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Um pequeno grupo nos revela o vigor da obra
Um pequeno grupo nos revela o vigor da obra| Foto:

Carmina

Fundada em 1987 a orquestra Anima Eterna, sediada na histórica cidade de Bruges na Bélgica, se especializou em execuções de música clássica com instrumentos antigos, de época. Suas primeiras gravações foram elogiadíssimas integrais de sinfonias de Beethoven e Schubert. Seu fundador e atual maestro, o pianista belga Jos van Immerseel, depois de anos executando ao piano e regendo obras do século XVII e XVIII, passou a se interessar pela música do século XX. Suas leituras de obras de Debussy e Ravel, com a orquestra Anima Eterna, foram reveladoras, pois mesmo nestas obras os instrumentos autênticos foram procurados e utilizados. Depois de Mozart, Haydn, Beethoven, Schubert, Debussy, Ravel, chegou a vez de pesquisar a Carmina Burana de Carl Orff, uma das obras mais populares do repertório clássico. Obra baseada em textos medievais autênticos (você pode ler aqui mais sobre a obra), a maioria deles em latim, acabou se tornando a única partitura bem conhecida do autor. Na pesquisa Jos van Immerseel descobriu algo bem revelador: na estreia da obra, por pedido expresso do compositor, o coro e a orquestra utilizados eram bem menores do que se costuma usar hoje em dia (e que ele teria a sua disposição em Frankfurt). Nas execuções numa extensa turnê europeia no ano passado e na gravação em questão a orquestra se utiliza, por exemplo, de apenas 6 primeiros e 6 segundos violinos, como na estreia, e o coro não chega a 50 cantores. Foram procurados instrumentos de sopro utilizados na década de 1930 na Alemanha, e sobretudo foram eliminadas certas confusões estilísticas que em certos trechos levam erroneamente a música parecer ter sido escrita por Puccini ou por algum compositor de trilhas sonoras de Holywood. Coincidentemente na cidade sede da orquestra mora um grande amigo de Orff, Paul Hanouille, que orientou bastante a pesquisa. O resultado é uma clareza bem audível associada a um vigor excepcional. Considero excelente quando um cavalo de batalha como esta obra recebe uma leitura bem diferente. Carmina Burana nesta gravação foi realmente passada a limpo!

Um pequeno grupo nos revela o vigor da obra

Um pequeno grupo nos revela o vigor da obra

Intérpretes ideais

Para esta releitura o maestro Jos van Immerseel contou com interpretes excepcionais. O coro utilizado foi o Collegium vocale gent, especialista em música barroca, famoso por suas apresentações de cantatas e oratórios de Bach com o maestro Philippe Herreweghe. Os solistas são capazes de fugir de qualquer confusão estilística, sobretudo a excelente cantora coreana Yeree Suh, que afasta qualquer “operismo” da famosa seção “In trutina”. Soprano com registro super agudo, canta o ré no final de “Dulcissime” como ninguém. O excelente barítono alemão Thomas Bauer afasta o clima de ópera italiana na dificílima parte “Estuam interius” cantando com vigor numa estética muito mais adequada. O tenor belga Yves Saelens deixa bem claro os sofrimentos do cisne assado, cantando no registro super agudo da forma como o compositor pensou, sem as facilitações que se impuseram pelo modismo de executar a parte com contra tenor. Orff escreveu desta maneira!!! Por ter sido realizada ao vivo nos dias 18 e 20 de fevereiro de 2014 essa execução preserva toda a energia e a surpresa desta nova visão da obra. Este CD merece realmente ser conhecido.

Serviço:

Orff: Carmina Burana
Yeree Suh (soprano), Yves Saelens (tenor), Thomas Bauer (baritono)
Anima Eterna Brugge, Collegium vocale gent & Cantate Domino, Jos van Immerseel
Zig-Zag Territoires. No iTunes store pode ser baixada por U$9,99. Nas principais lojas de disco em torno de R$ 70,00.

Um vídeo (em flamengo com legendas em francês) sobre a turnê e sobre a gravação

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