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Para Habermas, o consenso é o “caminho” da verdade. Não a verdade objetiva dos racionalistas e dos empiristas , “mas as proposições validadas no processo argumentativo em que se alcança o consenso”. Para isso é preciso um discurso válido e coletivo.

E como obter esse “discurso válido e coletivo”?

A ação comunicativa proposta por Habermas volta-se contra a coerção e a arbitrariedade, propondo uma participação igual da comunidade nas questões que a envolve, como o melhor caminho para concretizar a ideia iluminista de justiça.

Para atingir esse fim, minha fala, nesse contexto, precisa ser ouvida e aceita. Para isso, afirma Habermas, precisa ser válida, correta, sincera e verdadeira. Mais do que isso: como minha fala pode ser questionada, problematizada, ela precisa ser então, nesses casos, argumentativa. Aí a fala se torna  discurso . Há algo assim, como descrito por Habermas, acontecendo nas escolas brasileiras? Há silêncio suficiente para que a palavra se instale? Há um “escutar” permanente e profundo para que as vozes se encontrem, debatam e gerem consensos? Há esse enraizamento democrático que só o diálogo permite? A discussão, que é a apresentação de argumentos para fortalecer as falas e delas tirar interseções aceitas coletivamente, é “entre iguais” no sentido do respeito e da abertura?

Não. Não há. Talvez nunca tenha havido, se considerarmos a escola em geral.

A violência é a negação do diálogo. É o vazio do pensamento, para resgatar uma expressão da pensadora alemã, Hannah Arendt.

E a violência se expressa de mil maneiras. As facadas, as pedradas, os tapas e xingamentos, são algumas dessas expressões.

E o que se deseja agora é acabar com a violência nas escolas? Como fazer?

Comecemos pelo silêncio. Um silêncio não de pesar ou de respeito pelas vítimas, pois que vítimas são todos, agressores e agredidos. Mas um silêncio de iniciação ao momento da fala. A fala que é redentora e única capaz de romper esse ciclo perverso e inaceitável. A fala democrática e inclusiva. Professores, ouçam! Pais, ouçam! Gestores, ouçam! Deixem as crianças e os jovens falarem! Proponham, cuidadosa e paulatinamente, os termos dessa convivência e aceitem as réplicas e tréplicas. Construam, construam pontes, pois a alternativa é o abismo em que nos encontramos. Não serão as proibições que libertarão as escolas da violência, mas o fim da violência das proibições sem justificativa e sem debate.

Não há maior pedido de ajuda que essas facadas desferidas brutalmente. Não há apelo maior para nós. Que a morte insana permita a reflexão profunda e urgente, uma abertura enfim para o que há de mais exclusivamente humano entre todas as criaturas vivas do planeta: o diálogo.

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