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A UFPR resolveu estabelecer a reserva de vagas para cotas sociais e raciais (sic) na primeira fase de seu concurso vestibular. Até então o procedimento era o seguinte: o vestibular da UFPR é dividido em duas fases: uma primeira, com questões objetivas, aborda os conhecimentos de 9 disciplinas ministrados ao longo do Ensino Médio. Uma segunda fase, discursiva, aborda as disciplinas escolhidas pelos cursos, mais as redações. Direito, por exemplo, elegeu História e Filosofia para a segunda fase. Medicina, Química e Biologia. E assim por diante.

Como funcionava o sistema de cotas até então? Na primeira fase, não havia distinção. Os alunos, cotistas ou não, deveriam mostrar um mínimo de conhecimento das disciplinas e alcançar uma nota de corte para leva-los para a segunda fase.

Superada essa etapa, comum a todos – lembrando que as questões dessa primeira fase abordam conteúdos de conhecimento esperado para quem terminou o Ensino Médio – havia a segunda fase respeitando as cotas. Os que passaram para a segunda fase e eram cotistas, disputavam apenas entre si as vagas a eles destinadas. Os que não eram cotistas, disputavam entre si as vagas restantes.

O que a UFPR percebeu estar acontecendo? Nesses 10 anos de aplicação do sistema de cotas, alguns cursos continuavam “fechados” aos cotistas, particularmente às chamadas cotas raciais (sic). Na medicina, por exemplo, o ingresso de negros é próximo de zero. A razão? Os alunos cotistas não conseguiam alcançar a nota de corte para a segunda fase. Ano passado, por exemplo, a nota de corte foi de 55 acertos em 80 possíveis. Como praticamente nenhum aluno ou aluna candidato pelo sistema de cotas raciais (sic) conseguia esse nota de corte, as vagas destinadas a eles voltava para a lista geral.

Muitas variáveis poderiam ser analisadas diante deste dado. Vou destacar duas: Primeiro: em dez anos, as políticas públicas voltadas para a melhoria do ensino médio nas escolas públicas e as políticas de distribuição de renda não conseguiram melhorar a condição de aprendizado dos jovens negros do país a ponto de permitir a eles alcançarem um patamar capaz de faze-los avançarem para a segunda fase de um vestibular de medicina como o da UFPR, embora melhoraram substancialmente o ingresso em cursos menos concorridos, mais do que dobrando o número de estudantes negros na UFPR.

Segundo: a comissão de vestibular da UFPR, responsável pela elaboração das questões, produz uma prova que busca estabelecer um padrão mínimo de aprendizado para admitir jovens alunos e alunas em seus quadros. Se não for essa a intenção da elaboração dessas provas, não há nenhuma razão delas existirem. E, sendo as provas elaboradas pelos professores da UFPR o parâmetro de referencia para permitir o ingresso de jovens alunos e alunas em sua instituição, fica claro que os jovens negros e muitos jovens pobres não conseguiram ainda alcançar esses patamares, pelo menos para os cursos mais exigentes, como a Medicina, por exemplo.

Qual seria a solução, depois de 10 anos transcorridos? Aprimorar a formação básica, criar bolsas de auxílio para esses jovens , investir em reforço escolar – cursos preparatórios para Medicina, por exemplo – e formação de professores, além de ampliar mais ainda as políticas de distribuição de renda, buscando acelerar a diminuição do enorme fosso social existente, herança de séculos de descaso.

No entanto, esses esforços foram menores do que o necessário e o ensino médio, de uma maneira geral, piorou sua condição de aprendizado nos últimos dez anos. O governo, reiteradas vezes, prometeu reformas e avanços. Mas longe de ser suficiente.

A solução, nesse contexto, foi permitir a esses jovens ingressarem na universidade com um nível de aprendizado menor do que a própria UFPR propôs como referencia. Assim, efetivamente, dois tipos de estudantes ingressarão nos cursos de Medicina, por exemplo: uns, com notas de corte acima dos 60 acertos em 80. Outros, com notas que poderão ser apenas a metade dessas.

Assim, teremos mais negros no curso de Medicina? Sim. Isso é bom? Lógico.

Porém, isso é uma contribuição efetiva para melhorar o Ensino Médio e a Educação em nosso país?

Não.

 

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