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(Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)
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(Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

(Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

O cidadão brasileiro experimenta um denso emaranhado de desafios que costuma ser difícil de explicar para quem não vive aqui. Estamos constantemente pressionados a assimilar mais e mais condicionantes que vão deixando a vida mais dura. O brasileiro está precisando viver melhor. Lavar a alma das pressões que o atormentam. Há uma demanda muito grande por mais tranquilidade de espírito, mais qualidade de vida. Uma demanda por valores que foram perdidos num caminho tortuoso do passado.

No entanto, é preciso haver a consciência de que as pressões que nos perseguem foram, em boa parte, criadas por nós mesmos, a partir de um conjunto infindável de concessões e subterfúgios que fizeram com o que o absurdo, o inaceitável, se tornasse lugar comum.

No campo ambiental temos uma tradição por demandar menos controle, menos exigências e menos responsabilidades para com o a proteção do Patrimônio Natural. Quaisquer negócios e oportunidades de gerar renda são mais importantes do que o meio ambiente razoavelmente conservado. Sob o argumento da necessidade de desenvolver, nos tornamos extrativistas céleres, garimpando a natureza muito além dos seus limites.

Continuamos avançando com desmatamentos e ampliando a degradação ambiental em todas as regiões do país. Recentemente, realizamos uma odisséia ainda mais perniciosa, com a descaracterização grosseira do Código Florestal Brasileiro, comemorado pela maioria do Congresso Nacional como uma conquista, um verdadeiro presente para a sociedade. E eleições são ganhas a partir do legado do afrouxamento das Leis Ambientais, consideradas um suplício para todos que querem produzir.

Mesmo sem representar fato novo, que esteja ocorrendo apenas neste momento da história como que por castigo dos céus, ficam cada vez mais evidenciados fenômenos naturais que nos maltratam sem nenhuma parcimônia. Como sempre, atingindo inicialmente os menos favorecidos, mas com uma tendência de gerar prejuízos, coletivos e crescentes, para bons e maus, grandes e pequenos, conscientes e salafrários. Todos apanham da natureza ao se estabelecer um grau de desequilíbrio além dos limites.

A falta e o excesso extremos são fenômenos típicos de desequilíbrios ambientais como os vivenciados nos últimos meses no Brasil. Condições tão atípicas que modificam para sempre padrões considerados perenes. Se não haverá mais água para abastecer São Paulo e o Paraná e Santa Catarina estão, literalmente, debaixo de água, essas são obras geradas por dezenas de anos de equívocos que, agora, se revelam com maior evidência e de forma violenta.

Estamos em meio a crises intensas que dão a medida da força da instabilidade do clima, em decorrência, dentre outros, de praticamente nenhum cuidado com a manutenção da biodiversidade em grau suficiente para evitar desastres, incalculáveis prejuízos sociais e econômicos e, assim, cair por terra a argumentação avarenta de que vale a pena avançar o sinal e destruir mais do que seja razoável.

É evidente que somos todos, em maior ou menor grau, culpados do que vem ocorrendo no Brasil. E no que diz respeito à conservação da natureza, insistimos em reverenciar os que têm conseguido garantir a ampliação da degradação ambiental, estimulando-os com nosso voto inconsciente e passividade para que continuem sua obra.

O teatro em curso apresenta um enorme entorno de falta de civilidade e bom senso, mas não há mais espaço para culpar a ignorância pelo mal feito, nem dos que afetam, nem dos que são afetados.

*Este artigo foi escrito por Clóvis Borges, diretor executivo da ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS, parceira do Instituto GRPCOM no Blog Giro Sustentável.

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