nós mesmos. E de que grandes desafios e mudanças acontecem com pequenas atitudes todos os dias.

A história de Malala cativa por sua simplicidade, humildade e força. E, ao final, constata-se que, apesar de provavelmente essa menina ter nascido já destinada a mudar a história do mundo de maneira quase messiânica, percebemos que toda força, coragem e confiança que ela possui, não vêm de religião ou força divina como ela mesma dá a entender. Mas sim de sua própria casa, de sua família. Desde o avô de Malala, um homem eloquente segundo própria descrição do pai, que falava às multidões sobre direitos e importância da sabedoria, do alto de uma pedra. Até seu pai, um homem que abriu uma pequena escola com as próprias mãos quando Malala era muito pequenina, por simplesmente não aceitar submissão, poder e segregação impostas pela velha escola de seu país que não permitia liberdade de pensamento e a presença de meninas.

Ao longo do filme fica claro pelas palavras da própria Malala que sua família lhe deu toda confiança para ser o que é. Segundo ela mesma, uma menina normal, com medos e dúvidas, mas com vontade de ajudar pessoas e mudar o mundo. E acima de tudo, apesar da hostilidade de um ambiente que em nada favorecia a sua luta pelo direito de ir a escola, sua família lhe deu a maior das liberdades: a de escolher fazer o que sabia e sentia ser o correto. Não apenas para ela, mas também à todas as meninas do mundo que lutam por direitos e oportunidades.

Pais presentes, que conversam, educam, e estão por perto, apoiando, incentivando, corrigindo e ao mesmo tempo dando asas podem transformar realidades e futuros. “Os maiores exemplos vêm mesmo de casa, de nossa própria família”, diz o pai de Malala. Ditado conhecido, mas talvez pouco praticado hoje em dia em muitos lares. Sempre acreditei nisso e tentamos cultivar esses momentos em casa, com muita conversa, histórias e relação pele com pele. É o caminho que acreditamos para ensiná-las e ao mesmo tempo libertá-las. Terão suas próprias asas para decidirem o que querem.

Ao ouvir a história de Malala e sua família, percebemos o quão simples deveria ser essa relação de família e ao mesmo tempo o quão complexa e crucial pode ter na educação ao longo da vida. Nascida no Vale do Swat, Paquistão, em um ambiente de violência, autoritarismo e segregação, principalmente contra a mulher, Malala ainda fala com muito carinho e saudosismo das ruas de pedras, das suas amigas, dos banhos de rio e de sua casa na cidade natal. E apesar de hoje morar na Inglaterra e viajar o mundo pela sua causa, diz que tem um grande sonho ainda. De pelo menos um dia poder entrar em sua casa novamente. Um único dia e estaria muito feliz. Já seu pai, sonha reencontrar aqueles seus alunos de sua pequena escola, que ele ensinou a subir na cadeira para dizerem o que pensavam. A não se calarem ou aceitarem submissão e imposições.

Ao final, após ter ganho o prêmio Nobel da Paz — 2014 — com seus 16 anos, Malala diz que ficou lisonjeada com o prêmio e muito feliz, mas completou: “O prêmio não é o que me deixa mais feliz, o que me move é saber que estou ajudando tantas meninas e pessoas em todo o mundo, do meu jeito.” E seu velho pai, quando perguntado também sobre o que realmente importava com o prêmio que Malala havia recebido, responde: “O que realmente importa? Mudança. Mudança importa”. Não deixem de ver esse filme juntos, com seus filhos. Professores, não deixem de assisti-lo com seus alunos. Uma avalanche de inspiração, vida e de valores essenciais de família, educação e propósito que valem a crença na humanidade.

*Artigo escrito por Jean Sigel, especialista em Marketing, Comunicação e Inovação, e co-fundador da Escola de Criatividade. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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