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Ninguém nega que há muito a se aperfeiçoar no sistema político brasileiro, que vem de crise em crise capengando desde a proclamação da República até os dias de hoje. A questão não é fazer ou não fazer a reforma política, mas o que fazer! E aí parece que esbarramos em um problema insolúvel, porque quem vai definir o que precisa ser feito serão os mais afetados pelas mudanças, o grupo de pessoas com a menor credibilidade entre a população, as raposas velhas da política. Em um momento de nova e profunda crise institucional, resolveram desengavetar a reforma política, sob a justificativa de solucionar parte da crise. Só que, a essa altura do campeonato, o que quer o brasileiro é só pouquinho de estabilidade, além de manter o PT longe de suas pretensões eleitorais; e assim muitos optaram por fechar os olhos para as sem-vergonhices do governo Temer, em conchavo com sua base aliada na Câmara, tomando-o por “o mal menor” do momento. No “passa boi, passa boiada” que se tornou esse novo capítulo da política nacional, o Congresso parece ter perdido a inibição e está usando a reforma política como pretexto para espoliar mais um pouquinho o povo. Pretendem criar um “Fundo Especial de Financiamento da Democracia”, leia-se: Programa Bolsa Deputado, o financiamento público de campanha, proveniente de 2% da arrecadação do Imposto de Renda. Como disse Augusto Nunes, “O que está em curso na Câmara não é uma reforma política. É uma sucessão de bofetadas na cara da nação. É um assalto aos bolsos dos brasileiros tramado pelo clube dos cafajestes impunes.”

Michel Temer: ruim com ele
Michel Temer foi denunciado à Justiça por corrupção passiva, a mais grave acusação feita até hoje a um presidente no exercício do mandato. Ele claramente não é um líder carismático, não tem uma personalidade marcante, não é um homem de convicções firmes. O povo desaprova-o maciçamente: a esquerda trouxe-o de brinde com Dilma, e a direita não se identifica com ele, apenas o tolera – e não são todos. Que diabos ele ainda está fazendo na Presidência? Seu grande “trunfo” é ser “menos ruim” que sua predecessora. Mesmo assim, Temer continuará governando o país, impávido colosso, porque os brasileiros não estão saindo às ruas para pedir sua cabeça, o que deixa seus amiguinhos da Câmara mais à vontade para defendê-lo. “Amiguinhos”, na verdade, não é um termo muito preciso; “comparsas” talvez fosse mais adequado. Felippe Hermes conta-nos, neste artigo, que “R$ 17 bilhões foram destinados aos parlamentares por meio de emendas para serem gastos em obras de interesse em suas bases eleitorais”. Compra descarada de apoio para o não prosseguimento da denúncia contra Temer no STF. Hermes ainda lista 10 ações que Temer poderia ter realizado com essa verba.

Michel Temer: pior sem ele
Tudo o que disse acima é verdade. Mas vejamos agora outra perspectiva sobre a questão Temer. Percival Puggina – que também não é nenhum entusiasta do atual governo (quem é?) – enumera os acertos dessa gestão: “emenda constitucional que estabeleceu limite aos gastos públicos; reforma trabalhista e fim da sinecura sindical; afastamento de milhares de militantes a serviço de causas partidárias nos órgãos de Estado, governo e administração; inflação abaixo do centro da meta; investimento de R$ 1 bilhão no sistema prisional; reforma do ensino médio; redução de cinco pontos percentuais na taxa de juros; extinção de oito ministérios; e se alguém chegar com um espelhinho no nariz de dona Economia perceberá que ela, lentamente, volta a respirar”. De fato, o receio de perder tais conquistas e a ameaça do retorno de Lula, à espreita até que ele seja condenado em segunda instância, podem ter inibido a reação popular daqueles que saíram às ruas contra Dilma e o PT (os petistas, em compensação, estão mais histéricos que nunca com o “Fora, Temer”). É claro que os brasileiros desaprovam a corrupção em qualquer governo. Vemos isso pelas manifestações de apoio incondicional à Lava Jato, que não faz distinção de partido. Está lá Eduardo Cunha preso que não me deixa mentir. Mas o povo já está cansado, surrado, espoliado, e está aceitando pagar um preço alto por um pouco de estabilidade.

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