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Vacina contra a Violência
| Foto:
Priscila Forone / Gazeta do Povo
Medida de segurança na Escola Estadual Emiliano Perneta, que desenvolveu um trabalho de prevenção contra a violência durante seis anos

Não se pode privar um filho de ter contato com as doenças sociais que os cercam, criando-os numa redoma de isolamento. Igualmente, não se pode criar filhos abandonando-os e achando que eles vão adquirir resistência por si mesmos às situações de risco. Em ambos os casos, estarão expostos a perigos fatais sem meios para resistirem.
Ao contrário, assim como age uma vacina, pode-se estrategicamente permitir a exposição atenuada e controlada com aquilo de que se deseja preservar: as situações de risco e doenças fatais.

Educar é assumir a responsabilidade de permitir aos filhos viverem as situações de risco com defesas apropriadas. Cada nova doença social exige uma vacina e tempo para prepará-la. “Pais atentos, presentes, orientadores e comprometidos não evitarão o contato de seus filhos com a realidade da vida que estes vivem, não os subtrairão do mundo que habitam.” (S. Sinay).

Porém, a ‘vacina’ não é a exposição precoce ao álcool, drogas, sexo, turmas,… Mas a inoculação firme, paciente, amorosa e presencial de valores, espiritualidade, moral, recursos que permitam ao jovem, em sua fase de desenvolvimento, adquirir resistência para passar pelas situações de risco. Desta forma, ele terá maior consciência dos perigos e compreenderá as possíveis consequências de seus atos. Isto exige tempo e dedicação. Isto é educação.

Os filhos devem adquirir, através de seus pais, o conhecimento das manhas, artimanhas e estratégias dos agentes infecciosos da sociedade, de suas armadilhas e ciladas; saber como se comportam e camuflam, geralmente passando despercebidos ou invisíveis. É muitas vezes impossível exterminá-los, assim como a violência. Mas conhecer seus hábitos e habitat é fundamental para diminuir ou mesmo evitar acidentes ou exposições fatais.

Ao sair e se expor à vida, com todos os seus riscos inerentes, nossos filhos deverão levar em suas mochilas princípios éticos, morais, espirituais, valores e uma firme educação. Mais do que qualquer quinquilharia eletrônica ou objetos de desejo consumista, é o que eles precisarão para agir, reagir, interagir e sobreviver diante das situações limites pelas quais inevitavelmente passarão. A vacina age ativando a resposta imune do organismo contra determinado agente infeccioso, quando exposto a ele. A educação age ativando a resposta ética e moral contra as situações de risco social, em momentos de exposição.

Mas porque, então, não se promove a “vacinação” em massa priorizando-se a educação de qualidade em todos os níveis, combatendo os agentes que promovem as doenças sociais? Porque a ignorância favorece a virulenta indústria da violência. A população é intencional e sistematicamente enganada pelos que promovem a ignorância, a miséria e o consumismo insano, cabresteada para combater a cura:

“- Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz.” (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904). Há muita resistência e interesses escusos contra a educação. Mas a revolução pode começar dentro de casa.

*Artigo escrito por Gustavo A. L. Brandão, colaborador do Instituto Não-Violência

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