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(Foto: Acervo Jean)

(Foto: Acervo Jean)

Por que uma menininha de apenas 6 anos pode nos mostrar na prática que para encantar, ensinar e inspirar é preciso ser autêntico e ter um propósito verdadeiro? E que empreender ou educar, nada mais é do que experimentar, ousar fazer diferente e realizar o novo pela autenticidade? Mas antes de falar da personagem principal dessa historia, vale a pena uma reflexão à partir de dois pensadores.

Meu sábio amigo e parceiro Eloi Zanetti, com quem fundei a Escola de Criatividade, um dia me disse algo que foi mais impactante e valioso do que anos de estudos formais em marketing e comunicação. “Pessoas não compram produtos, elas compram histórias”. Aquilo ficou tão marcante em minha mente e fazia tanto sentido da maneira mais simples, que comecei a ouvir com mais cuidado as histórias por trás das pessoas e o que elas realmente transmitiam. Dizia ele: “as vezes o que não está sendo dito, é mais importante do que é dito claramente”. Profético ou não, ele ainda me contou num café o significado da palavra encantamento para os índios guaranis quando realizava um trabalho de comunicação. E o mais belo conceito ouvi: “Encantar para os guaranis significava: estar junto, sem estar presente”, disse ele. Se você tem a habilidade de encantar e inspirar, marcará a vida das pessoas de tal forma que nunca mais deixará de estar presente na vida delas, mesmo estando distante. Estar junto, sem estar presente. Está aí talvez um dos segredos de grandes líderes, mentores, oradores, professores e empreendedores. O poder de educar, contar histórias e encantar, pelo propósito e pelo prazer de fazer diferente e verdadeiro.

Lembro também de um TED Talk interessante de Simon Sinek que falava sobre o Círculo Dourado, pra explicar sua tese sobre como e porque alguns grandes líderes tem a habilidade de inspirar muitos a sua volta. Diz ele que as pessoas geralmente não são inspiradas e não “compram” o “o quê” você está falando e nem o “como” você está fazendo ou vendendo. Mas elas compram “o porquê”. Compram o propósito e o sentido. Compram o motivo e a razão daquilo que você está comunicando. Na prática se pararmos para pensar, observamos muito isso em grandes projetos empreendedores, empresas ou escolas que geram além de valor, propósito e encantamento.

O que essas histórias têm em comum e porque se conectam com o título, o tema educação e com a personagem principal desse artigo? Acredito que a habilidade de comunicar, compartilhar e realizar propósitos autênticos possa ser estimulada e desenvolvida muito mais cedo do que imaginamos. Em casa e na escola. Crianças, todas elas muito criativas, desenvoltas, sem preconceitos, autênticas, pouco avessas a riscos e a novos desafios e experimentos, são naturalmente sedentas e curiosas por histórias e encantamentos. Todas possuem um pó mágico dentro de si, que as permitem voar sempre em direção a novas criações, brincadeiras e que as movem para fazer algo realmente novo. Elas convencem amigos, pais e quem quer que esteja ao seu redor para brincar, realizar e a “comprar” uma nova ideia. São empreendedoras por natureza que encantam pela autenticidade.

Minha filha caçula, Giovanna, mais conhecida como Nana, na época com seis anos, estava em cima de uma árvore na Ilha do Mel observando pessoas passarem na frente de casa, quando voltou e falou: — ”Mãe, pai, tem bastante gente passando ali e acho que vou fazer uma limonada pra eles, porque tem alguns muito cansados”. Perguntei: — Mas você quer oferecer pra eles ou vender? “Eu vou dar, e vou dizer que pode ser uma moedinha só ou grátis. Tá bom. Fizemos uma jarra de limonada com limão caipira, e lá foi ela arrumar sua pequena mesa e cadeira no caminho da ilha. Afinal, qual criança não vendeu limonada na rua? E nós só de longe observamos, sem interferirmos. Era ela e sua ideia. E tinha que se virar.  — ”Olha a limonadinha da minha casa, refrescante”, dizia ela com desenvoltura e empolgação. E no mesmo instante o primeiro grupo de pessoas não resistiu e disse: — Ai que bonitinha, quanto é? E lá foi ela: — É uma moedinha ou grátis, tá?.” E obviamente as pessoas não resistiam e davam suas moedinhas. E por aí foi durante quase 2 horas em que ela conversava com as pessoas, servia a limonada, desejava bom passeio e ainda completava: “cuidado com as raízes no chão, senão dói muito o pé”… Em um dos grupos uma moça parou com sua família, deu algumas moedinhas, tomou a limonada e pediu se poderia tirar uma foto junto com ela. Imagine o orgulho da pequena com esse pedido. Só parou quando começou a anoitecer. Ao final do dia uma senhora passou, ficou encantada com a pequena tão motivada e engajada, mas não tinha nenhuma moedinha. Porém quis oferecer um chocolate para ela em troca de um gole de limonada. E a Nana respondeu: — Não obrigado, eu não sou muito de chocolate, pode ser grátis pra senhora sim. Importante é você não ficar com sede, tá bom?”

Arrecadou 28 reais e no dia seguinte comprou um picolé para ela, um para o pai, para a mãe e o resto guardou no seu cofrinho. Mas, em momento algum ela vendeu limonada. Vendeu sonho, propósito, encantamento e autenticidade. Não houve um “cliente” que deixou de dar uma moedinha mesmo sendo grátis porque o que estava sendo dito lá tinha muito mais importância do que o produto que ali estava. Lá ela vendia a essência que era invisível para os olhos, mas não para o coração, como diria a Raposa ao Pequeno Príncipe.  Atitudes e lições desse tipo podemos ver e ouvir todos os dias quando estamos junto de crianças em casa e na escola. Porém, nós adultos, pais e também professores é que aos poucos retiramos esse pó mágico criativo que existe dentro delas em troca do fazer e comunicar o óbvio. Pensamos mais com nossas cabeças adultas e menos nos colocando nas cabecinhas delas. Damos respostas em vez de estimular perguntas. Padronizamos ao invés de valorizar o novo. Vamos para o prático, quando o que elas querem é o desafio. É preciso que observemos com mais cuidado e atenção para esses ímpetos criativos e empreendedores de nossos pequenos, para que possam voar mais alto ou experimentarem novas sensações e desafios. Assim aprendem a se expor, a se comunicar e a buscar as essências do que fazem. Encerro repedindo propositalmente um trecho do texto para falar diretamente a todos que educam: Estar junto, sem estar presente. Se você tem a habilidade de encantar e inspirar, marcará a vida das pessoas de tal forma que nunca mais deixará de estar presente na vida delas, mesmo estando distante.

— Toma. Quer limonada? Uma moedinha ou grátis.

*Artigo escrito por Jean Sigel, especialista em Marketing, Comunicação e Inovação, e co-fundador da Escola de Criatividade. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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